sábado, 13 de setembro de 2014

Te Contei, não ? - Um mar de lixo e lama

Houve um tempo em que a Praia de Tubiacanga, na Ilha do Governador, tinha areia limpa e era um bom local para um mergulho. Morador da área, Sebastião Batista dos Anjos, de 66 anos, se lembra dessa época. Hoje o cenário é bem diferente: a areia é um lamaçal, coberto de lixo de todo tipo. Já o mar está longe de ser próprio para qualquer um se refrescar: as águas, fétidas, estão repletas de esgoto. Sebastião, que era pescador, se aposentou. Hoje, a pesca é apenas um hobby para ele. E depende da maré — do contrário, não há como o barco vencer a barreira de detritos.


A reportagem é de Emanuel Alencar e Selma Schmidt, publicada pelo jornal O Globo, 24-08-2014. 

— Por causa da lama, do esgoto e do lixo, só posso ir para o mar quando a maré enche. Antigamente, Tubiacanga tinha areia branca, e eu tomava banho na praia — lembra.

AGÊNCIA JAPONESA: PROGRAMA “INSASTIFATÓRIO”

O aposentado é um dos 8,46 milhões de fluminenses que moram em áreas de 15 municípios no entorno da bacia do que, há cinco séculos, se convencionou chamar Baía de Guanabara. Decorridos 20 anos da assinatura dos contratos de financiamento do maior programa de saneamento da baía, apenas um quarto do esgoto gerado por moradores da região passa por tratamento em estações. A cada segundo, chegam ao mar aproximadamente 18.400 litros de esgoto doméstico sem qualquer tratamento — três vezes mais em relação à capacidade das oito estações construídas e reformadas desde 1998. Os cálculos foram feitos, a pedido do GLOBO, pelo engenheiro sanitarista Adacto Ottoni, consultor de Meio Ambiente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), a partir de dados do Plano Estadual de Recursos Hídricos, da Cedae e de informações do engenheiro Francisco Filardi, ex-assessor executivo do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG). 



O GLOBO inicia hoje uma série analisando duas décadas de PDBG, que consumiu R$ 2,79 bilhões de dinheiro público — em valores atualizados, segundo a Secretaria estadual de Fazenda e incluindo os R$ 468,6 milhões ainda devidos aos financiadores —, sem que nenhuma meta fosse cumprida, nem de percentual de esgoto, nem de abastecimento de água ou de gestão de lixo. A principal delas era tratar 58% do esgoto lançado na baía em 1999. Hoje, as estações que deveriam aliviar o mar da carga orgânica operam, em média, com metade da capacidade projetada. O programa, que atravessou sete governos, a partir da gestão de Nilo Batista, ainda tira o sono de auditores da Japan International Cooperation Agency (Jica), que financiou o projeto, junto com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Em relatório de junho de 2013, a Jica é contundente: classificou como “insatisfatório” o programa, a pior entre as quatro graduações possíveis. Disse que “o volume de redução de poluentes não ultrapassou 70% do nível planejado”. E que, apesar de estações de tratamento secundário terem sido construídas, a quantidade de esgoto tratado permaneceu em cerca de 30% do previsto. Em meio a renovações de promessas visando aos Jogos de 2016, especialistas avaliam que o caminho para uma baía — que vai sediar as competições de vela — mais limpa ainda é tortuoso.
— Em saneamento, o Rio ainda está com os pés no século XIX — avalia a engenheira química Dora Negreiros, presidente do Instituto Baía de Guanabara.

Arquiteto, urbanista e um dos idealizadores do PDBG, Manuel Sanches acredita que a má gestão dos recursos impediu que fossem alcançados os avanços esperados. Ele observa, no entanto, que a situação seria “muito pior” sem os frágeis resultados do PDBG:

— O programa teve muitos defeitos, e o BID só autorizou a primeira etapa de quatro previstas.

O Tribunal de Contas do Estado (TCE) fez 42 inspeções no PDBG — a última em 2013. Encontrou irregularidades abundantes, como “incompatibilidade entre serviços estimados e executados”, “cronograma físico-financeiro desatualizado” e “projeto básico inconsistente”. Numa inspeção em 2006, contabilizou 305 contratos vinculados ao programa. Do total, 268 haviam sido concluídos e 17, rescindidos. Vinte ainda estavam em andamento.


