No que toca à questão étnica abordada nos romances, pode-se constatar que, além de não ter se esquivado dos problemas que afetavam os afro-brasileiros, Machado fala de seus irmãos de cor como sujeitos marcados por traços indeléveis de humanidade e por um perfil que quase sempre os dignifica, apesar da posição secundária que ocupam nos enredos. Impõe-se destacar que essa ausência de protagonismo está em homologia com o papel social por eles desempenhado, caracterizado pela subalternidade da condição e pela redução a mera força de trabalho, como já demonstrou Gizêlda Melo do Nascimento (2002). Ainda assim, o escritor, se não os eleva a heróis épicos da raça ou a líderes quilombolas, o que de resto comprometeria a verossimilhança do universo citadino e burguês representado nos textos, também não os limita ao formato estreito advindo dos estereótipos dominantes no imaginário social do Segundo Reinado.
O livro “Machado de Assis afro-descendente”, de Eduardo de Assis Duarte (Pallas/Crisálida, 288 páginas, preço a definir), professor de literatura da Universidade Federal de Minas Gerais, supre uma lacuna nos estudos machadianos ao levantar na obra do gênio brasileiro os textos e trechos de textos que lidam de alguma forma com o problema da escravidão. A velha crença de que Machado foi um escritor “alienado” das questões sociais e políticas nacionais já foi feita em mil pedacinhos por críticos como Roberto Schwarz e John Gledson. Às vezes chego a acreditar que, com seu modo oblíquo de lidar com uma realidade hostil a abordagens frontais, Machado foi justamente o oposto disso – o menos alienado dos escritores brasileiros. Já a imagem de um “traidor da raça” é mais resistente. Entre outras razões porque, obviamente, o mulato carioca orientou mesmo sua vida para um certo “branqueamento” social e cultural. O que está longe, muito longe de significar indiferença à tragédia da escravidão, como o trabalho de Assis Duarte deixa claro.
Breve anotação na margem: quanta força, elegância e perenidade ganharia o título deste livro se “afro-descendente”, palavrinha de visgo politicamente correto, fosse trocada por “negro”.
Machado de Assis negro
ResponderExcluirMachado de Assis foi maior escritor brasileiro, mesmo sendo mulato. Podemos dizer que machado já viveu nas três "classes" da sociedade, na pobreza, na classe média e na alta sociedade. Por esta razão muitos pensam que Machado não era contra a escravidão, pois estando na alta sociedade, acham que Joaquim sofreu um "branqueamento" tanto social quanto cultural.
Diferentemente de Castro Alves, Machado não saía na rua em protestos abolicionistas. Ele tinha um jeito diferente de combater a escravidão, Machado colocava em trecho de textos. trechos de romances, trechos de contos, fatos que lidam ou fazem críticas contra a escravidão, tudo isso ele fazia de jeito que só ele tem, colocando todas essa críticas em um modo sutil, que só depois de muita análise você percebe o que Joaquim está falando, vê que ele era abolicionista.
Muitas pessoas acreditam que Machado era um escritor alienado, mas eu concordo com o texto que na verdade ele era o "menos alienado" dos escritores pelo fato de lidar com a realidade fazendo críticas contra a escravidão ou falando sobre sentimentos e o que eles fazem com a mente humana de, como eu já disse, de uma forma sutil, abstrata. No caso da escravidão Machado de Assis foi muito inteligente de combate-la sutilmente, pois naquela época era muito difícil de estar contra uma coisa que era normal. Só os muito corajosos faziam isso.
Machado de Assis foi o maior escritor brasileiro, lutou conta a escravidão de uma forma que muitas pessoas alienadas não conhecem e por isso não foi um traidor de sua "raça", e sim um defendedor da libertação de sua "raça".
Filemon Rosseto
9°/901