sábado, 4 de janeiro de 2014

Te Contei, não ? - Morro de São Paulo

Conheça a historia do comércio negreiro e saiba porque essa famosa ilha, na Bahia, é conhecida como atual Zona Franca para as drogas.

Por Francisco Neto




 
Entre os séculos XVI e XIX, cerca de cen- tenas de milhares de escravos vindos de várias partes da costa africana fo- ram recambiados ao Brasil tanto pelo tráfico lícito de escravos quanto pelo ilegal. Na Bahia, segundo o etnólogo Pierre Verger, o trá- fico de escravos pode ser dividido em ciclos, e estes, em quatro períodos.
 

O ciclo de Guiné, numerado como o primeiro, ocorreu na segunda metade do século XVI e recebendo tal denominação em função da rota do tráfico, que tinha inicio na costa oeste da África, ao norte do Equador (região onde hoje estão situados os atuais Senegal, Guiné Bissau e Gâmbia). Historiadores quânticos calculam que nesse período tenham chegado ao Brasil entre 50 e 100 mil africanos, contudo extra- oficialmente calcula-se que foi muito mais. Na Bahia, esse ciclo teve uma média representati- vidade.
O segundo ciclo, O de Angola e Congo, teve início por volta de 1580, mas estendendo-se até o final de século XVII. O número de africanos escravizados e degredados da África Austral que chegaram ao Brasil é calculado em aproxi- madamente 600 mil. Na Bahia não se sabe ao certo: o número de escravos que vieram desta parte do continente africano originou trafico ilícito dominante, devido a grande sonegação de impostos pelos Traficantes de Escravo pe- rante a Coroa Lusitana
O certo é que a maioria deles foi levada para trabalhar nos engenhos de cana-de-açúcar, instalados na região do Recôncavo. Além dos angolas e congos, foram também aprisiona- dos e trazidos para o Brasil os escravos Ban- tos de Moçambique.Varias etnias neste perío- do foram transladas da África ,Meso África, África Sul e Oeste, como os Malês, Bantos, Nagôs- Iorubás , Aussás, Jêjes, Ilês e outros, sendo recambiados das Missões Portuguesas instaladas no litoral Africano onde levavam um tempo de Quarentena, que na verdade durava muito mais de quarenta dias, como forma de dar espaço à catequese por parte dos jesuítas na incrustação da nova fé, para evitar desta forma sublevações no translado entre os Oceanos.
Antes mesmo de chegarem ao mercado no cais do porto de São Salvador, os escravos sobreviventes enfrentavam uma outra qua- rentena em entrepostos nas ilhas do Morro de São Paulo pertencente a Cairú, sendo esta a segunda cidade mais antiga do Brasil. cha- mada pelas nações indígenas como Aracaju- ru, ou em boa tradução Tupi, "Casa do Sol", e posteriormente na Vila Nossa Senhora do Amparo, atual cidade de Valença no médio sul ou como é hoje conhecida, no Baixo Sul da Bahia. Assim grande parte dos escravos eram vendidos para as plantações de cana- de-açúcar no próprio recôncavo baiano, onde havia uma preocupação na preparação do escravo para venda, que funcionava como espécie de engorda e convalescimento como forma de atrair compradores e valorizar a mercadoria.Os valor dos escravos variavam de onde seria a sua procedência, ou seja, os nagôs eram mais robustos e eram mais usados na estiva em trabalhos pesados. Já os Jêjes desenvolviam trabalhos mais rebus- cados e minuciosos, como trabalhos artesa- nais, sendo estes últimos de maior valor por ter "maior qualificação" em trabalhos mais rebuscados.
O medo de contrair doenças fazia com que os traficantes de escravos procurassem suas presas em outras regiões como Gana e o Golfo da Guiné.
Mudanças
No final do século XVII, uma grande epide- mia de varíola registrada, em Angola, provocou assim uma nova mudança na rota do tráfico ne- greiro para o Brasil.
O receio de contrair a doença fez com que os traficantes voltassem a buscar escravos na região mais acima, onde hoje se situa Gana e a costa do golfo de Guiné. O ciclo da Costa da Mina perdurou por dois terços do século XVIII. Dessa região da costa africana calcula-se que tenham vindo para ao Brasil cerca de 1,3 mi- lhão de escravos. Sendo assim, com certeza a guerra entre nações locais contribuiu como forma preponderante para a escravidão, onde brancos europeus, metidos a corajosos, se po- sicionavam com certa segurança e conforto, (se é que existia naquelas condições), no litoral da África, de onde montavam "Postos de Recebimento de negros", como Ponto Comercial de compra de mercadorias, ou seja "negros" que eram aprisionados por eles próprios de nações inimigas, os vendiam, ganhando muitos Zimb's , alem de se livrar de certa forma de "um problema", mandando os inimigos de suas nação para "Alem Mar". Contudo, os mesmos que aprisionavam seus irmãos negros e os vendiam eram os que seriam capturados logo em seguida e sofreriam a mesma degradação para o novo mundo onde trabalhariam como escravos até a morte.
Existe outras versões historiográficas que afirmam que Cairu fora a primeira Cidade no Brasil, povoada por náufragos das expedições Guarda Costas que vieram fazer reconhecimento e policiar o litoral Brasileiro 2 Moeda Africana (Angola)
Visão geral do Morro de São Paulo: um paraíso para o traficantes desde os tempos do comércio negreiro
Neste contexto desponta o vale do Rio Una que compreende hoje a região de Cairu, Valença e cidades circunvizinhas localizadas na capitania de São Jorge dos Ilhéus, pertencente ao donatário, Jorge de Figueiredo Correia, onde Cairu figurava como ponto de comando na área mais ao norte da referida Capitania.
A região de grande importância histórica, pois foi sendo a segunda cidade mais antiga do Brasil. Já foi chamada de Aracajuru (casa do sol) pelos indígenas que lá habitavam. Surgiu no século XVI, durante o povoamento da Capitania de Ilhéus.
O Tráfico mais comum era o de escravos onde a comercialização clandestina destas "peças", gerou um grande prejuízo para a "Coroa Portuguesa", devido à sonegação de tributos destinados a ela. Outros aspectos salutares é que existe ainda hoje no "Morro" uma área conhecida como "Praia do Zimbo, que segundo Valter Passos, esse nome fora dado por existir muitas conchas do mar que eram usadas como moeda na Angola por tribos Africanas, conhecidas por "zimb", que significa "dinheiro", desencadeando um grande contrabando dessas conchas para a África, onde eram trocados por escravos e que inflacionavam, o comércio africano.
Tais relatos históricos nos fazem inferir que a tradição da ilha do Morro de São Paulo de estar envolvida na contemporaneidade com o trafico internacional de drogas e contrabando, seja conseqüência ainda do período da colonização brasileira devido à falta de fiscalização do governo, sendo corrigido depois pela "Coroa quando realmente sentiu a necessidade de estancar a "Sangria" de tributos que o trafico e o contrabando desencadeava ,construindo ali primeiramente um pequeno forte (Forte Conceição, 1630), e o ampliando (Fortaleza do Tapirandu, (1728) após a invasão holandesa em Salvador em 1624 comandada pelo Comandante Johan Van Dortt e o sague da ilha pelo holandês Pieter Pieterzon Hiyn em 1628.
 
