Profissão de Fé
Invejo o
ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que êle, em ouro, o alto-relêvo
Faz de uma flor.
Imito o amor
Com que êle, em ouro, o alto-relêvo
Faz de uma flor.
Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O onix prefiro.
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O onix prefiro.
Por isso, corre, por servir-me,
Sôbre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.
Sôbre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.
Corre; desenha, enfeita a imagem,
A idéia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla ropagem
Azul celeste.
A idéia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla ropagem
Azul celeste.
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:
E que o lavor do verso, acaso,
Por tão sutil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
De Becerril.
Por tão sutil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
De Becerril.
E horas sem conto passo, mudo,
A olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento.
A olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento.
Porque o escrever --tanta perícia,
Tanta requer,
Que ofício tal... nem há notícia
De outro qualquer.
Tanta requer,
Que ofício tal... nem há notícia
De outro qualquer.
Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!
Olavo Bilac
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