CEDAE DIZ QUE TRATA 49,6% DO ESGOTO

A Cedae contestou o cálculo do GLOBO. A empresa não informou o índice de esgoto gerado e tratado, em 1994, pela população do entorno da bacia da baía. Quanto ao tratamento atual, diz que alcança 49,6%. A companhia considera que são despoluídos 9.862 dos 19.853 litros gerados por segundo. A empresa usa como base a geração diária de 200 litros de esgoto per capita (a projeção usada pelo técnico do Crea é de 250 litros) e inclui a parcela que vai para o emissário submarino de Ipanema (3.300 litros por segundo). O estudo referendado pelo Crea, porém, excluiu todos os moradores da Zona Sul atendidos pelo emissário, que funciona desde 1977, só considerando, nas projeções de 1994 e 2014, a população cujo esgoto segue para a baía.

O presidente da Cedae, Wagner Victer, reconhece que o PDBG enfrentou erros primários, mas alega que a gestão atual colocou em operação as estações de Alegria (2009), Sarapuí (2011) e Pavuna (2014).

4 comentários:

  1. Acho que deveria sim tratar a água, mas nunca irá ficar limpa se ainda estiver indo esgoto para lá. Na minha opinião o esgoto deveria ser tratado para virar outra coisa, e não só jogar no mar ou nos rios, fazendo isso causará mais mortes por intoxicação, tanto nos humanos quando nos animais.
    A população fica muito irritada por que um mar de água própria para tomar banho, virar, em poucos anos, uma água impropria, por causa da poluição que é causada principalmente pelo esgoto.
    Giulia Mancini, 802

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  2. A tentativa de despoluir a Baia de Guanabara começou na década de 90. Mas não fora bem sucedida.
    Hoje há novos projetos para a revitalização desta. A promessa do governo do estado do Rio de Janeiro de despoluir 80% da Baía até 2016, não poderá ser comprida. A nova previsão é que atinja os 80% apenas em 2018. Mas se o processo não acelerar, muitos afirmam que, só estará 100% daqui a 15 anos.
    A incidência de manchas de óleo na água diminuiu, mas a quantidade de lixos flutuantes aumentou nas últimas décadas. Pescadores e velejadores em treinamento, dizem que encontram desde sofás a cachorros mortos lá dentro.
    A Baía estará no centro das atenções do mundo do esporte, com evento pré-olímpicos e nas olimpíadas, não passa de 325 atletas em cada evento, em mais de 30 países com provas de várias modalidades.
    Muitas pessoas estão preocupadas com a imagem do Brasil após as competições na Baía de Guanabara.

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  3. Poluição? Chega!

    Poluição, uma palavra simples mas um significado forte, problemas. A poluição é pra mim um tipo de veneno que o próprio ser humano joga na natureza para destruí-la. Acredito desde muito tempo, desde quando tenho minha opinião seriamente formada, de que pouco me importa se a desculpa das pessoas é que poluir umas coisinhas aqui e ali, poderão nos render lucros em outros lugares, a natureza não é nada mais pra mim do que um presente que Deus nos deu com o objetivo de que nos desfrutemos, e de que nos aproveitemos, mas de certo modo, muitos jogam esse presente direto na lata do Lixo.
    Sei que muitos dizem por ai em jornais e em sites que querem mudar, que estão arrependidos e que querem limpar tudo. Mas veja, como foi dito na postagem acima, tentam mas dificilmente conseguem. A poluição foi um monstro do qual eles mesmos criaram. E em vários momentos, penso, será que realmente se importam? Será que algum dia farão alguma coisa a respeito? Espero, assim como o Sr. Sebastião que realmente façam alguma coisa. Pois me entristece seriamente ver uma situação dessas. Pra mim a poluição deve ter um fim, QUEIRA AS PESSOAS OU NÃO! Isso é uma doença que nós criamos para nos auto atacar, e que deve ter um fim.



    Matheus Rangel / Turma 901
    Colégio Ativo
    Professor : José Henrique

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  4. Poluição, uma coisa que parece que nunca vai ter fim, pois as pessoas jogam lixo em todos os lugar em como se fosse normal, e isso acontece desde sempre, acho que no futuro isso pode piorar mais como já piorou até chegarmos o de estamos hoje, as pessoas não percebem o quanto o lixo e prejudicial a natureza.
    Aposto que em suas casas as pessoas não saem jogando o lixo em qualquer lugar, na verdade eu queria entender porque fazem isso jogando lixo na praia, nas ruas, rios, entre outro, sem contar que prejudica aos animais.
    Suzana -802
    Ativo

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