segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Te Contei, não ? - A Criatividade e como acabar com ela

 

Rubens Queiroz de Almeida

Edição nº 11 - Agosto 2002
 
Na verdade o título deste artigo é um tanto quanto redundante. Se existe algo que nossa sociedade faz muito bem, da escola à universidade e daí para o mercado de trabalho, é sufocar a criatividade.
Criatividade diz respeito a criar coisas novas ou descobrir maneiras diferentes de fazer tarefas antigas. A pessoa criativa é considerada perigosa por muitos, porque elimina o conforto da estabilidade. Estabilidade, para um grande número de pessoas, significa segurança.
Eu me lembro de fato interessante que ocorreu em meu primeiro emprego como programador de computadores. Eu havia recebido a tarefa de aperfeiçoar um programa de computador, vital para o bom andamento das operações da empresa. Com as mudanças que fiz, o tempo de processamento dos dados caiu, de alguns dias para apenas umas poucas horas.
Quando a implantação final estava sendo programada, eu fui informado pelo chefe de operações que eu deveria ir embora e esquecer tudo. Conformado, juntei minhas coisas e fui me despedir do superintendente. Este, por sua vez, furioso, chamou o chefe de operações e reativou os trabalhos. Esta conversa eu não presenciei, mas certamente deve ter sido interessante.
O que o chefe de operações tentava preservar era a estabilidade. O novo, representado pelo conjunto de programas desenvolvidos, embora com resultados excelentes, representava uma ameaça à situação atual, onde tudo funcionava bem. Mais uma vez entrava em cena o velho ditado:
 
Em time que está ganhando não se mexe.
A pessoa criativa frequentemente é ridicularizada. No livro Idéias Criativas: Como Vencer Seus Bloqueios Mentais, de James L. Adams, encontra-se uma passagem bem ilustrativa deste fato.
 
Os inventores mais fantásticos que conheci confiavam plenamente em sua capacidade criativa, dependendo pouquíssimo do apoio dos outros. Certa vez trabalhei com um criador deste tipo. Bastava expor-lhe um problema para que ele saísse imediatamente com uma solução. Essas soluções costumavam ser tão mal pensadas que eu precisava me esforçar para não rir. Em seguida ele ia alegre e contente até o escritório do lado e recebia críticas que, se fossem dirigidas a mim, me deixariam deprimido por vários dias. Depois de incorporar a crítica à sua idéia, passava ao escritório seguinte. Desse modo ele literalmente construía uma solução, muitas vezes brilhante. Devia seu sucesso à capacidade que possuía em aceitar e incorporar críticas. Mas pessoas assim são raras.
O caso acima ilustra bem o que ocorre com freqüência em praticamente todos os lugares onde estudamos e trabalhamos. Infelizmente são poucas as pessoas que conseguem lidar com críticas negativas, incorporando-as às suas idéias e ganhando com isto.
A pessoa criativa geralmente é muito otimista e pensa que tudo pode ser feito facilmente. Já o pessimista pensa que nada vai dar certo, e é uma questão de tempo até tudo dar errado. Enxerga defeitos em tudo.
Entretanto, os dois são necessários. O otimista tende a ignorar os problemas e o pessimista pode ser uma ajuda valiosa neste caso, apontando as falhas. O gerente de bom senso deve empregar estes dois talentos com sabedoria. Nunca coloque o pessimista para trabalhar nas fases iniciais de um projeto. Ninguém vai conseguir sair do lugar. A hora de se chamar o pessimista é depois que a idéia já foi consolidada e o protótipo já está pronto.
Li recentemente sobre uma empresa que tomava cuidados para isolar o pessimista dos demais, neste caso um engenheiro de grande talento. Este engenheiro tinha uma sala privativa e não podia nem mesmo se encontrar com os projetistas antes da hora certa, para não contaminá-los com seu negativismo. Mas sua contribuição era fundamental, pois suas críticas contribuíam para eliminar falhas que poderiam comprometer o sucesso do projeto. Já ouviu a história, o otimista inventou o avião e o pessimista o para-quedas?
Não interprete as críticas às suas idéias como limitações pessoais. Se existe alguma coisa errada, o erro pode estar na idéia, mas nunca em nós mesmos. Idéias podem ser aperfeiçoadas mas se nos convencermos de que não somos criativos, que nunca conseguimos pensar em algo bom, o problema fica bem mais complicado. Encare as críticas tentando obter delas o que de bom elas contiverem e use-as para aperfeiçoar as suas idéias. Críticas destrutivas, que visam a destruir a sua auto-estima, devem ser ignoradas.
Muitas pessoas reclamam que não são criativas, que não conseguem ter idéias e assim por diante. Esquecem-se que a criatividade não é um raio luminoso que desce no céu, nos oferecendo soluções prontas. Thomas Edison fez mais de 10.000 experimentos até conseguir aperfeiçoar a sua lâmpada elétrica.
Igualmente importante, não somos todos iguais. Podemos desenvolver um nível de competência de bom nível em praticamente todas as atividades em que nos envolvermos, desde que para isto estejamos motivados. Existem algumas áreas, entretanto, em que possuimos um potencial maior. Se nos dedicarmos a desenvolver nossas habilidades naturais certamente teremos resultados excelentes.
A criatividade, e isto já foi provado cientificamente em diversos estudos, pode ser desenvolvida. Não é um presente divino que apenas alguns poucos recebem.
Não se esqueça, e isto também já foi provado cientificamente, os otimistas e criativos são pessoas mais saudáveis, vivem mais e melhor, e são mais prósperas.
A criatividade é um assunto amplo e apaixonante. Gostaria de recomendar dois livros excelentes sobre o assunto, ambos traduzidos para o português. O primeiro deles chama-se Idéias Criativas: Como Vencer Seus Bloqueios Mentais, escrito por James L. Adams, Ediouro e o segundo é o Espírito Criativo, de autoria de Daniel Goleman, Paul Kaufman e Michael Ray, Editora Cultrix. Para mais recomendações de livros veja a bibliografia em nosso site (http://www.idph.net/bibliografia).
Para encerrar, gostaria de citar alguns casos famosos de erros de julgamento quanto a produtos e idéias de sucesso. Felizmente para nós os criadores destas idéias seguiram em frente e marcaram o mundo com seus feitos.
 
