sábado, 11 de janeiro de 2014

Tá na Hora do Poeta - Maturitate


 
 
Maturitate

 

Depois de 52 anos

É feito entrar num estado de calmaria

Revestido de um queria

E não queria.

É acordar agoniado,

Pois passa muito rápido,

Gestando poesia.

É ser clarividente

Ao constatar

Que de nada adianta planejar

O que a inexorável força do debochado destino

Vem e replaneja, recria,

Toda hora, toda noite, todo dia.

É sentir das entranhas

Jorrar a imponência da fé

Na qual antes nem tanto se cria.

 

 

 

Depois de 52 anos

É intuir que essa mesma crença

Hoje é suporte, alento, o norte,

Alivia.

É inutilmente

Tentar enlaçar,

Conter,

Dominar,

Prender

O sentimento.

É ver a lucidez da maturidade

Dada, no livro da vida, pelo número de páginas de idade.

É boiar desesperadamente

Pelo mar tenebroso da alma adentro

Segurando firme pessoas, sensações, momentos.

É de repente se pegar chorando

Feito menino inocente,

Sem estratagema,

Banho tomado,

Cheirando a alfazema,

Pois tudo se foi com a impassível força do vento

Que tudo destrói.

Mas é também sabiamente compreender

Que tudo, tudo com o mestre Tempo se corrói.

 

Depois dos 52 anos é ironicamente entender

Que de nada valeu

Viver,

Experimentar,

Sentir,

Agoniar

E maturar

Na hora da cria, dada pelos deuses, criar.

É de se ter muito jogo de cintura

A fim de se conviver

Com a hipocrisia das relações

Que a impaciência quase não atura.

É ainda não saber dissimular,

É não ter mais freio,

De uma genuína franqueza usar e abusar,

Até magoar

E não mais suster a intolerância

Na hora de jogar as cartas na mesa.

 

Depois  de 52 anos

É sim ainda perseguir a competência

E de vez em quando

Arder na cama com um pouquinho de indecência

Sem ser vândalo,

Sem chegar ao escândalo.

É já não mais entender a profissão

Como uma missão,

Mas ter a coragem de vê – la

Como uma sublime mensagem.

 

Depois de 52 anos,

Meu amigo,

Urgente é continuar escrevendo o livro da vida

Sem, nas atitudes, pequenez,

Sem, no sorriso pra vida,  mesquinhez,

Mas de desejos, sempre,  cheio de embriaguês

Para melhor chegar à página dos 53.

 

José Henrique da Silva

11 de janeiro de 2014.

2 comentários:

  1. Seu poema me fez pensar sobre o que é a maturidade, hoje na adolescência não havia parado para refletir. Rapidamente, entrei num túnel do tempo me imaginando nesta idade. Parabéns pela ''viagem'' que me proporcionou. Adorei!
    Ingrid Maia Nanjara - 802

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  2. Seu poema me fez pensar, refletir e analisar a vida do jeito que ela é... pouco duradouro é a vida da gente.
    Ana Carolina Gomes-802

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