Que pode o artista fazer quando a carreira entra em decadência? Uma safra de comerciais responde: passar pelo ridículo. Assisti a um da cantora Vanusa. Com alguns quilos a mais, ela fala em “ser convidada para cantar o Hino Nacional na Copa das Confederações”. Que mico! Vanusa fez grande sucesso popular no passado. Em 2009, interpretou o Hino Nacional na Semana da Pátria em estado visivelmente alterado. Foi retirada antes de terminar a apresentação. Na época, declarou à jornalista Silvia Popovic, então na TV Bandeirantes, que “havia se automedicado devido a uma labirintite”. No YouTube, o vídeo já foi visto por pelo menos 2.517.558 pessoas. O mico foi uma pá de cal em sua carreira de cantora, já distante dos tempos de sucesso. A simples menção a esse episódio é de envergonhá-la. Mas Vanusa topou estrelar a campanha, que promove um cartão de crédito. Mais uma vez sou obrigado a encarar a verdade: a fama é traiçoeira. Quando ela se vai, o artista passa a viver dos farrapos dos dias dourados.
Também é assustador perceber que as pessoas parecem gostar de presenciar a decadência de quem aplaudiram um dia. Outro comercial mostra o cantor Biafra (hoje Byafra), que conquistou dois discos de ouro com “Leão ferido” e “Sonho de Ícaro” no início dos anos 1980. É simples: um assaltante desiste de roubar um carro e foge quando o artista começa a cantar. A moral da história: se você não tem o Byafra para espantar o ladrão, faça um seguro. Na mesma linha, o comercial de uma cerveja sugere como alguém pode se tornar uma piada: comparecer de sunga e gravata a um comercial, acompanhado do cantor Beto Barbosa. Na década de 1980, Beto Barbosa tornou-se o Rei da Lambada. Seu maior sucesso, “Adocica”, vendeu mais de 3 milhões de cópias. Agora, virou piada.
Deve dar certo, já que citei três comerciais recentes com o mesmo mote: a graça em torno de um artista em decadência. A categoria dos ex-famosos é reconhecida pela mídia. São eles que recheiam muitas das páginas das revistas sobre artistas, que comparecem a todos os programas de TV possíveis e aceitam trabalhar por cachês diminutos. A ex-chacrete Rita Cadilac chegou a fazer shows de sucesso. Posteriormente, atuou em filmes de sexo explícito. Ainda teve de suportar a declaração do ator Alexandre Frota, seu parceiro nas posições eróticas:
– Parecia que estava pegando minha avó – disse ele. – Foi difícil.
Outras percorreram caminho semelhante, como a cantora Gretchen, que vendeu 12 milhões de discos na passagem dos anos 1970 para 1980. Também fez filme pornô. Talvez o caso mais trágico seja a atriz Leila Lopes. Conheci Leila de perto, pois seu primeiro papel foi na minissérie O guarani, que escrevi para a extinta TV Manchete. Era uma ótima pessoa, cheia de sonhos. Mais tarde, esses sonhos se tornaram realidade, com o sucesso em novelas como Renascer e O rei do gado, da TV Globo. Sua carreira entrou em declínio e, em 2008, ela se lançou no cinema pornô. Finalmente, suicidou-se. Sempre me pergunto: será que essas pessoas não percebem quando é a hora de dar a virada? Fazer um curso técnico, uma faculdade, iniciar outra profissão? Outro dia conversei com um ex-galã de televisão, pelo Facebook.
– Passei um ano como morador de rua no Rio de Janeiro – contou. – O pior é que me reconheciam!
Agora, foi para o interior de Minas Gerais, onde vive com a ajuda de parentes. Sonha com o dia em que voltará à televisão. Quando, meu Deus?
São inúmeros os casos de galãs e estrelas ou de cantoras, como Dircinha e Linda Batista, que terminaram esquecidos. Imagino que a perda da fama se confunde com uma doença sutil. Algo que se pode curar. Passam-se os anos. O dinheiro falta. O ex-famoso se transforma numa espécie de pedinte, em alguém a fim de qualquer negócio. Como alguém chega a tal ponto? E se torna uma caricatura de si mesmo? Há ex-famosos que se agarram a uma fã da época áurea, que se torna sua companheira de lamentações. Para garantir que alguém ainda os admire!
A explicação de quem se sujeita à humilhação pública é a falta de grana. Eu me admiro, porque, em boa parte dos casos, se trata de gente que ganhou muito bem, durante um bom tempo. Talvez o dinheiro tenha ido embora por algum motivo. Não é possível buscar um novo caminho? A pessoa se destrói na esperança de recuperar um sucesso que nunca mais voltará a acontecer. A fama é um vício do qual poucos conseguem se livrar.
Revista Época
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