Para diminuir as desigualdades, com transparência e controle
social
A defesa da manutenção do atual percentual dos royalties destinados ao Rio
de Janeiro — referente às áreas já licitadas no estado para a exploração de
petróleo e gás — legitima-se para além da compensação das perdas de ICMS
relacionadas ao processo de produção e distribuição. São recursos que têm de ser
investidos na prevenção e na redução dos impactos socioambientais causados por
uma energia poluente e finita. É fundamental que esse dinheiro seja administrado
com transparência e controle social.
O Estado precisa assumir com mais ênfase a sua responsabilidade para com as
próximas gerações na gestão dos impactos da exploração do petróleo e gás. Há que
se tratar das sequelas relacionadas ao emprego dessa fonte não renovável de
energia, além de se desenvolver alternativas de energia limpa para o futuro.
Tais necessidades, por si só, justificariam a destinação socioambiental de todos
os recursos públicos obtidos nesse setor — e não apenas aqueles referentes aos
royalties, que são apenas uma pequena parte.
Em 2010, apresentamos na Alerj, via mandato do deputado estadual Marcelo
Freixo (PSOL-RJ), o Projeto de Lei 3025, para a criação do Conselho Estadual de
Fiscalização dos Royalties, com participação do Estado e da sociedade civil,
para funcionar como órgão formulador e controlador das políticas públicas e
ações realizadas com financiamento dos royalties. O projeto, parado há dois anos
na Comissão de Constituição e Justiça, prevê o investimento dos royalties para a
preservação do meio ambiente, no desenvolvimento de energia renovável e limpa,
em saúde, educação, previdência social, agricultura familiar e habitação
popular. Hoje, quem cuida dessa fiscalização é o Tribunal de Contas do Estado
(TCE), com conselheiros sob a suspeita de não estarem à altura desse
desafio.
Até 1995, a exploração do petróleo no Brasil foi exercida em regime de
monopólio estatal. Todos os recursos dos royalties eram destinados
exclusivamente para energia, pavimentação de rodovias, abastecimento e
tratamento d’água, irrigação, meio ambiente e saneamento.
Há 15 anos, outras empresas além da Petrobras passaram a ter permissão para
explorar e produzir petróleo e gás no Brasil por concessão. Quem tem lucrado
mais são as transnacionais, cujos olhos crescem ainda mais com a descoberta do
pré-sal. Não bastasse isso, com a Lei do Petróleo, de 1997, a parte dos
royalties repassada pela União aos estados e municípios deixou de ter destinação
específica.
Não podemos continuar a viver em cidades cada vez mais pobres, de prefeitos
cada vez mais ricos. Em Campos dos Goytacazes, por exemplo, em 2002, 78,7% do
orçamento foram provenientes dos royalties. Nessa época, o município estava em
54º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no Rio. Em 2009, conquistou
o título de campeão do Brasil em trabalho escravo. Ou seja, o que se fez foi
ampliar as desigualdades e não diminuí-las.
Impõe-se a responsabilidade do Estado de investir esses recursos na
preparação para um tempo em que não será mais possível contar com esse bem não
renovável. Garantir recursos dos royalties para promover os direitos
fundamentais do povo, como no caso da proposta apresentada no Congresso Nacional
de 100% dos royalties para a educação pública, seria um bom começo. Seria um
primeiro passo na defesa da vida das futuras gerações.
Chico Alencar
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sábado, 24 de novembro de 2012
Te Contei, não ? - Manter os royalties
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