sábado, 10 de novembro de 2012

Resenhando - O barão do Humor

BARAO-ABRE-IE-2238.jpg

Não há momento melhor para o jornalista gaúcho Apparício Torelly (1895-1971) ser lembrado do que em época de eleições. Famoso pela alcunha de Barão de Itararé – dada a si próprio em referência à batalha de mesmo nome –, ele foi o fundador de um estilo de humor político, praticado no seu jornal “A Manha”, cuja verve crítica é detalhada na biografia “Entre sem Bater: a Vida de Apparício Torelly, o Barão de Itararé” (Casa da Palavra), de autoria de Cláudio Figueiredo. O escritor teve acesso a documentos que iluminam o período mais fértil de sua carreira, a partir dos anos 1920. “A fase da vida mais conhecida de Itararé é a partir da década de 1960; deter-se apenas nela é o mesmo que falar só do final da carreira de Pelé”, diz Figueiredo.

O autor mostra como o Barão mantinha boas relações com o círculo do poder e a alta sociedade carioca, justamente os personagens com quem lidava nas páginas do seu diário. Getúlio Vargas, apoiado por ele no início do mandato presidencial, passou a ser pintado como inimigo ao se manter no poder por oito anos. Mereceu de Torelly a anedota: “Sabe como se chama nosso caro presidente? Gravata Preta. Adapta-se a qualquer roupa e a qualquer regime.” Parceiro em mesas de bilhar, o compositor Heitor Villa-Lobos ganhou tratamento mais ríspido: dono de “ignorância niagaresca, blusa russa e cabelos desgrenhados, como uma Desdêmona ressuscitada”. Era uma resposta ao fato dele valer-se das benesses do prefeito carioca para desenvolver um projeto em escolas, “à custa do erário público”.

Essas passagens da vida de Torelly foram resgatadas graças às anotações de informantes da polícia política que mantinham o olho no jornalista. Ele foi preso duas vezes por causa da militância comunista – numa delas, em 1935, dividiu a cela com Graciliano Ramos e tornou-se personagem do romance “Memórias do Cárcere”. Em sua pesquisa, Cláudio Figueiredo encontrou na infância do seu personagem os primeiros traços do sarcasmo que mais tarde faria história. Na escola, o professor de português, Oswaldo Vergara, pediu-lhe a conjugação de um verbo qualquer no tempo mais que perfeito. O menino Torelly levantou-se e respondeu: “O burro vergara ao peso da carga.” “Apesar da acidez da brincadeira, o mestre aprovou o aluno”, diz Figueiredo. 
IEpag108_Barão.jpg

Revista Isto É

Nenhum comentário:

Postar um comentário