segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Personalidades - Otto Weidt

Filme exibido por TV alemã conta história de homem que salvou judeus do nazismo

  • ‘Herói cego’ se tornou espécie de um outro Schindler
Tony Paterson

“The blind hero”. Otto Weidt, atualmente comparado a Oskar Schindler
Foto: Museum Blindenwerkstatt Otto Weidt / Divulgação
“The blind hero”. Otto Weidt, atualmente comparado a Oskar Schindler Museum Blindenwerkstatt Otto Weidt / Divulgação
LONDRES — Um novo filme, que estreou no último domingo na televisão alemã, mostra a história do homem que, ao salvar judeus do nazismo, foi um outro Schindler. Otto Weidt, dono de uma fábrica de escovas em Berlim, escondeu empregados judeus da Gestapo e fez grandes esforços para salvar a mulher por quem havia se apaixonado.
No verão de 1944, um cartão-postal caiu nos trilhos de uma ferrovia, em algum lugar entre os campos de concentração de Theresienstadt e Auschwitz. Ele foi jogado pelas frestas do chão de um dos vagões sujos e abafados usados no transporte de pessoas para as câmaras de gás do Holocausto.
O cartão foi escrito por uma judia desesperada de 23 anos, chamada Alice Licht, que estava no trem da morte com toda a sua família. Milagrosamente, alguém encontrou o cartão nos trilhos e o enviou para o endereço de Otto Weidt.
Weidt havia sido chefe de Alice. Ao receber o cartão, ele partiu para Auschwitz, numa tentativa de persuadir as autoridades a libertarem a mulher e sua família. Mas, àquela altura, Alice havia sido transferida para outro campo, e o resto de sua família havia morrido.
Ainda assim, ele não desistiu de salvá-la. Weidt conseguiu entrar em contato com ela enquanto ainda estava sob custódia nazista. Ele arrumou uma casa segura perto do campo de concentração e planejou a fuga de Alice. A oportunidade surgiu meses após a moça ter sido enviada para Auschwitz. Em janeiro de 1945, enquanto o Exército Vermelho avançava em direção a Berlim, os nazistas começaram a evacuar seus campos na Europa oriental.
Esconderijo até 1945
Alice conseguiu fugir para a casa durante uma das caminhadas hoje conhecidas como “marchas da morte”. Centenas morreram nesses deslocamento forçados. Weidt manteve a ex-funcionária escondida até a derrota completa dos nazistas, em maio de 1945.
Alice foi apenas um caso entre as dúzias de judeus salvos por Otto Weidt. Na Alemanha, ele hoje é comparado ao seu contemporâneo mais famoso, Oskar Schindler, o dono de uma fábrica da Cracóvia imortalizado no filme “A lista de Schindler” (1993), de Steven Spielberg, e que também salvou judeus da morte. Mas o que torna a história de Weidt surpreendente é que ele era cego.
No domingo, o canal alemão ARD prestou o primeiro tributo ao herói, com o filme “The blind hero”, que tem base principalmente nas memórias de Inge Deutschkron, 92 anos, aclamada escritora judia que também foi salva por Weidt.
Primeiro, ele arrumou um emprego para ela. Então, escondeu a escritora e sua mãe em Berlim até o fim da guerra. Em seu elogiado livro “I wore the yellow star” (“Eu vesti a estrela amarela”, inédito no Brasil), Inge conta essa história.
“The blind hero” mostra como Weidt era ferrenho opositor do nazismo, detestando Hitler desde o primeiro momento. A maior parte dos judeus empregados por ele na fábrica também era cega. Inge Deutschkron lembra de Weidt como um mentiroso brilhante e um vigarista engenhoso, que usava esse talento para passar a perna nos nazistas. Ela era uma das poucas funcionárias dele que enxergavam e foi contratada em 1941, aos 19 anos, para trabalhar como telefonista.
Weidt deveria entregar toda a produção da fábrica para a máquina de guerra da Wehrmacht, o Exército alemão. Mas, como à época as escovas para cavalos eram um item valioso, Weidt preferia vendê-las em outros locais. A maior parte foi vendida no mercado negro de uma loja de departamentos.
O dinheiro ganho com as vendas ilegais servia para comprar itens de luxo, usados para subornar os oficiais da Gestapo. O industrial comprava engradados de champanhe, caixas de cigarros caros e perfumes “para senhoritas”, que oferecia aos asseclas de Hitler. A promessa de receber mais desses produtos fazia os nazistas deixarem Weidt e seus funcionários em paz.
A paixão por alice
Em 1943, os nazistas declararam que era a hora de Berlim tornar-se completamente livre de judeus. Weidt foi então forçado a encontrar locais para esconder seus funcionários até o fim da guerra. Nem todos escaparam dos campos de extermínio.
Um ano depois, o cartão-postal de Alice Licht chegou até Weidt. Ela não tinha conseguido escapar. Mas, como o filme revela, Weidt estava desesperadamente apaixonado por ela, apesar da diferença de idade entre os dois. Seus sentimentos explicam por que, posando de vendedor de escovas itinerante, ele correu risco ao tentar resgatá-la.
De volta a Berlim, Weidt a escondeu até o fim da guerra. Mas ela não permaneceu com ele por muito tempo. Alice emigrou para os Estados Unidos. Otto Weidt nunca a reencontrou. Ele morreu dois anos depois, em 1947.


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