terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Tá na Hora do Poeta - Profissão de Fé

Profissão de Fé
 
Invejo o
ourives quando escrevo:
     Imito o amor
Com que êle, em ouro, o alto-relêvo
     Faz de uma flor.

Imito-o. E, pois, nem de Carrara
     A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
     O onix prefiro.
Por isso, corre, por servir-me,
     Sôbre o papel
A pena, como em prata firme
     Corre o cinzel.
Corre; desenha, enfeita a imagem,
     A idéia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla ropagem
     Azul celeste.
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
     Como um rubim.
Quero que a estrofe cristalina,
     Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
     Sem um defeito:
E que o lavor do verso, acaso,
     Por tão sutil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
     De Becerril.
E horas sem conto passo, mudo,
     A olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
     O pensamento.
Porque o escrever --tanta perícia,
     Tanta requer,
Que ofício tal... nem há notícia
     De outro qualquer.
Assim procedo. Minha pena
     Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
     Serena Forma!
 
Olavo Bilac

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