O juiz do Conselho Nacional de Justiça analisa a situação no Maranhão – e diz que os governantes permitem a barbárie nos presídios porque respeitar os direitos dos presos não dá voto
MURILO RAMOS
Entrevista
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Maria Helena Bandeira
Entrevista conduzida por Isabel Furini, do Bondenews
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Na virada do século XIX para o XX, a experiência coletiva da tuberculose constrói-se basicamente pelo cruzamento dos esforços, em princípio frustrados, do saber médico-científico de controle da doença com a estigmatização do doente. Este período, que se inicia com o incremento das iniciativas médico-higienistas de controle da tuberculose nas camadas sociais mais pobres, estendendo-se para além do ano da descoberta do bacilo de Koch, caracteriza-se, em termos de representação social da doença, por uma marcante ambigüidade. A tuberculose é algo que assusta e estigmatiza, mas ainda conserva alguns de seus traços mitificadores. |
Veja - 06/01/2014
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Ao serem divulgados os resultados das primeiras provas do Enem, um grande grupo educacional encomendou uma pesquisa com os alunos das dez melhores escolas do Brasil. Pois não é que eram todas bem parecidas? Chamava atenção o fato de serem muito rígidas na disciplina. Ou seja, nada de bagunça. E entre as instituições públicas, com sua disciplina severa, os colégios militares têm ótimo desempenho.
Viajando por outras
terras, consideremos a França, a Alemanha e a Inglaterra. De lá vieram as mais
abundantes colheitas de artistas, filósofos, cientistas, empresários e
estadistas. Historicamente, suas escolas sempre foram extraordinariamente
rígidas, chegando até a umas varadinhas aqui e umas reguadas acolá.
Em maio de 1968, os
universitários parisienses se rebelaram contra o atraso da universidade,
promovendo um evento de espantosa visibilidade mundial. Barricadas na rua,
paralelepípedos voando pelos ares, choques retumbantes com a polícia! Ecoava o
slogan mais poderoso: "É proibido proibir".
As consequências do Maio de 68 varreram o mundo e remoldaram a alma da escola. Muitos manifestantes viraram professores, sentindo-se pouco confortáveis com sua autoridade. A epidemia do "proibido proibir" contaminou a América Latina.
Em um dos seus primeiros
discursos, depois de presidente, Sarkozy chama atenção para a lastimável erosão
da autoridade do professor, com suas raízes em 68. 0 filósofo Luc Ferry, em
entrevistas, também rememora a queda na disciplina escolar, resultante de
professores inapetentes por manter a ordem na sala de aula. Antes de tudo,
porque erodiram as regras de disciplina, claras e compartilhadas. Mas, segundo
ele, o pêndulo volta, com Cláudio de moura as escolas francesas recobrando sua
capacidade castro é economista de controlar a baderna.
Não é preciso muito esforço para verificar a onipresença de problemas de indisciplina nas nossas escolas. Nem falamos de alunos agredindo professores. Há uma incapacidade generalizada dos professores em impedir a bagunça nas aulas, sobretudo nas escolas públicas.
No caso brasileiro, a
alma penada de Maio de 68 parece muito presente, embora possa haver outros
fatores contribuindo para as dificuldades de manter a disciplina. Aula chata?
Quem sabe, a disseminação de uma caricatura da psicanálise, com seus pavores de
que uma disciplina rígida vá frustrar ou traumatizar os alunos? Ou uma esquerda
que confunde autoridade com autoritarismo? Ou um DNA tropical e
insubmisso?
Mas que consequências
teria essa incapacidade da escola para manter a ordem? O professor James
Ito-Adler fez para o Positivo uma pesquisa etnográfica — entrevistando uma
amostra de alunos. Nela surge uma descoberta surpreendente. Quando perguntou aos
alunos o que mais atrapalhava o seu aprendizado, a resposta foi enfática: a
bagunça dos outros! São os próprios estudantes que clamam por uma disciplina
careta. Não é lamento de professor saudosista. Ou seja, os próprios alunos
admitem que conversas e turbulência na sala de aula atrapalham os estudos.
Resultados espúrios? Não parece, pois pesquisas nos Estados Unidos e na França
sugerem o mesmo. A bagunça é tóxica.
A ideia de que a escola
não pode tolher a liberdade dos alunos é falsa. Embora possamos conduzir a
discussão de forma mais sofisticada, vale a pena repetir o princípio de que a
minha liberdade acaba onde começa a lesai- a liberdade de outrem. No caso, a
liberdade dos colegas para estudar e aprender.
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