"Selva de Pedra" entrou para a história ao atingir 100% de audiência. A partir dela, as telenovelas passaram a refletir cada vez mais a realidade nacional
PROTAGONISTAS
Regina Duarte e Francisco Cuoco
Regina Duarte e Francisco Cuoco
em "Selva de Pedra" e hoje.
Segundo Regina,
Segundo Regina,
a linguagem das novelas se modernizou:"O timing ficou mais cinematográfico"
Os anos 1970 marcam o nascimento de um novo estilo de fazer novela na televisão brasileira. Em 10 de abril de 1972 chegava ao ar o primeiro capítulo de “Selva de Pedra”, considerada uma das maiores criações de Janete Clair. Como o título já sugeria, a trama trazia para o horário nobre a temática urbana, inaugurando uma tendência que perdura até os dias de hoje. “Antes dela, as novelas tinham enredos mais regionalistas, a exemplo de ‘Irmãos Coragem’. Com cenário no Rio de Janeiro, ‘Selva de Pedra’ trouxe para a tevê o cotidiano da cidade grande”, afirma Nilson Xavier, especialista no assunto e autor de “O Almanaque da Telenovela Brasileira” (Panda Books). A história da artista plástica Simone Marques (Regina Duarte), que testemunha um crime e apaixona-se pelo criminoso, Cristiano Vilhena (Francisco Cuoco), conseguiu o feito inédito de alcançar 100% de audiência na pesquisa do Ibope – ou seja, no capítulo 152, todos os aparelhos de televisão em funcionamento estavam sintonizados na Rede Globo. “Lembro vagamente de comentarem sobre esse recorde uns dois dias depois que aconteceu. Ninguém deu muita importância na época. Esse é o tipo de coisa que vai ganhando importância com o tempo”, disse Regina Duarte à ISTOÉ.
Tal êxito, no entanto, teve consequências duradouras, pavimentando o caminho para os títulos seguintes. E não apenas para os folhetins. No mesmo ano estreou o primeiro sitcom (comédia de situação) da tevê brasileira, “A Grande Família”, que conseguiu arregimentar para o veículo um nome consagrado do teatro, o dramaturgo Oduvaldo Viana Filho, autor dos enredos. Além de preferência nacional, essas produções passaram a ser um lucrativo produto de exportação. “O Bem Amado”, escrita por Dias Gomes e exibida em 1973, seria a primeira produzida em cores e a estreante em televisores no Exterior. Espelhando a realidade do País, “Dancin’ Days”, de 1978, mostrou o Brasil das discotecas com um clima festivo que refletia os estertores da ditadura. Vindos de um exílio de três anos em Londres, os tropicalistas Caetano Veloso e Gilberto Gil, novamente em casa desde janeiro de 1972, adotariam o estilo dançante em voga. Caetano excursionaria com o antológico “Bicho Baile Show”, cujo roteiro abria com o clássico “Odara”, e Gilberto Gil invadiria as pistas de danças com “Realce”.
ALEGRIA, ALEGRIA
Gilberto Gil e Caetano Veloso na volta do exílio, em janeiro de
1972 (abaixo), e em show recente:
Gilberto Gil e Caetano Veloso na volta do exílio, em janeiro de
1972 (abaixo), e em show recente:
à frente das mudanças culturais
Em 1988, a novela “Vale Tudo” estampou o rock de Cazuza em sua abertura e retratou a nação que elegeria seu presidente por voto direto, o que não ocorria desde 1961. Protagonista de toda essa evolução, Regina Duarte avalia os seus desdobramentos: “Assistiu-se a uma mudança significativa na linguagem da novela, com uma melhora na captação da imagem e do som. O timing ficou mais cinematográfico.” A ousadia se fez presente. “O Clone” (2001), por exemplo, pegou carona no aparecimento da ovelha Dolly para falar sobre o assunto de maneira leve e, uma década depois, o autor João Emanuel Carneiro acertou a mão ao retratar a emergente classe C na recém-encerrada “Avenida Brasil”, adaptando ao momento a receita que Janete Clair ajudou a popularizar.
Revista Isto É
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