Uruk, chamada hoje de Warka, a 260 km ao Sul de Bagdá, foi há cinco mil anos a primeira metrópole da Humanidade. Segundo uma exposição aberta na semana passada no Museu Pergamon de Berlim, a cidade da Mesopotâmia, que foi durante dois mil anos um centro da civilização, já dominava basicamente tudo o que é mais importante em uma metrópole: técnicas de construção para arranha-céus, administração de cobrança de impostos, elaboração de uma complexa rede de canais, e até o know-how para produção de cerveja. Além disso, ocupava uma área urbana de 5,5 quilômetros quadrados, onde viviam de 40 mil a 50 mil habitantes — algumas fontes falam em até 85 mil habitantes.
Com o título de “Uruk — Uma megacidade de 5 mil anos”, a exposição, que fica aberta em Berlim até 8 de setembro, mostra fragmentos de uma cidade que não apenas foi um berço da civilização como teve também um papel fundamental na urbanização do mundo. Segundo a arqueóloga Margarete van Ess, uma das curadoras da mostra, novos exames magnéticos (magnetograma) revelam que, além de construir casas, os habitantes da primeira metrópole do mundo sabiam tocar obras complexas, monumentais, como os prédios de doze metros de altura ou torres de 25 metros, que eram interligadas por uma plataforma.
— Uruk tinha não apenas casas e templos, mas também uma complexa rede de canais que atravessava toda a cidade — afirma a arqueóloga, que pesquisa as ruínas há 30 anos.
Para ressaltar o aspecto de metrópole de Uruk — com o seu famoso muro de Gilgamesh, de 11,5 km, que cercava a cidade e foi descrito no épico “Gilgamesh”, uma das obras literárias mais antigas já conhecidas — os organizadores da exposição mostram, junto às relíquias e reproduções da antiga Mesopotâmia, modernos arranha-céus de Hong Kong, revelando o desenrolar de uma história que começou há 5 mil anos entre os rios Tigre e Eufrates.
Mas, como conta Margarete van Ess, não foi apenas em termos de construção e urbanismo que os antigos sumérios, assírios e babilônios deixaram um importante legado. Para ordenar a vida em uma grande cidade, eles criaram um código de lei. Inventaram também a roda, o arado e um calendário de doze meses, com o qual começaram a refletir sobre História e até a filosofia.
Argila era o material que existia em abundância na cidade e que era usado na produção de estátuas e de placas onde eram gravados pequenos textos em escrita cuneiforme, como um placa contendo uma lista de preços de cereais feita há 5 mil anos e que pode ser vista no Pergamon. Mais de mil placas deste tipo foram escavadas nas últimas décadas. A escrita possibilitou o surgimento da literatura, inventada com o objetivo principal de acompanhar o desenvolvimento das transações comerciais — que, como ficavam cada vez mais complexas, exigiam alguma forma de registro dos bens, preços e vendas.
Seca fez cidade crescer
Segundo Margarete van Ess, a primeira metrópole do mundo acabou surgindo por conta de uma grave seca, que fez com que a população do campo migrasse para a cidade, fazendo “explodir” a sua população e as construções urbanas.
— Um dos motivos que levou à migração das pessoas das aldeias para a cidade foi uma mudança climática, uma grande seca. As pessoas pensaram que seria possível se organizar melhor para enfrentar as dificuldades na cidade. Com isso, foi criada a primeira administração urbana do mundo — diz a arqueóloga alemã.
Em Uruk surgiu também o comércio, a prestação de serviços, a arquitetura e parte importante da história da colonização da Mesopotâmia. Ainda assim, a trajetória dessa civilização continua sendo pouco conhecida. Segundo a arqueóloga, cem anos de pesquisas e escavações no Sul do Iraque revelaram apenas 5% da história de Uruk.
Sabe-se que o rei — que era visto como 66% homem e 34% deus — estava à frente de uma administração complexa. Na cidade, havia uma central que recebia todos os produtos agropecuários para distribuir mais tarde aos consumidores. Os processos de chegada e saída dos produtos eram registrados nas placas de argila. As classes já eram bem demarcadas. Junto dos reis e sacerdotes, foi formada uma elite administrativa, a classe rica, que estava acima da classe média, dos agricultores e produtores e da classe baixa, que contava com poucos recursos.
Segundo o catálogo da exposição, Uruk permaneceu a maior cidade do mundo até o século VI a.C., quando foi superada por Babilônia, o novo “centro do mundo”.
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