  • O cavalo está aqui para ficar, porém o automóvel é apenas uma novidade - uma moda passageira
    Presidente do Michigan Savings Bank, aconselhando o advogado de Henry Ford a não investir na Ford Motor Company
     
  • Máquinas voadoras mais pesadas do que o ar são impossíveis.
    Lord Kelvin, 1885
     
  • A televisão não será capaz de manter nenhum mercado que conseguir após os primeiros seis meses. As pessoas logo se cansarão de olhar para uma caixa de madeira compensada toda noite.
    Daryl F. Zanuck, presidente do estúdio de cinema 20th Century Fox, comentando, em 1946, sobre a televisão.
     
  • Tudo o que pode ser inventado já foi inventado.
    Charles H. Duell, comissário do U.S. Office of Patents, num relatório em 1899 para o Presidente McKinley - argumentando que o escritório de patentes deveria ser abolido.
     
  • Quem é que quer ouvir os atores falarem?
    Harry M. Warner, presidente da Warner Bros. Pictures, em 1927.
     
  • Este tal de telefone tem muitas deficiências para ser levado a sério como um meio de comunicação. Este dispositivo não tem nenhum valor para nós.
    Western Union internal memo, 1876
     
  • O conceito é interessante e bem formulado, mas para conseguir uma nota melhor do que C, a idéia precisa ser viável.
    Avaliação de um professor da Universidade de Yale em resposta a
    um trabalho de Fred Smith propondo um serviço de entregas rápido. Fred Smith é o fundador da Federal Express.
     
  • O Professor Goddard não sabe a relação entre ação e reação e a necessidade de se ter algo melhor do que o vácuo contra o qual reagir. Parece que ele não tem o conhecimento básico ensinado diariamente nas escolas de nível médio.
    Editorial, de 1921, do jornal New York Times sobre o trabalho revolucionário de Roberto Godddard sobre propulsão com foguetes
     
  • Se eu tivesse pensado sobre isto, eu não teria feito o experimento. A literatura está cheio de exemplos que dizem que você não pode fazer isto.
    Spencer Silver sobre o trabalho que o conduziu à descoberta dos adesivos "Post-It"
     
  • O abdomen, o peito e o cérebro estarão para sempre fechados à intrusão do cirurgião humano.
    Sir John Eric Ericksen, Cirurgião Britânico da Rainha Vitória
     
  • A teoria dos germes de Louis Pasteur é uma ridícula ficção.
    Pierre Pachet, Professor de Fisiologia
     
  • Nós não gostamos do som deles, e música de guitarra está fora de moda.
    Decca Recording Co. ao rejeitar os Beatles em 1962
     
  • Aviões são brinquedos interessantes, mas não possuem nenhum valor militar.
    Marechal Ferdinand Foch, Professor de Estratégia, Escola Superior de Guerra
     
  • 640K são mais do que suficientes para as necessidades de qualquer pessoa.
    Bill Gates, 1981

Referências Adicionais

Referências adicionais sobre os assuntos abordados neste site podem ser encontradas em nossa Bibliografia

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