terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Crônica do Dia - Um "rolé" na Educação

Fábio Pereira Ribeiro
 
 
O maior medo que tenho, além da crescente violência, é tratar assunto sério e social com cunho político partidário. O caso do “rolezinho” que se iniciou no bairro paulistano da Zona Leste, Itaquera, na verdade expõe situações que já são históricas e conhecidas das feridas e necessidades sociais do cidadão brasileiro, mas que de alguma forma, os governos e políticos insistem em não atacar com firmeza e seriedade, salvo no período de eleições, como agora em 2014.

 
Nesta semana avaliei uma série de posições, da imprensa, dos políticos, da turma do “rolê” que só quer beijar e dançar, dos utópicos de plantão, das juventudes neo nazistas partidárias, de ministros perdidos no mundo de “Bob”, entre outras personalidades, como diria Rodrigo Constantino, “da esquerda caviar”.
Mas quando avaliamos o contexto puro, além do lazer do “rolê”, que por sinal diariamente o principal lazer do paulistano, independente de cor, credo, classe econômica, é o “rolê” no Shopping, as consequências dos atos, que de alguma forma podem gerar violência, intolerância, ou até mesmo racismo, está no fato da educação brasileira viver uma tragédia mais do que anunciada.

No dia 13 de janeiro, Gustavo Ioschpe, publicou em sua coluna na Veja, um texto interessante que representa muito este problema social, “o não ataque frontal às falhas na educação, e menos é bom”. No Brasil, a síndrome do “excelente é inimigo do bom” parece imperar.
O texto de Gustavo Ioschpe é bem sugestivo, “Por que não falar a verdade, ministro?”, e pode ser lido no link http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/por-que-nao-falar-a-verdade-ministro.
Mas considerando o momento atual dos “rolezinhos” e do fechamento de duas universidades no Rio de Janeiro, sem contar as cabeças rolantes no rico Estado do Maranhão, precisamos refletir mais nas atitudes dos ministros brasileiros, e principalmente em suas reais intenções e políticas.
Abaixo uma parte do texto que me chama muita atenção, e nos faz refletir o quanto o processo perdeu o rumo:
“Em dezembro, foram divulgados os resultados do Pisa, o mais importante teste de qualidade da educação do mundo, realizado a cada três anos com alunos de 15 anos. Como vem ocorrendo desde a primeira edição, no ano 2000, os resultados do Brasil foram péssimos. Ficamos em 58º lugar em matemática, 59º em ciências e 55º em leitura, entre os 65 países que participaram. Caímos no ranking nas três áreas, em relação à prova anterior. Como já havia acontecido em edições passadas, nem nossa elite se salvou: os 25% mais ricos entre os alunos brasileiros tiveram desempenho pior que os 25% mais pobres dos países desenvolvidos (437 pontos versus 452 pontos em matemática).
A Alemanha, assim como o Brasil, também participa do Pisa desde 2000. Quando os resultados daquele ano foram divulgados, os alemães descobriram que o país de Goethe, Hegel e Weber tinha ficado em 21º lugar entre os 31 participantes daquela edição, abaixo da média dos países da OCDE. Os dados caíram como uma bomba. A presidente da Comissão de Educação do Parlamento alemão disse que os resultados eram uma “tragédia para a educação alemã”. ADer Spiegel, a mais importante revista do país, refletiu a tragédia com a seguinte manchete na capa: “Os alunos alemães são burros?”. O alvoroço levou inclusive à criação de um game show na TV alemã.
No dia do anúncio dos resultados da última edição do Pisa, a reação brasileira foi bem diferente. Nosso ministro da Educação, Aloizio Mercadante, convocou uma coletiva de imprensa para declarar que o Pisa era uma “grande vitória” da educação brasileira e um sinal de que “estamos no caminho certo” (rumo ao fundo do poço?). Recorreu à mesma cantilena de seu antecessor, Fernando Haddad: “A foto é ruim, mas o filme é muito bom”. Ou seja, a situação atual ainda não é boa, mas o que importa é a evolução dos resultados. E nesse quesito Mercadante fez um corte bastante particular dos resultados (focando apenas matemática, e só de 2003 para cá) para afirmar que o Brasil era “o primeiro aluno da sala”, o país que mais havia evoluído. Sem mencionar, é claro, que evoluímos tanto porque partimos de uma base baixíssima. Quando se parte de quase nada, qualquer pitoco é um salto enorme.
Essas reações são tão previsíveis que escrevi um artigo, disponível em Veja.com, um dia antes da fala do ministro, não só prevendo o teor da resposta como até o recurso à sétima arte (todos os links disponíveis em twitter.com/gioschpe). Mas, apesar de esperada, a resposta do ministro me causa perplexidade e espanto. Ela é muito negativa para o futuro da educação brasileira.
Eis o motivo da minha perplexidade: Mercadante e seu MEC não administram as escolas em que estudam nossos alunos de 15 anos. Dos mais de 50 milhões de estudantes da nossa educação básica, mero 0,5% está na rede federal. No Brasil, a responsabilidade por alunos do ensino médio é fundamentalmente de estados (85% da matrícula) e da iniciativa privada (13%). O MEC administra as universidades federais e cria alguns balizamentos para a educação básica, além de pilotar programas de reforço orçamentário para questões como transporte e merenda escolar, entre outras funções. A tarefa de construir as escolas, contratar e treinar os professores e estruturar o sistema é dos estados. No ensino fundamental, dos municípios. Portanto, os resultados do Pisa não representam um atestado de incompetência do Ministério da Educação. A maior parte da responsabilidade está certamente com estados e municípios. Além do mais, a tolerância do brasileiro para indicadores medíocres na área educacional é sabida e, ao contrário da Alemanha em 2000, não havia nenhuma expectativa de que tivéssemos um desempenho estelar no Pisa. Por que, então, o ministro não pode vir a público e dizer a verdade: que nossa situação é desastrosa, e que enquanto não melhorarmos a qualidade do nosso ensino continuaremos a chafurdar no pântano do subdesenvolvimento e da desigualdade? Não haveria custo político para Mercadante nem para o PT, já que o problema da nossa educação vem de antes da era lulista, e estados administrados por partidos de oposição tiveram resultados tão ruins quanto os da situação. Até entendo que seu antecessor se valesse dessa patacoada, pois teve uma gestão sofrível e era um neófito político em busca de divulgação, mas Mercadante já é um político consagrado e está fazendo uma boa gestão, a melhor da era petista; não precisa disso.
Antes que os patrulheiros venham com suas pedras, eu me adianto: o ministro não mentiu em suas declarações, apenas tapou o sol com a peneira. Fez uma seleção de dados destinada a conferir uma pátina brilhante a um cenário que na verdade é calamitoso. E esse malabarismo político, longe de ser apenas mera questão de conveniência pessoal, é muito ruim para o país.” (Gustavo Ioschpe – Veja – 13/01/2014)
A forma trabalhada em um país tão desprovido de educação e conhecimento como o Brasil, chega ao mínimo do nefasto. E para piorar o “rolê”, a Ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros,  simplesmente alimenta a intolerância para garantir votos em 2014 com a seguinte afirmação ao Jornal Folha de São Paulo: “problemas dos “rolezinhos” decorrem da reação de clientes brancos que se assustam com os jovens”. Eu me pergunto, será que a Ministra quer colocar gasolina de aviação na fogueira? Eu particularmente me senti atacado pelo preconceito da ministra. Será que a ministra conhece o bairro de Itaquera?

