quinta-feira, 9 de maio de 2013

Resenhando - A Legião resiste

O Brasil de hoje não é o mesmo que viu surgir a banda Legião Urbana. Ainda assim, as músicas compostas pelo seu líder, Renato Russo, morto há 17 anos, continuam falando aos seus fãs cinquentões – e também aos seus filhos. Isso seria motivo de elogio, mas esconde uma verdade desagradável: a Legião Urbana, que vende anualmente 200 mil discos, ecoa no público atual porque a corrupção, a violência e uma de suas facetas, o narcotráfico, ainda estão presentes na realidade brasileira. Isso explica, por exemplo, por que o diretor René Sampaio escolheu levar para as telas a canção “Faroeste Caboclo” no filme homônimo, que estreia dia 30. A história de João do Santo Cristo (Fabrício Boliveira), que sai da Bahia e vai tentar a vida em Brasília, entrando no submundo das drogas, passa-se nos anos 1970. Mas fala ao Brasil atual, onde essa mazela é cada vez mais presente.
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Essa música foi composta por Russo antes da criação de sua banda, período mostrado no filme “Somos Tão Jovens” (estreia na sexta-feira 3). A produção, assinada por Antonio Carlos Fontoura, trata da juventude do roqueiro (Thiago Mendonça) até o surgimento da Legião. A proposta não é reforçar o mito, mas descobrir na trajetória do garoto uma experiência que dialogue com a juventude de hoje – e aqui entra o outro lado da banda que não envelhece, ao retratar as angústias adolescentes. Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial, atribui esse interesse aos temas “universais e atemporais” das canções. Ele se refere às composições “Será” e “Ainda É Cedo”. Biógrafo de Russo, o jornalista Arthur Dapieve prefere a produção mais social, que serviu de inspiração para “Faroeste Caboclo”: “Versos como ‘nas favelas, no Senado, sujeira pra todo lado’ ainda são atuais”. Produtor da maioria dos discos da banda, Mayrton Bahia acredita que a Legião se mantém viva porque sua lacuna é difícil de ser preenchida: “Vivemos uma crise de identidade, coisa que a Legião tinha de sobra.”
 
 
Fotos: CRIS BIERRENBACH/FOLHA IMAGEM; Divulgação; Hugo Santarem

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