RIO — As riquezas do sítio arqueológico do antigo Cais do Valongo, no Rio, foram (re)descobertas pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Antigo porto da cidade que recebeu cerca de um milhão de escravos, o local — assim como a Vila Ferroviária de Paranapiacaba (em Santo André, São Paulo) e o mercado Ver-o-Peso (Belém, no Pará) — foi incluído pela entidade na lista indicativa de bens culturais brasileiros que poderão ser futuramente apresentados ao Comitê do Patrimônio Mundial para serem avaliados e receberem o título de patrimônio mundial da humanidade. A última atualização da lista indicativa brasileira foi há 18 anos. Agora, em 2014, com a inclusão de mais três bens culturais, a listagem possui 18 bens naturais e culturais que poderão ser futuramente inscritos na lista do patrimônio mundial.
O Valongo já havia sido declarado patrimônio histórico nacional em novembro do ano passado. Na ocasião, a Unesco considerou o local parte da chamada "Rota do Escravo", um projeto lançado pelo órgão da ONU em 2006 para destacar o patrimônio material e imaterial relacionado ao tráfico de escravos no mundo. E o Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH) avaliou o reconhecimento da Unesco como um reforço da campanha do Rio de Janeiro para promover a candidatura do cais a Patrimônio Mundial da Humanidade. O porto, retratado em várias pinturas do francês Jean-Baptiste Debret, foi o que mais escravos africanos recebeu em toda a América.
As listas indicativas são compostas pela indicação de bens culturais, naturais e mistos, apresentados pelos países que ratificaram a Convenção do Patrimônio Mundial da Unesco. Essa iniciativa pode partir de gestores de sítios, autoridades locais e regionais, comunidades locais, ONGs e outros interessados na preservação do patrimônio cultural e natural do país. Os bens culturais brasileiros — indicados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) — contemplam o patrimônio histórico, arqueológico e ferroviário. O instituto vai apresentá-los oficialmente ao Comitê do Patrimônio Mundial na sua próxima reunião, que este ano ocorrerá em Doha, no Qatar, em junho.
Redescoberto em 2011, durante as obras de revitalização da zona portuária, o Cais do Valongo ocupava uma área de cerca de 2.000 metros quadrados, estendendo-se da Rua Coelho e Castro até a Rua Sacadura Cabral, no Centro. O cais foi construído em 1811, para desembarque e comércio dos africanos escravizados, vindos principalmente de Angola, Congo e Moçambique. Em 1843, passou por grande remodelação, recebendo o nome de Cais da Imperatriz, e, no início do século, foi aterrado para construção da Praça do Commercio.
Na área, foram encontrados objetos que revelam a vida cotidiana das classes dominantes do império e dos negros escravizados. As peças estão armazenadas no Museu Nacional e vão compor um memorial com os achados mais significativos. É um testemunho de grande valor histórico, um símbolo da violência da escravidão e da diáspora africana, que trouxe para o Brasil mais de quatro milhões de escravos.
A Vila Ferroviária de Paranapiacaba foi tombada pelo Iphan em 2008. Segundo o instituto, a área central e seu entorno estão em região de grande importância histórica e ambiental, que registra uma época da influência da cultura e tecnologia inglesas. “O município (de Santo André) possui 55% de seu território em área de mananciais, que compõe o cinturão verde da capital paulista com vegetação de Mata Atlântica. A ocupação desse local está associada à construção da Ferrovia Santos-Jundiaí, pela companhia inglesa de trens São Paulo Railway Co., que ocorreu a partir de 1860. Em 1946, a concessão chegou ao fim e a União incorporou o patrimônio da empresa”, conta o Iphan, em seu site.
Já a região do Ver-o-Peso, cujo mercado foi tombado pelo Iphan em 1977, é palco da maior feira livre da América Latina. Segundo o instituto, “o conjunto arquitetônico e paisagístico dessa região abrange ainda a Praça Pedro II e Boulevard Castilhos França, além dos mercados de Carne e de Peixe, compreendendo uma área de 25.000 m2, com inúmeras construções históricas, na Cidade Velha, às margens da baía do Guarajá. O Mercado do Ver-o-Peso começou a ser construído em 1899 e, atualmente, é um dos principais pontos turísticos de Belém (PA)
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