quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Te Contei, não ? - Praça XI

RIO - Em 1917, na área da Praça Onze havia uma grande comunidade de estrangeiros. Surge então uma casa de mãe de santo que seria fundamental para a história do samba, o Centro Religioso da Tia Clata. O sobrado era frequentado por artistas, e ali nasceu o samba. Em 1941, a praça começa a ser destruída para a construção da nova via. Em 1940, o desfile das escolas de samba é transferido para a Presidente Vargas. Em 1974, passa para Avenida Antônio Carlos. Em 1976, volta à Presidente Vargas. No final dos anos 70, retorna à Praça Onze, na Avenida Marquês de Sapucaí, onde, em 1984, foi inaugurado o Sambódromo.


Pelo menos quatro ruas sumiram do mapa do Centro com a construção da Avenida Presidente Vargas: Senador Eusébio, São Pedro, General Câmara (conhecida como Rua do Sabão) e Visconde de Itaúna. Nesta última, no sobrado número 117, ficava a casa de Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata, uma baiana quituteira que, no início do século XX, promovia festas religiosas e famosas rodas de partido-alto, que atraíam a vizinhança e moradores de outros bairros. Ela foi tão importante para o carnaval que os ranchos (agremiações carnavalescas surgidas entre os séculos XIX e XX) faziam questão de desfilar em frente ao endereço da mãe de santo, falecida em 1924, em sinal de reverência.

Considerada por alguns historiadores um território sagrado para o mundo do samba (ali teria nascido o gênero musical), a Praça Onze foi parcialmente engolida pela nova avenida, perdendo o chafariz projetado por Granjean de Montigny, de 1846, e parte de sua memória. A demolição dos sobrados da chamada Pequena África não deixou sem moradia apenas os descendentes de escravos.

O antropólogo Marco Antonio da Silva Mello, coordenador do Laboratório de Etnografia Metropolitana da UFRJ e professor da UFF, lembra que a região era local de moradia e de trabalho (eram comuns as construções que compartilhavam habitação e comércio) de uma massa heterogênea de negros, ciganos, portugueses, italianos e, principalmente, judeus de várias nacionalidades.

— A Praça Onze era um local de acolhimento e o epicentro de um sistema complexo de relações, que envolvia grupos de distintas religiões, condições financeiras, nacionalidades e etnias. O samba surge como produto de engajamento e entrosamento entre eles. Pessoas que se frequentavam, se ouviam, se cruzavam nas ruas, nos mercados, nas saídas e entradas das sinagogas, nas igrejas e nos terreiros — explica o antropólogo, acrescentando que a região também era endereço de oficinas de reparo e de pequenas confecções.



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