Só para lembrar Ministra, que os “rolezinhos” começaram em Itaquera, bairro de classe média baixa e pobre na Zona Leste de São Paulo, o mesmo bairro ao lado do meu querido bairro de infância, Parada XV. O mesmo bairro que graças a minha família e educação e consegui dar o meu “rolê” no mundo. A afirmação preconceituosa e racista da Ministra, demonstra a falta de preocupação real com os problemas do Brasil. Se a mesma tivesse o bom senso de analisar as imagens, iria perceber o quanto de cidadãos brasileiros pardos, negros e brancos estavam juntos almoçando, principalmente pardos, assim, os mesmos não foram bloqueados por cor. Na verdade a ministra por falta de informação, de seu gabinete com ar condicionado de Brasília, conseguiu incitar o racismo e não a igualdade. Se a ministrar avaliar a população na periferia da Zona Leste de São Paulo, entenderá que muitas famílias foram formadas através dos imigrantes pobres vindos da Europa e das Fazendas do interior de São Paulo para tentar a vida na cidade grande. Tratar o “rolezinho” desta forma é desrespeitar a história.
A vitimização que acontece no Brasil chega ao extremo. Analisando os depoimentos dos organizadores dos “rolezinhos”, os mesmos não imaginavam a repercussão, e nem a preocupação da população tão amedrontada com a violência. Os mesmos “só queriam beijar e comer sanduíche” no Shopping. Mas a turma da política aproveita o momento para potencializar o marketing político. Tem até ministro afirmando em “Apartheid”. Pelo amor de DEUS. Vá para a África sentir preconceito. Já chega o absurdo de João Paulo Cunha em se comparar a Mandela.
Rolezinho
Mas a grande questão, que o governo insiste em não atacar, por quê o “rolê” não acontece na educação? Por quê não existe o “rolê” do museu? Ou melhor, o “rolê” da biblioteca? Os políticos chamaram os participantes de pobres da periferia, mas não analisaram o quanto os mesmos adoram gastar seu dinheiro em bonés, calçados, vestuário, “funk” e outras coisas que fazem a moda do “rolê”, sem contar o tempo gasto no Facebook e todas as redes sociais, menos o tempo gasto na educação. Se conversarmos com qualquer professor do ensino básico, médio e superior lá em Itaquera, ou qualquer bairro de periferia, perceberemos que a escola é o último lugar do “rolê”, sem contar que o único “rolê” que acontece é para a fazer a “função” (quem for de Itaquera vai entender).
A educação brasileira “patinha”. Existem excelentes idéias e políticas sérias para o desenvolvimento da educação, mas parece que nossas políticas atendem uma parcela da sociedade como se fossemos o Uruguay. Veja o exemplo do programa Ciência sem Fronteiras. O programa é bom, tem foco, mas tem uma série de barreiras para avançar, e atende uma pequena parcela.
O Brasil já passou por muitos erros, por quê insiste em continuar nos mesmos erros? Nós somos o país do projeto de 4 anos? E o pior, os políticos brasileiros que são “santos iluminados” no período de eleição, na verdade pensam que o país é um acumulado de gente que consome ferozmente e não se fortalece enquanto nação, e ao mesmo tempo cria o ambiente ideal para que a política sugue todos os dias, as parcas gotas de sangue que correm em suas veias.
Eu ainda defendo o “rolezinho”, mas nas universidades, escolas, bibliotecas, museus, parques, centro culturais, até mesmo em igrejas. Nos “shopping centers” é um erro, dá polícia, dá político pilantra aproveitando o momento, dá margem para o racismo, entre outras “cositas mas“.
Mas se o “rolezinho” não acontecer assim, que tal ler um livro? Pelo menos sobre a história do bairro de Itaquera.

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