Na busca por índios e ouro, bandeirantes expandiram o país
Maria Carolina Cristianini; Tiago Cordeiro
No início do século 17, o Brasil era um território a ser explorado. O país terminava na linha do Tratado de Tordesilhas e regiões distantes do litoral eram muito pouco conhecidas. Entre o mar ocupado e o sertão, ficava uma vila pobre chamada São Paulo de Piratininga. Seus moradores precisavam sobreviver. Para alguns deles, os bandeirantes, a solução foi escravizar índios. "Era uma forma de conseguir mão de obra para as fazendas paulistas e faturar com o tráfico indígena", diz Manuel Pacheco Neto, historiador da Universidade Federal da Grande Dourados (MS).
O patriarca dos bandeirantes é João Ramalho, um português que, por volta de 1513, se estabeleceu no planalto paulista e aprisionou índios que atacavam a região. Começava assim um movimento intenso e lucrativo, que teve seu ápice entre os séculos 17 e 18. Chamadas de entradas, quando havia autorização da coroa, ou bandeiras, com financiamento particular, as expedições procuravam riquezas minerais e, principalmente, buscavam índios em quantidades gigantescas: por volta de 1630, 500 mil pessoas estavam mortas ou escravizadas.
O estrago foi tamanho que, com o tempo, a caça estava rarefeita. Do bandeirismo ficou o legado da conquista territorial para muito além de Tordesilhas. Em 1750, o Tratado de Madri reconheceria o Brasil com um formato muito próximo do atual.
Vida dura
A estrutura de uma expedição
O dia a dia
Uma viagem levava, em média, 50 brancos, 50 mamelucos e centenas de índios escravos. Os colonizadores andavam com pistolas e arcabuzes (espingardas carregadas pela boca com bolas de ferro e até pedregulhos). Por dia, eram percorridos de 10 a 12 quilômetros, a pé ou por rios, como o Tietê. A alimentação vinha principalmente da caça e da pesca. Quando chegava às aldeias, o grupo atacava de surpresa. Para criar pânico, podia matar crianças e idosos.
Os líderes
De botas limpas, chapéu e roupas em ordem. Assim os bandeirantes costumam ser retratados. Mas, em geral, esses homens eram bem menos arrumados: mestiços, muitos deles provavelmente andavam descalços. Mas um aspecto do vestuário corresponde às imagens dos livros escolares: para se proteger das flechas, eles usavam coletes de couro acolchoado.
Mato adentro
Os caminhos das mais importantes bandeiras
1628
Líderes: Manuel Preto e Raposo Tavares
Expedição: 2 mil índios e 900 mestiços
Objetivo: Prender índios
O que aconteceu: Ao sul do Brasil ficavam as tribos guaranis. Eram alvo fácil: falavam uma mistura de tupi e português (conhecida dos bandeirantes), dominavam a agricultura e estavam reunidos em missões jesuítas. Até 1641, outras expedições destruíram mais de dez missões e escravizaram entre 33 mil e 55 mil nativos.
1648-1651
Líder: Raposo Tavares
Expedição: 1142 homens
Objetivo: Prender índios.
O que aconteceu: Depois de uma grande derrota no Sul (leia abaixo, à dir.), os bandeirantes partiram para a região central. Ao tentar a sorte no Itatim, ao longo do rio Paraguai, Raposo Tavares teria levado uma sova e fugido para o norte. Outra versão diz que ele capturou índios e seguiu viagem. O fato é que ele alcançou o rio Amazonas.
1674-1681
Líder: Fernão Dias
Expedição: 240 homens
Objetivo: Procurar metais e pedras preciosos
O que aconteceu: Fernão Dias era caçador de nativos em São Paulo. Tinha mais de 60 anos quando partiu para as Gerais. Ao seu lado foram seu genro, Manuel de Borba Gato, e seu filho, Garcia Rodrigues Pais. Fernão morreu no sertão, após sete anos de viagem. Em sua trilha outros se deram bem melhor - caso do próprio Borba Gato, que encontrou ouro.
1694
Líder: Domingos Jorge Velho
Expedição: 1300 homens
Objetivo: Lutar contra tribos indígenas e acabar com o Quilombo dos Palmares
O que aconteceu: Domingos Jorge Velho vivia no Piauí quando foi chamado para destruir o Quilombo dos Palmares. Primeiro, foi até São Paulo, onde organizou um exército. Na volta, antes de chegar ao quilombo, parou para derrotar os tapuias que viviam entre Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Só então seguiu ao quilombo, que venceu com grande dificuldade.
1722-1725
Líder: Bartolomeu Bueno da Silva, o segundo Anhanguera
Expedição: 152 homens
Objetivo: Procurar metais preciosos
O que aconteceu: Em 1682, Anhanguera filho acompanhou o pai em uma missão para capturar índios na região central. Lembrando ter visto ouro nas tribos, partiu na mesma direção, em uma viagem de três anos em que quase morreu de fome. Ao retornar, em 1725, trouxe ouro. A notícia provoveu uma corrida em busca de riquezas na região.
O dia da caça
No sul, os indígenas deram o troco
Era 1641 e um massacre estava prestes a acontecer às margens do rio Mbororé, entre Argentina e Brasil. Sob a liderança de Jerônimo Pedroso de Barros, os bandeirantes tinham 130 canoas e 900 homens, mas não esperavam deparar com 3 mil guaranis armados. Após dez horas, os invasores que não morreram fugiram para a mata, onde foram dizimados por doenças. Diz-se que apenas 20 voltaram a São Paulo. A derrota barrou o avanço para o sul e levou os sertanistas a lugares ao norte.
Explica muito detalhado a busca de ouro.Mostra o dia-a-dia,os lideres!gostaria de ler esse blog em todo tempo livre pois contribui bastante-acrescenta em nosso estudos!
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