Rio - Ganhei um disco muito bacana, que estou ouvindo com prazer especial. Chamase ‘Estação Lapa’, uma antologia em torno de canções sobre o bairro, de compositores que cantaram o bairro ou de artistas que fizeram ali suas carreiras ou parte delas.
Tem coisas incríveis, como o grande cantor Marcos Sacramento defendendo duas preces lapianas (‘Lapa’, de Wilson Batista, e ‘A Volta do Malandro’, de Chico Buarque); participações lindas da dupla Moacyr Luz e Martinho da Vila, numa delicada parceria, e das filhas desse último, Mart’nália (cantando um ótimo samba dela e de Mombaça) e Maíra Freitas (relembrando Gonzaguinha, que bateu pernas entre a Lapa e o Estácio); além de Wilson das Neves mostrando um samba obraprima, dele e de Paulo Cesar Pinheiro.
E tem Elza Soares, gente! A sempre Elza, numa interpretação soberba e suingada de ‘Pra que Discutir com Madame?’ (Janet de Almeida e Haroldo Barbosa), a mais moderna entre as tantas que já ouvi. Adoro Elza e sua riqueza artística e moral, seu exemplo de vida e de fibra. Já me disse em uma entrevista: “Degustei lágrimas como quem degusta vinho. Sei o gosto que elas têm.” Não foi apenas uma frase de efeito. Quem conhece um pouco de sua história sabe disso. E me disse mais: “Sou vitoriosa quatro vezes: mulher, negra, estrela e gostosa.” Ô, danada.
Elza Soares, uma das mais brasileiras e longevas entre as cantoras brasileiras, está cantando melhor do que nunca. Possui recursos vocais personalíssimos, arrancando as sílabas da garganta como se quisesse estourar as veias do corpo. Parece que “rói do cóccix ao pescoço”, como no verso da música que Caetano Veloso escreveu para ela e que virou título de um dos seus mais belos CDs.
Outro que homenageou lindamente a garra da cantora, seu som em fúria, foi Chico Buarque. Lembrou o craque dos craques, na canção ‘Dura na Queda’: “Apanhou à beça, mas pra quem sabe olhar/A flor também é ferida aberta/E não se vê chorar”. Do velho 78 rotações ao CD, são mais ou menos 100 discos gravados, no Brasil e no exterior, onde sempre fez muito sucesso e impressionou os maiorais das vozes e dos instrumentos.
Diz o último verso da canção do Chico: “O sol ensolará a estrada dela...”. A estrada dela sempre esteve ensolarada, porque é mesmo a guerreira da luz.
Viva a Lapa! Viva Elza!
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E por falar em Lapa, um convite aos amigos: lanço no dia 20 deste mês, numa tarde de sábado, na Livraria Folha Seca (Rua do Ouvidor), ‘Aconteceu na Lapa — Novela Carioca em Quadrinhos’, escrita por mim e desenhada por Amorim. Quem puder aparecer já pode anotar na agenda.
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