A temporada de propaganda eleitoral no Rio de Janeiro chama atenção pelas seguidas referências a uma (nada embolorada) ideia do século passado. Candidatos a deputado e governador, incluindo o petista Lindberg Farias, vêm ancorando promessas de campanha no legado da dupla Leonel Brizola (1922-2004) e Darcy Ribeiro (1922-1997). Comprometem-se, agora, com o ensino básico em tempo integral, num modelo semelhante ao dos Centros Integrados de Educação Pública, propostos pelos então governador e vice, no início dos anos 1980. Três décadas atrás, o estado tinha o diagnóstico para dar o desejável salto em capital humano, o mesmo da invejada Coreia do Sul. Mas o projeto dos Cieps pereceu em gestões seguintes, que priorizaram a rivalidade política, em vez dos interesses da população. Hoje, o Rio se mostra saudoso do futuro que deixou escapar.
No início da semana, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico (Sedeis) reuniu num seminário três grandes montadoras com fábricas no Sul do estado. O setor, no triênio 2014-2016, vai destinar R$ 3,9 bilhões em investimentos ao Rio, segundo estudo da Firjan. Executivos da MAN Latin America, da PSA Peugeot Citroën e da Nissan, caçula no território fluminense, foram instados a revelar o principal entrave ao desenvolvimento das empresas. A carga tributária, pesada e complexa, ficou atrás da escassez de mão de obra qualificada, num resultado que surpreendeu o secretário Julio Bueno.
Os empresários se queixam da má formação do pessoal, que leva à alta rotatividade de funcionários e à canibalização entre as companhias. Em um ano e meio, um trabalhador consegue elevar em 20% a 25% seus rendimentos apenas trocando de emprego. Não precisa fazer um curso de aperfeiçoamento, tampouco mudar de função.
De cada quatro vagas oferecidas pelas montadoras, três exigem no mínimo o ensino médio completo. Com base em dados do IBGE, o Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) estimou que 15,6% dos adultos brasileiros tinham, ao menos, 12 anos de escolaridade em 2012. A proporção dobrou em relação a 1992 (7,7%), mas permanece insuficiente para suprir a demanda por mão de obra de uma economia que se moderniza. Um empresário contou que, num modelo ideal de recrutamento, precisa de três mil candidatos para preencher mil vagas. Nos processos seletivos de hoje, ele consegue mil inscrições, uma por vaga.
É essa conta que o Rio de Janeiro — e também o Brasil — está pagando pelo descaso com a educação no século XX. A dívida social é evidente. Mas a escolaridade baixa também tem consequências econômicas: atrasa o desenvolvimento, reduz a produtividade das empresas e tira competitividade global do país.
No estado, a carência de mão de obra escolarizada explode no momento em que o governo local festeja os avanços no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O Rio passou à quarta posição no ranking nacional das redes públicas estaduais no ensino médio. Em 2009, era 26º; dois anos atrás, 15º. Num par de anos, galgou 11 posições.
A história fluminense recente deixa duas lições para as futuras gerações. A primeira é nunca desprezar um bom projeto, ainda que ele tenha nascido do maior adversário. A segunda é que sempre há jeito de melhorar, mesmo largando com décadas de atraso.
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