Uma nova biografia de Frank Sinatra conta os anos de formação do primeiro ídolo adolescente do século XX
Rafael de Pino
O cantor Frank Sinatra morreu em 1998 como a maior estrela da música popular americana no século XX. Sua voz, marca que valeu a Sinatra o reverente apelido A Voz, é ainda hoje reconhecida por diferentes gerações nos acordes de sucesso como "New York, New York" ou "My way". Sinatra foi fundamental até para divulgar a música brasileira, ao cantar traduções de "Dindi" e "Garota de Ipanema" ao lado de Tom Jobim. Tornou-se um dos principais embaixadores da bossa nova no mercado internacional. Tudo isso é a história de um músico maduro e consagrado. Antes dos 40 anos, Sinatra quase destruiu a própria carreira entre polêmicas com a Máfia e problemas em suas valiosas cordas vocais. Só reencontrou o sucesso graças a um papel consagrador no cinema, que lhe deu um Oscar. Essa pré-história de Sinatra, tão ou mais rica que a carreira inteira de outros ídolos pop, é o tema da biografia Frank - a voz, do escritor americano James Kaplan.
O livro de Kaplan (Companhia das Letras, R$ 69) é único entre as biografias de Sinatra, não só por dedicar 752 páginas apenas à primeira metade de sua vida. Seus outros biógrafos escolheram entre dois caminhos: a celebridade, entre relacionamentos amorosos difíceis e flertes com o crime organizado, e o artista, aspecto esgotado pelo aclamado livro Sinatra! The song is you, do crítico americano Wal1 Friedwald. O mérito de Kaplan é traçar o caminho do meio. Ele explica Sinatra por meio das pessoas que forjaram seu caráter e sua excelência musical.
A primeira e principal influência sobre ele foi a mãe, Dolly Garaventa. "Em vários aspectos, Sinatra e Dolly são a mesma pessoa': disse Kaplan a ÉPOCA. "Ela era uma mulher pequenina, mas poderosa, com uma mente brilhante e muita autoridade:' Dolly era uma líder política do Partido Democrata, ao mesmo tempo que tinha importantes conexões com a Máfia local. Em Hoboken, Nova Jersey, cidade-dormitório próxima a Nova York, ela deu à luz seu filho único num parto traumático para ambos. Frank precisou ser retirado a fórceps. O procedimento marcoulhe com uma enorme cicatriz no rosto, que ele esconderia pelo resto da vida. Dolly nunca teve outro filho. O pai, Marty, é descrito como um homem tranquilo e de senso de humor irônico, que pouco influenciou a formação de Frank.
A relação de mãe e filho dividia-se entre a violência passional e o mimo. Kaplan descreve surras "corretivas" com tacos de madeira e, logo depois, abraços afetuosos. Quando a situação financeira da família melhorou, eles se mudaram para uma casa maior. Frank, com 11 anos, ganhou quarto próprio e um rádio. Por meio dele, Sinatra teve suas primeiras "aulas de música". Seu primeiro professor foi o cantor Bing Crosby. Sinatra copiaria no palco a aura de intimidade que Crosby trouxe às gravações. "Ele tinha um grande senso de ritmo e estilo e uma bela voz. Sinatra era fascinado por ele", diz Kaplan. O jovem Sinatra começou a fazer seu nome como cantor da orquestra do trompetista Harry James, em 1939, aos 23 anos. No fim desse ano, foi convidado a se mudar para a orquestra de um de seus ídolos na música, o trombonista Tommy Dorsey. Segundo Kaplan, Sinatra copiou tudo de Dorsey, do controle do fôlego no palco à marca de colônia, Courtley. Também em 1939, casou-se com Nancy Barbato, uma jovem de família rica, com quem teve três filhos.
Não demorou para que ele abandonasse a big band de Dorsey e seguisse carreira solo. No início da década de 1940, Sinatra já era o primeiro na lista de mais queridos das revistas Billboard e Downbeat. Com a fama, vieram o assédio da imprensa e os escândalos relacionados a casos extraconjugais e relações nunca esclarecidas com a Máfia italiana.
A segunda metade do livro é praticamente toda dedicada à relação de Sinatra com a atriz Ava Gardner (1922-1990), por quem abandonou Nancy. As cenas de amor e as brigas entre ele e Ava são descritas por Kaplan com detalhes de testemunha ocular - e técnica claramente ficcional. "Ava olhava fixo para ele, e seus olhos verdedourados diziam que ela conhecia todos os seus segredos. O sorriso que ondulava num canto daqueles lábios incríveis confirmava isso. Seu maior segredo era este: ela o possuía': escreveu Kaplan sobre um dos encontros românticos. Nesta cena, os dois estavam sozinhos. Na autobiografia da atriz, Ava: minha história, não há detalhes sobre esse encontro.
A narrativa com ares de romance de Kaplan obteve recepção ambígua na imprensa americana. A crítica Michiko Kakutani, do jornal The New York Times, chamou as cenas de encontros tórridos entre Ava e Frank de "especulativas': "Forçam o leitor a correr para as notas no fim do livro, na tentativa de encontrar possíveis fontes da informação': afirmou. Kaplan não se preocupa. "Fiz três anos de uma pesquisa cuidadosa, mas quis tornar o livro prazeroso': afirma. "Ele é bem escrito como um romance, mas com a autoridade dos fatos."
