domingo, 9 de outubro de 2011

Importante Saber - SEJA OTIMISTA, MAS NÃO TANTO

Por Alina Tugend, The New York Times News Service/Syndicate



Tenho problemas com otimismo. Gostaria de ser uma pessoa mais otimista, e às vezes posso ser. Mas existe uma longa tradição de pessimismo na minha família; nossas atitudes sustentam que olhar pelo lado bom ou esperar o melhor é no mínimo inocência, ou até idiotice.

Mas a sociedade parece valorizar o otimismo. Com quem você gostaria de conversar – o Ursinho Pooh (''Ninguém deixa de se animar com um balão’') ou com o Bisonho (''Boa tarde... se é que a tarde é boa, o que eu duvido’')?

No entanto, estamos vivendo em uma época que torna difícil que nos prendamos ao lado Pooh. Uma pesquisa da Thomson Reuters e da Universidade de Michigan descobriu que as expectativas dos americanos sobre a economia eram as mais baixas em três décadas e que apenas 17 por cento dos entrevistados esperavam uma melhoria em suas finanças.

Mas colocando de lado a realidade da economia, será que é bom ver através de óculos cor-de-rosa? À medida que economistas, neurocientistas e psicólogos estudam o que queremos dizer com otimismo e como ele afeta tudo, do nosso emprego a nossos investimentos, passando pelo casamento, eles estão descobrindo que existe, sim, um limite para o otimismo.


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Primeiro, muitos de nós temos uma ideia errada sobre otimismo. Não se trata apenas – ou em grande parte – de repetir ''frases de autoajuda para nós mesmos, como 'Cada dia sou uma pessoa melhor’'', como Martin Seligman, diretor do Positive Psychology Center da Universidade da Pensilvânia, escreveu em seu livro 'The Optimistic Child’ (Houghton Mifflin, 1995). Em vez disso, ''a base do otimismo não reside em frases positivas ou imagens de vitória, mas na forma como se pensa nas causas’'.

Assim, um pessimista tende a acreditar que as coisas ruins são permanentes, enquanto um otimista vê o mesmo problema como temporário, como ele observa. É tão simples e vasto como a diferença entre essas duas visões de mundo: ''João me odeia e nunca mais vai sair comigo’' e ''João está bravo comigo hoje e não vai sair comigo’'. O otimista vê o desentendimento com João como transitório, enquanto o pessimista está certo de que ele nunca vai acabar, escreveu Seligman, que há muito tempo estuda o assunto.

E se algo é visto como permanente, não existe esperança de mudança.

Mas quando coisas boas acontecem, os pessimistas e os otimistas trocam de posição. ''Quando crianças que acreditam que seu sucesso possui causas permanentes se saem bem, elas tentam se esforçar ainda mais da próxima vez’', escreveu Seligman. ''As crianças que veem razões temporárias para eventos bons podem desistir mesmo quando se saem bem, acreditando que seu sucesso foi um golpe de sorte’'.

Assim como a maioria dos traços, a forma como enxergamos nossas vidas – de forma otimista ou pessimista, ou meio-termo – é uma combinação do temperamento com que nascemos e o ambiente em que crescemos. O quanto podemos mudar isso sempre é tema de debate, mas, como escreveu Seligman, ele acredita que o otimismo pode ser ensinado.


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Entretanto, é bom não exagerar. Manju Puri, professor de finanças, e David T. Robinson, professor de administração de empresas, ambos da Fuqua School of Business da Universidade Duke, determinaram que, embora o otimismo moderado seja bom, o extremo otimismo não é.

Em seu artigo 'Optimism and Economic Choice’, que apareceu em The Journal of Financial Economics em 2007, Puri e Robinson usaram estatísticas da Federal Reserve Board Survey of Consumer Finances, uma avaliação trienal de informações financeiras e demográficas de milhares de famílias americanas.

Embora a pesquisa não pergunte diretamente sobre o otimismo, ela pergunta aos entrevistados sobre quanto tempo eles esperam viver. Os professores usaram, então, informações relacionadas à saúde e dados demográficos para determinar qual seria a verdadeira expectativa de vida dos entrevistados.

