A África novamente é notícia. Não para falar da fome, das guerras, das campanhas humanitárias ou das revoluções inacabadas. Também não é a intolerância contra as religiões de matriz africana que está em pauta, muito menos sua fauna, flora ou a grandiosa diversidade étnica, linguística e cultural que estão questão.
A notícia agora é a beleza, a delicadeza, o encanto da jovem angolana Leila Lopes, de 25 anos, que desbancou dezenas de candidatas favoritíssimas à Miss Universo... Sim, favoritíssimas. Afinal, a maioria de suas concorrentes tinha como vantagem extra aquilo que, no último século, o Ocidente consagrou como padrão estético de beleza humana: a cor branca da pele.
O rosto negro de Leila Lopes estampado em milhares de publicações mundo afora se juntou a um pequeno grupo que, nos últimos 100 anos, ultrapassou a barreira do padrão estético de beleza, de poder, de afirmação, liderança e saber, veiculados diariamente na mídia global como padrão branco ocidental estabelecido.
A primeira face negra a romper esta barreira de forma positiva nasceu em 23 de outubro de 1940, no maior país negro fora da África e último a se livrar de uma das maiores tragédias e vergonhas da história da humanidade, que foi a escravidão negra: Edson Arantes do Nascimento, Pelé, que, por décadas, tem sido um dos rostos mais conhecidos do planeta e maior garoto-propaganda que se tem notícia, ultrapassando hoje até mesmo a barreira da idade imposta por este mercado.
"LEILA LOPES JUNTA SE A OUTRAS FACES NEGRAS QUE ATUALMENTE TÊM TORNADO A HUMANIDADE MAIS IGUAL, MAIS DIVERSA E MENOS RACISTA, COMO BARACK E MICHELE OBAMA"
O século 20 não reservou apenas ao esportista rei do futebol a responsabilidade de mostrar que a genialidade e, consequentemente, a visibilidade global não era privilégio apenas de uma etnia. Foi no continente africano e também naquele século que nasceu um dos rostos mais conhecidos do planeta, aclamado como o estadista do século, passando 27 anos na prisão por lutar contra a opressão de seu povo e depois tornando-se presidente da república de seu país. Nelson Mandela é seguramente uma das faces mais conhecidas e respeitadas do planeta, queira ou não o padrão estético branco estabelecido.
Leila Lopes junta-se a outras faces negras que atualmente têm tornado a humanidade mais igual, mais diversa e menos racista, como Barack e Michele Obama. A africana é mais uma a romper com o sistema excludente de um grupo eurocêntrico que expõe seu racismo secular até mesmo ao demonstrar surpresa com a vitória de uma negra eleita Miss Universo, ou, com a vitória de um negro à presidência da república dos Estados Unidos. Notícias tratadas com grande alarde, deixando claro que alguma coisa estranha, errada ou diferente do que costumamos ver como "normal" ou habitual, está acontecendo.
Os comentários no Brasil, palco da final do concurso, não fugiram daquilo que já estamos acostumados a ver e ouvir cotidianamente no maior país negro fora da África, e que insiste em se mostrar nos meios de comunicação como branco e europeu - exemplo comprovado em nossa representante e terceira colocada no concurso. Nessa ótica, o destaque vai para revista Veja, de 21 de setembro, que, em sua seção Gente, tece alguns elogios à negra eleita como a mulher mais bela do mundo e, numa atitude das mais racistas, surpreende até mesmo quem está acostumado com aquela publicação: no final do texto, destaca que o cabelo da miss era aplique comprado na Rua 25 de Março, em São Paulo. Coisas da Revista Veja e de algumas cabeças retrógradas da mídia brasileira. Aplausos à Leila Lopes!
Revista Raça Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário