sábado, 27 de setembro de 2014

Crônicas do Dia - A Independência e o idioma - Deonísio da Silva

Foi de Pombal o discernimento de dotar o Brasil de uma língua comum, uma vez que os padres ensinavam outras, de acordo com a nacionalidade das ordens religiosas


Quando, no dia 7 de setembro de 1822, por volta das quatro horas da tarde, dom Pedro I proclamou em São Paulo, às margens do Riacho Ipiranga, a independência do Brasil, a jovem nação já tinha uma língua, a portuguesa.

Esta questão não é irrelevante. Uma nação se faz mais por sua língua do que por seu território. Estão aí de exemplo os judeus, sem pátria durante milênios, mas não sem língua. O hebraico, em que foi escrito o Pentateuco (a Torá), foi a língua que conservou unido o povo do livro.

Dom Pedro, nascido em 1798, não conheceu o Marquês de Pombal, falecido em 1782, aos 83 anos. Mas deve muito a ele. Foi ele quem modernizou Portugal e seus domínios de além-mar no século anterior ao da Independência. E foi de Pombal o discernimento de dotar o Brasil de uma língua comum, a portuguesa, uma vez que os padres letrados usavam e ensinavam outras, de acordo com a nacionalidade das respectivas ordens religiosas.

Dom João VI, pai de Dom Pedro I, tinha 15 anos quando Pombal morreu. Deve ter aprendido alguma coisa com o poderoso ministro do vovô, dom José I, pois foi o único que enganou Napoleão, quando, príncipe regente, fugiu com toda a Família Real para o Brasil, em 1807.

Dali a 15 anos, Dom Pedro I, ao proclamar a Independência, seguiu o sábio conselho do pai, dado na manhã de 26 de abril de 1821, abraçado ao filho, já embarcado para voltar a contragosto para Portugal. Muito inteligente, o pai antevia a independência e disse ao filho: “Pedro, põe a coroa na tua cabeça antes que algum aventureiro lance mão dela.”

O português, falado por 260 milhões, dos quais 200 milhões são brasileiros, é hoje a quinta língua mais falada no mundo, atrás do hindu, do mandarim, do inglês e do espanhol.

Já temos a língua falada, falta conquistarmos a língua escrita para consolidarmos nossa independência. E esta questão é tão ou mais importante do que outras, como a econômica, a política e a social.

Deonísio da Silva é escritor e professor



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