quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Te Contei, não ? - Realidades opostas em um mesmo ENEM



Alunos do colégio pH assistem a aulas preparatórias para o Enem ministradas por dois professores
Foto: Leo Martins

RIO - Eles farão a mesma prova, com o mesmo objetivo de passar para uma universidade pública federal. Mas a preparação para esse desafio os deixa em realidades distintas. Na reta final para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no próximo fim de semana, escolas particulares do Rio têm até três professores numa sala de aula. Enquanto isso, alunos da rede estadual enfrentam problemas como a falta de docentes.

O GLOBO esteve em dois colégios públicos. Considerada uma referência na rede do estado, o Colégio Estadual Brigadeiro Schorcht, na Taquara, não tem professor de História para os alunos do último ano, que farão o Enem. Já no Colégio Estadual João Alfredo, em Vila Isabel, vestibulandos dizem que os dois primeiros tempos de quarta-feira estão vagos, devido a falta de professor. De acordo com o aluno Lucas Araújo, de 18 anos, a unidade em Vila Isabel só aplicou um simulado preparatório para o Enem. O estudante, que pretende fazer faculdade de Química, frequenta um curso pré-vestibular comunitário.
— A turma fica desanimada. Parece que o governo não quer que a gente passe no vestibular — desabafa o estudante.
Segundo seus colegas, ventiladores não funcionam direito e há até goteiras em sala. Já no Brigadeiro Schorcht, condicionadores de ar e computadores novos são pontos a favor. Indicada pela Secretaria estadual de Educação para receber a equipe do jornal, a unidade tem aula de reforço extraclasse. Mas os alunos estão sem professor de História há quase dois meses. O titular saiu de licença médica, e ainda não há substituto.
Preocupada, Daniela Claudino, de 18 anos, paga R$ 269 por mês para fazer um cursinho.
— Os professores lá passam um conteúdo que eu nunca tinha visto na escola — diz ela.
Segundo o subsecretário estadual de Gestão de Ensino, Antonio José Vieira Neto, o governo tem um programa de reforço escolar que pode ser acionado por qualquer unidade, além de um mecanismo pelo qual os colégios fazem um diagnóstico de seus problemas:
— Onde há uma gestão competente, chegamos a bons resultados. Caso contrário, os problemas são generalizados.
De acordo com o subsecretário, a meta é chegar a um nivelamento na rede estadual, para que não haja diferença no ensino ofertado. Sobre a falta de professores, Vieira Neto justifica dificuldades por conta da dimensão da rede, que reúne 60 mil profissionais em todo o estado. De acordo com ele, cabe às escolas informarem questões como esta o mais rápido possível. Ele garantiu que a secretaria tem se empenhado em buscar soluções rápidas.



Na avaliação da professora doutora em educação da PUC Cynthia Paes de Carvalho, que é especialista em sociologia política e gestão da educação, as realidades díspares dos candidatos das redes pública e privada de ensino ficam mais evidentes na reta final para o vestibular. Segundo ela, os alunos de escolas estaduais já chegam ao ensino médio com lacunas enormes de conteúdo, por conta do aprendizado deficiente que também tiveram no ensino fundamental na rede municipal.



— O que faz diferença são bons professores que garantam um bom ensino corrigindo as defasagens. A rede pública é perfeitamente capaz de criar seus próprios modelos, vide experiências bem-sucedidas, como os colégios de aplicação e as escolas federais. Basta reconhecer os problemas e atacá-los.
Com cerca de 5,7 milhões de candidatos inscritos no país, o Enem congrega todas as classes sociais. Para quem estuda em escola privada, falta de professor não é problema. No Colégio pH, onde os alunos fizeram quatro simulados neste segundo semestre, algumas aulas contam com dois ou até três docentes — de química, física e biologia, para treinar os estudantes para a prova de Ciências da Natureza e suas Tecnologias, do Enem. Já nas aulas de Ciências Humanas, entram em ação docentes de geografia e história em duplas.
Os professores usam recursos como datashow e até um cavaquinho para tocar músicas do cancioneiro popular que podem ser cobradas no Enem. Diretor de ensino do pH, Rui Alves explica que este ano o colégio mudou um pouco a preparação para o Enem, explorando a matriz de referência da prova, que determina as competências e habilidades abordadas em cada pergunta. O colégio também contratou uma empresa para treinar os professores com base na Teoria de Resposta ao Item (TRI), metodologia que atribui diferentes pesos e níveis de dificuldade às questões do Enem.



— Exploramos a matriz de referência, pois os alunos têm muito pouco conhecimento sobre as competências que são cobradas. Os professores propõem uma situação-problema a partir de uma habilidade, que pode gerar uma ou mais questões — explica Rui.



Os alunos contam ainda com monitoria presencial e on-line de todas as disciplinas em três turnos. No segundo semestre, foram quatro simulados do Enem, preparados com questões inéditas, fora os virtuais, que misturam edições anteriores das provas.



As Ophicinas de Redação são um capítulo à parte da preocupação do colégio com a única disciplina discursiva e subjetiva do Enem, que chega a ter peso 3 na seleção de candidatos para todos os cursos da UFRJ. Com o agendamento de grupos de no máximo cinco alunos, professores e monitores debatem temas e trabalham cada parte do texto dissertativo, modelo cobrado no exame, além de fornacerem redações exemplares de cada tema.



Candidata a uma vaga em engenharia, Eugenia França, de 18 anos, recorre a todas ferramentas oferecidas.



— Sempre faço as oficinas de redação e uso muito o espaço virtual, pois estudo bastante em casa. As aulas interdisciplinares são mais dinâmicas e importantes porque cada professor mostra persperspectivas diferentes de um mesmo assunto.

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