segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Crônica do Dia - O melhor dos mundos

Zuenir Ventura, O Globo
 
 
 
Engana-se quem acha que o Maranhão vai mal. Pelo jeito, o fato de ser o estado mais pobre da Federação, de estar sob o domínio de facções criminosas, de ostentar ações terroristas que queimam crianças e de ter um sistema carcerário em que detentos assassinam detentos (no ano passado foram 60 e este já foram três), não quer dizer nada.

É ao menos o que afirmou a governadora Roseana Sarney diante do ministro da Justiça, que fora lá para discutir um plano de emergência contra a crise: “O Maranhão está indo muito bem”, garantiu, falando sério. Se há violência, se há um problema de segurança, é porque o estado “está mais rico”, acrescentou.
Portanto, errados estão a ONU, que denunciou violação dos direitos humanos, e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que quer pedir a intervenção federal no estado. Só esse alarmismo levou Roseana a suspender a licitação da compra de alimentos indispensáveis na despensa do seu Palácio e da sua casa de praia. Vai ser um problema.
Como governar sem os 80 quilos de lagosta fresca, os 180 quilos de salmão fresco e defumado, sem os 120 quilos de bacalhau do Porto e sem os 750 quilos de patinhas de caranguejo?
A oposição pode alegar que os milhares de reais gastos nessas compras (só de camarões seriam mais de R$ 100 mil, de sorvetes, R$ 55 mil pelos 950 quilos e mais de R$ 1 milhão por bebidas e canapês de caviar para a Casa Civil) poderiam ser destinados a outros fins mais nobres. Daqui a pouco vão querer que a governadora sacrifique seu fino paladar comendo arroz de cuxá e bolo de macaxeira.
 
Roseana Sarney, governadora do Maranhão. Foto: Karlos Geromy
 
Ponto para a Polícia, que, agindo com inteligência, identificou os vândalos que picharam a estátua de Drummond, mesmo dispondo de poucas pistas, já que as imagens captadas por câmeras de segurança não tinham muita nitidez (da mulher, não aparecia nem o rosto; do homem, o capuz dificultava o reconhecimento). Descobertos por meio de um competente trabalho de investigação, acabaram se entregando. Ele, primeiro, e ela, dias depois.
A desculpa do casal foi a mesma: “depressão” (o advogado podia tê-los orientado para uma defesa menos cínica e mais criativa). A dele teria sido por causa da morte do pai e a dela porque diz sentir-se assim em datas especiais. A polícia não informou se a mulher, que é portadora de uma ficha criminal que inclui um homicídio, uma tentativa de homicídio e lesão corporal, usou a mesma alegação para esses crimes.
Agora, resta à Justiça fazer sua parte, reservando ao caso uma punição exemplar. Que tal, além de prisão e multa, impor aos dois, como pena alternativa, a tarefa de limpar pichações de paredes, muros e monumentos da cidade? Dizem que essa, sim, é uma terapia eficaz contra esse tipo de “depressão”.
 
Zuenir Ventura é jornalista.

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