RIO — A primeira teoria diz que, quando escreveu seu último livro, o “Memorial de Aires”, Machado de Assis tinha absoluta certeza de que iria morrer em breve. A segunda, sustenta que o protagonista da obra seria uma espécie de alter ego do próprio escritor, nesse caso, um flâneur, cuja principal diversão era andar pelo Rio de Janeiro, experimentando suas ruas e vielas. Pois se as duas hipóteses anteriores forem verdadeiras, o desejo derradeiro de Machado de Assis está próximo de ser realizado. Na primeira semana de outubro, será lançado um aplicativo que cruza pontos da cidade com a biografia e com trechos das obras do escritor, ou seja, será possível levar o romancista, ainda que de maneira figurada, para passear por aí.
O software batizado de “Rio de Machado” terá download gratuito para celulares com sistema iOS e Android e mostra cerca de 80 pontos do Rio relacionados à mais de 200 citações de frases, obras ou curiosidades sobre a vida do escritor. O projeto — que também terá exposição e seminário no Museu de Arte do Rio (MAR) — foi concebido pela Artéria e produzido pela empresa de tecnologia 32 Bits.
— Buscávamos um projeto que tivesse um viés educativo e que pudesse reunir minhas duas paixões: o Rio e a literatura. A resposta natural foi Machado de Assis. Primeiro, porque ele é o maior dos escritores brasileiros e, segundo, porque ele também é o mais carioca de todos eles — justifica Daniela Name, idealizadora do software ao lado de Gabriela Dias.
GOSTOS E DESGOSTOS DO ESCRITOR
O aplicativo “Rio de Machado” funciona da seguinte forma: o usuário clica em uma das obras do escritor e terá acesso a um mapa com pontos da cidade relacionados àquele determinado livro. O software é ilustrado com pinturas e fotos de artistas renomados da época. Assim, o leitor pode fazer, em um dia só, a trilha de “Dom Casmurro", por exemplo.
— A ambição do projeto é trazer Machado de Assis para o século XXI e mostrar que a obra dele não é empoeirada — defende Daniela.
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Em dois anos de estudo, as pesquisadoras descobriram curiosidades bem interessantes relacionadas ao romancista. Descobriram, por exemplo, que ele foi morar no Cosme Velho para poder passear nas Paineiras e, ao mesmo tempo, ter acesso ao ponto final do bonde para o Centro da cidade. Que a Livraria Garnier, na Rua do Ouvidor, era a sua predileta — era lá o local de encontro com seus amigos e com o seu editor. Que Machado de Assis detestava a estátua de Dom Pedro I, na Praça da Constituição, por achar absurdo homenagear um imperador que abandonou o Brasil para voltar para Portugal, deixando seu filho pequeno para governar o país.
Outro monumento que fazia Machado de Assis franzir a testa era a Matriz de Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado (praça batizada assim, não por causa do escritor, mas em homenagem a um açougue com o mesmo nome que havia ali). Há registros em que o escritor diz achar a arquitetura da igreja tão horrorosa, que as autoridades deveriam se envergonhar. Ele mesmo contava, com ironia, que abaixava a cabeça toda vez que passava pela praça.
— Machado de Assis tinha um mapa do Rio na sua cabeça. Quando ficava entediado, o conselheiro Aires ia passear em Copacabana para ordenar as ideias. Em “Dom Casmurro”, Escobar morre afogado na Praia do Flamengo num mar revolto. Quase que o barquinho não consegue resgatá-lo. E uma das coisas mais curiosas que descobrimos é que o Largo do Moura, onde acontece a execução de um prisioneiro em “Quincas Borba”, fica, na verdade, no terminal rodoviário ao lado do Museu Histórico Nacional — enumera.
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