quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Te Contei, não ? - Ilê Aiyê ( Mundo, Planeta Terra )

Ilê Pérola Negra

Daniela Mercury

O canto do negro veio lá do alto
É belo como a íris dos olhos de Deus, de Deus
E no repique, no batuque, no choque do aço
Eu quero penetrar no laço afro que é meu, e seu
Vem cantar meu povo, vem cantar você
Bate os pés no chão moçada
E diz que é do ilê a yê
Lá vem a negrada que faz o astral da avenida
Mas que coisa tão linda, quando ela passa me faz chorar 
Tú és o mais belo dos belos, traz paz, riqueza
Tens o brilho tão forte por isso te chamo de pérola negra 
Êêê, pérola negra
Pérola negra ilê a yê, ilê a yê
Minha pérola negra 
Lá vem a negra que faz o astral da avenida...
Com sutileza cantando e encantando a nação
Batendo bem forte cada coração
Fazendo subir a minha adrenalina
Como dizia Buziga
É de mim
Em me pé nagô de ilê
É de mim
Em me pé nagô de ilê a yê
Êêê, pérola negra...


Ilê Aiyê: No fim dos anos de chumbo, nasce a esperança. Em 1974, em plena ditadura militar, nasce o bloco afro Ilê Aiyê, a formação que leva os sons e ritmos do bairro da Liberdade, Salvador, para o mundo. A fundação no meio da ditadura militar é prova da coragem, da inteligência e da força que emana da cultura baiana. O bloco Ilê Aiyê, mostrando a beleza da música negra, sempre seguiu o objetivo artístico-estético de superar o racismo e os preconceitos. Imediatamente depois do governo Médici, em 1974, projetos dessa natureza ainda corriam risco de serem censurados. A cultura, em 1974, era também uma expressão política. Embora o Ilê Aiyê seja um movimento artístico, musical e cultural negro, qualquer manifestação cultural, nesses anos, corria o risco de ser considerada agitação politica. Assim se entende a consciência política que o Ilê Aiyê vem cultivando desde o início.

Hoje, o bloco Ilê Aiyê conta com os melhores patrocinadores. Mais que 35 anos depois da fundação,  o Ilê Aiyê hoje conta com o apoio da Petrobras, da Eletrobras e do BNDES, através do patrocínio do centro "Senzala do Barro Preto" ou de turnês. Já receberam subsídios pela Lei Rouanet. O centro cultural é sede do grupo que desenvolve projetos de Carnaval, de Cultura e educação para preservar e elevar a cultura e a auto-estima dos negros brasileiros e de todos que apreciam esse trabalho artístico. No centro cultural "Senzala do Barro Preto" há uma escola, vários gabinetes médicos, salas de auditório, informática e gravação. O centro, de 2004, foi fundado na antiga sede do Ilê Aiyê. Hoje em dia, os eventos do Ilê Aiyê estão abertos para a população geral, independentemente da raça ou cor.  

O Ilê Aiyê, primeiro bloco afro da Brasil, nasceu no Curuzu, Liberdade, bairro de maior população negra do país, com aproximadamente 600 mil habitantes. Fundado em 1º de novembro de 1974, com o objetivo de preservar, valorizar e expandir a cultura afro-brasileira. O Ilê, ao longo de sua trajetória, vem homenageando países africanas e revoltas negras brasileiras, que contribuíram fortemente para o processo de identidade étnica e auto-estima do negro. O Mais Belo dos Belos apropriou-se popularmente da história africana para trabalhar a construção da história do negro no Brasil.

Com certeza o movimento rítmico musical inventado na década de 70 pelo Ilê Aiyê, foi responsável pela revolução do carnaval baiano. A partir desse movimento, a musicalidade do carnaval da Bahia ganha novos ritmos oriundos da tradição africana. Com seus 3 mil associados, o Ilê hoje é patrimônio da cultura baiana, um marco no processo de reafricanização do Carnaval da Bahia.

O espetáculo rítmico-musical e plástico que o bloco mostra no Carnaval arranca aplausos da população.

Propondo seu trabalho político-educacional consciente, o Ilê o faz através de seleção temática de dança, da gestualidade, de códigos de linguagem. Ele permeia a transmissão do passado da ancestralidade africana com o contexto histórico-social do negro em condição de escravo no Brasil, com o cotidiano presente do negro baiano, além de trabalhar o caráter universal da questão afrodescendente.

O Ilê retoma todas as formas expressadas na evolução dos movimentos de renascimento negro-africano, negro-americano ou afro-americano, as decodificações para o contexto específico da realidade baiana. Mas sem perder de vista a relação de identificação entre todos “os negros que se querem negros”, de qualquer parte do mundo, ressaltando sempre o caráter comum da origem ancestral.

A Diretoria do Ilê ainda hoje afirma que o principal objetivo da organização é a “expansão da cultura de origem africana no Brasil” e tem perseguido este objetivo de formas variadas. Além da presença marcante no carnaval, onde a temática, fantasia, canção e danças têm como referência exclusiva o negro.

Um comentário:


  1. A definição da palavra cultura é simples de entender, “é todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo homem não somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade como membro dela que é”. Ou seja, a cultura é a nação e não há aquela melhor ou pior, mas sim que atende a necessidade de expressão de cada povo. Nenhuma cultura é igual a outra, pois a formação dela vem das épocas anteriores com a participação importante de cada pessoa para formar as atuais sociedades.
    Com os escravos trazidos da África para o Brasil e os portugueses de Portugal, e espanhóis, alemães de suas nações se formou a nação brasileira, com vários tipos de costumes. Nós somos herdeiros de uma miscigenação seja ela qual for a origem temos o sangue de cada um presenciado na história do Brasil e principalmente africano. Realmente eles são uma pérola negra, na verdade todos nós somos, seja qual for a cor de cada pessoa temos o sangue africano em nossas veias, temos um pedaço da cultura de vários povos da África. Parece que as pessoas se esquecem disso ou não querem nem saber ou talvez tenham medo de conhecer culturas, por isso acho muito importante conservar a cultura africana mostrando para esse país o que realmente somos, sem preconceito e sem racismo, tirar a ideia de um Brasil sem a energia, a ginga, a raça, essa pérola negra africana de nossas vidas. Posso não ter a cor negra, mas tenho a minha alma e o meu coração negro.
    Laura Lyssa Carvalho de Sousa- 701

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