Frank: a voz termina abruptamente, com Sinatra ganhando o Oscar de 1954 como Melhor Ator Coadjuvante, pelo filme A um passo da eternidade, que relançou sua carreira. Kaplan está trabalhando na continuação da história. O segundo livro deverá ficar pronto em meados do ano que vem. "Sinatra é, agora, extremamente rico e famoso. Falarei da colaboração com Tom Jobim, dos discos excelentes da parceria com Nelson Riddle, da amizade com Marilyn Monroe... Quero dar uma nova perspectiva sobre as histórias que todos conhecem muito bem", diz Kaplan.
O livro de Kaplan (Companhia das Letras, R$ 69) é único entre as biografias de Sinatra, não só por dedicar 752 páginas apenas à primeira metade de sua vida. Seus outros biógrafos escolheram entre dois caminhos: a celebridade, entre relacionamentos amorosos difíceis e flertes com o crime organizado, e o artista, aspecto esgotado pelo aclamado livro Sinatra! The song is you, do crítico americano Wal1 Friedwald. O mérito de Kaplan é traçar o caminho do meio. Ele explica Sinatra por meio das pessoas que forjaram seu caráter e sua excelência musical.
A primeira e principal influência sobre ele foi a mãe, Dolly Garaventa. "Em vários aspectos, Sinatra e Dolly são a mesma pessoa': disse Kaplan a ÉPOCA. "Ela era uma mulher pequenina, mas poderosa, com uma mente brilhante e muita autoridade:' Dolly era uma líder política do Partido Democrata, ao mesmo tempo que tinha importantes conexões com a Máfia local. Em Hoboken, Nova Jersey, cidade-dormitório próxima a Nova York, ela deu à luz seu filho único num parto traumático para ambos. Frank precisou ser retirado a fórceps. O procedimento marcoulhe com uma enorme cicatriz no rosto, que ele esconderia pelo resto da vida. Dolly nunca teve outro filho. O pai, Marty, é descrito como um homem tranquilo e de senso de humor irônico, que pouco influenciou a formação de Frank.
A relação de mãe e filho dividia-se entre a violência passional e o mimo. Kaplan descreve surras "corretivas" com tacos de madeira e, logo depois, abraços afetuosos. Quando a situação financeira da família melhorou, eles se mudaram para uma casa maior. Frank, com 11 anos, ganhou quarto próprio e um rádio. Por meio dele, Sinatra teve suas primeiras "aulas de música". Seu primeiro professor foi o cantor Bing Crosby. Sinatra copiaria no palco a aura de intimidade que Crosby trouxe às gravações. "Ele tinha um grande senso de ritmo e estilo e uma bela voz. Sinatra era fascinado por ele", diz Kaplan. O jovem Sinatra começou a fazer seu nome como cantor da orquestra do trompetista Harry James, em 1939, aos 23 anos. No fim desse ano, foi convidado a se mudar para a orquestra de um de seus ídolos na música, o trombonista Tommy Dorsey. Segundo Kaplan, Sinatra copiou tudo de Dorsey, do controle do fôlego no palco à marca de colônia, Courtley. Também em 1939, casou-se com Nancy Barbato, uma jovem de família rica, com quem teve três filhos.
Não demorou para que ele abandonasse a big band de Dorsey e seguisse carreira solo. No início da década de 1940, Sinatra já era o primeiro na lista de mais queridos das revistas Billboard e Downbeat. Com a fama, vieram o assédio da imprensa e os escândalos relacionados a casos extraconjugais e relações nunca esclarecidas com a Máfia italiana.
A segunda metade do livro é praticamente toda dedicada à relação de Sinatra com a atriz Ava Gardner (1922-1990), por quem abandonou Nancy. As cenas de amor e as brigas entre ele e Ava são descritas por Kaplan com detalhes de testemunha ocular - e técnica claramente ficcional. "Ava olhava fixo para ele, e seus olhos verdedourados diziam que ela conhecia todos os seus segredos. O sorriso que ondulava num canto daqueles lábios incríveis confirmava isso. Seu maior segredo era este: ela o possuía': escreveu Kaplan sobre um dos encontros românticos. Nesta cena, os dois estavam sozinhos. Na autobiografia da atriz, Ava: minha história, não há detalhes sobre esse encontro.
A narrativa com ares de romance de Kaplan obteve recepção ambígua na imprensa americana. A crítica Michiko Kakutani, do jornal The New York Times, chamou as cenas de encontros tórridos entre Ava e Frank de "especulativas': "Forçam o leitor a correr para as notas no fim do livro, na tentativa de encontrar possíveis fontes da informação': afirmou. Kaplan não se preocupa. "Fiz três anos de uma pesquisa cuidadosa, mas quis tornar o livro prazeroso': afirma. "Ele é bem escrito como um romance, mas com a autoridade dos fatos."
Frank: a voz termina abruptamente, com Sinatra ganhando o Oscar de 1954 como Melhor Ator Coadjuvante, pelo filme A um passo da eternidade, que relançou sua carreira. Kaplan está trabalhando na continuação da história. O segundo livro deverá ficar pronto em meados do ano que vem. "Sinatra é, agora, extremamente rico e famoso. Falarei da colaboração com Tom Jobim, dos discos excelentes da parceria com Nelson Riddle, da amizade com Marilyn Monroe... Quero dar uma nova perspectiva sobre as histórias que todos conhecem muito bem", diz Kaplan.
Revista Época
Nenhum comentário:
Postar um comentário