Os que previram que viveriam 20 anos a mais do que as expectativas estatísticas foram considerados 'otimistas extremos’, na categoria dos 5 por cento mais otimistas.

Os que previram que viveriam mais do que as estatísticas preveem provavelmente também responderam mais positivamente a questões como a melhora na economia.

''Os otimistas extremos não acham bom poupar, não pagam o cartão de crédito e não fazem planejamento de longo prazo’', disse Puri. ''Eles sempre acham que a economia vai melhorar’'.

Eles também têm mais probabilidade de se casar novamente após um divórcio.

Os otimistas moderados, por outro lado, trabalham mais, poupam mais e têm maior tendência a pagar suas faturas de cartão de crédito e acreditar que sua renda irá aumentar nos próximos cinco anos. O estudo foi publicado antes da recessão, disse Robinson, então alguns desses otimistas podem ter menos crença no futuro agora.

Os otimistas extremos e os pessimistas extremos podem operar da mesma forma, embora por motivos diferentes, ele disse. Os otimistas extremos podem ter uma crença exagerada de que no futuro as coisas vão dar certo, então eles não precisam se preocupar com uma rede de segurança; enquanto os pessimistas podem acreditar que a partir de agora as coisas descem ladeira abaixo, então por que se preparar para o futuro?

Estudos mostram que bons advogados tendem a enxergar o lado pessimista das coisas, afirmou Robinson, talvez porque eles sempre têm de pensar sobre o que pode dar errado.

Mas o otimismo serve melhor àqueles com formação em negócios, conta o pesquisador. Robinson foi coautor de outro estudo com estudantes de administração da Duke, que descobriu que aqueles mais otimistas – embora eles não necessariamente tivessem notas melhores – tendiam a ter menos dificuldades em procurar um emprego, conseguir um emprego e a receber promoção dois anos depois de começar um novo trabalho.

As diferenças entre otimistas e pessimistas podem parecer mais óbvias quando se espera por algo importante – por exemplo, o resultado de uma prova, um exame médico ou uma entrevista de emprego.

Ao contrário do que podia se imaginar, pode não ser uma boa ideia ficar otimista demais antes de receber o resultado. Kate Sweeny, professora assistente de psicologia da Universidade da Califórnia, em Riverside, escreveu um estudo que analisou 77 estudantes que estavam prestes a saber sobre suas notas em seu primeiro exame do ano. Os que previram uma nota A ficaram mais decepcionados ao receber um B do que aqueles que esperavam C e tiraram C, disse Sweeny. Ela disse que seu trabalho ajuda a tentar descobrir como as pessoas devem tentar administrar suas emoções durante períodos de espera.

''Se o período de espera for longo, como um ano ou seis meses, o otimismo pode não ser uma má ideia’', ela contou. ''Mas conforme o momento se aproxima, a ansiedade aumenta e pode não ser uma má ideia diminuir as expectativas’'.

Embora o motivo não esteja claro, a pesquisa mostrou que a maioria das pessoas possui uma tendência otimista, afirmou Elizabeth Phelps, professora de psicologia e neurociência da Universidade de Nova York.

Pergunte a um grupo de alunos quantos pensam que irão se casar, por exemplo, e uma ampla maioria vai levantar a mão, ela disse. Pergunte quantos acham que vão se divorciar e muito menos de 50 por cento responde afirmativamente – apesar do fato de que cerca de metade dos casamentos terminam em divórcio.

Em contraste, a depressão está relacionada a uma perspectiva mais pessimista, que, segundo Phelps, ''às vezes é uma avaliação mais precisa da probabilidade de eventos futuros’'.

Os especialistas estão tentando descobrir se existem formas biológicas de aumentar ou diminuir o otimismo. Enquanto isso, nós, pessimistas, teremos de aprender a aliviar um pouco (mas não muito) e depender de métodos tradicionais para nos sentirmos melhores em relação à vida – chocolate e um bom vinho.

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