domingo, 11 de novembro de 2012

Te contei, não ? - Sou gay, e daí ?

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Considerado um esporte violento, que exige muita habilidade e resistência física de seus praticantes, o boxe sempre foi uma modalidade caracterizada pela masculinidade. Nesse ambiente carregado de testosterona e hostil a demonstrações de fraqueza, é preciso ter coragem para assumir uma posição dissonante, como fez o porto-riquenho Orlando Cruz. Aos 31 anos, o boxeador, quarto melhor do mundo na sua categoria, a peso-pena, acaba de assumir que é homossexual. Em um comunicado, Cruz disse: “Eu luto há 24 anos, e enquanto sigo em minha carreira ascendente, quero ser honesto comigo mesmo. Eu tenho e sempre terei orgulho de ser de Porto Rico. E eu tenho e sempre terei orgulho de ser gay.” Com essa atitude, Cruz se tornou o primeiro boxeador da história a revelar publicamente sua homossexualidade. Antes dele, apenas o americano Emile Griffith, de 74 anos, que lutou nas décadas de 50 e 60, tinha assumido ser bissexual – mas quando já havia abandonado os ringues.

A notícia de que Cruz havia saído do armário logo se espalhou para além do meio esportivo. Dois dias depois de ter manifestado publicamente sua orientação sexual, o boxeador ganhou o apoio do cantor Ricky Martin, também porto-riquenho, que em 2010 assumiu ser gay. Isso não evitou, no entanto, críticas de fãs do esporte. No Twitter, um americano comentou que Cruz “estragou toda a sua carreira” com essa revelação, e que, a partir de agora, ele seria “o boxeador mais evitado de todos”. Comentário que, felizmente, não reflete a opinião de todos os admiradores do boxe, já que o lutador disse ter recebido os parabéns de outros pugilistas e do público em geral. “Foi um ato de bravura”, diz a professora Heloísa Reis, especialista em sociologia do esporte e pesquisadora do centro de estudos avançados da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Especialmente por se tratar de um atleta de uma modalidade tão viril quanto o boxe.”

Segundo Heloísa, culturalmente o meio esportivo é visto como um reduto masculino, e o preconceito contra homossexuais no esporte provém dessa ideia centenária. “A situação fica ainda mais complicada em países menos desenvolvidos do ponto de vista dos direitos individuais, como o Brasil”, diz. “Aqui já é complicado discutir sexualidade no ambiente acadêmico e pior ainda no esportivo.” Cruz, que vive nos Estados Unidos, agora se prepara para sua próxima luta, em 19 de outubro, na Flórida, contra o mexicano Jorge Pazos. 

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Fotos: Dennis M. Rivera Pichardo/AP Photo ;
Stu Forster e Harry Engels/Getty Images


Revista Isto  É

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