Roteiro O Morro de São Paulo modernamente está inserido no roteiro turístico mais conhecidos do mundo, com pousadas , hotéis de luxo, restaurantes de culinária internacional. Tem esse status devido à sua beleza natural e histórica, como a Fonte do Céu e a fortaleza do Tapirandu e a Fonte Imperial construída em 1746, esta última o maior sistema de abastecimento de água da Bahia colonial. Porém, mesmo com todo esses rebuscamentos, o antigo Promontório, situado na extremidade norte da ilha de Tinharé, ainda sofre a ação do tráfico e contrabando nos dias de hoje, sendo o tráfico de drogas e contrabando e descaminho de mercadorias pratica dos pelos chamados "Traficantes da Modernidade", que não hesitam em disseminar o vício e dependência das pessoas que sofrem um outro tipo de escravidão que é a escravidão da dependência química O tráfico de drogas, um subtipo de escravidão, mata tanto quanto a escravidão negra em épocas remotas, sendo diferenciada pelo fato deste tipo de "escravo" entrar por livre e espontânea vontade e não mais conseguir sair por ficar dependente.
Os membros do seu exército clamaram por vingança e juraram fidelidade eterna à causa que Viriato acalentara desde que decidira carregar, nos seus ombros, os destinos de um povo.
Outra modalidade muito usada na colonização Brasileira do local que perdurou por muito tempo, existindo hoje, em escala menor foi o contrabando de mercadorias que outrora era feito com seres humanos (negros escravos) e por volta da década de 1980 foi muito comum grandes navios ancorarem alguma milhas em frente à barra do Morro de São Paulo, onde pequenos barcos navegavam ao seu encontro na madrugada de lá eram contrabandeados caixas de Whiski e bebidas em geral, bem como aparelhos eletro eletrônicos e outros itens. Contudo, com o passar dos tempos, tal infração penal foi coibida pelo patrulhamento ostensivo da Marinha do Brasil por terra e por mar, com a fiscalização de documentos, habilitação e material de segurança dos barcos de pesca das ilhas, bem como a mudança desse tipo de negócio que migrou integralmente para o tráfico ilícito de entorpecentes por ser mais lucrativo e dar menos despesas de investimento.
A falsa visão construída nos primórdios da Tráficocolonização e povoamento da ilha do Morro de São Paulo, onde está "Zona Franca", permite que tudo se poderia fazer sem punição por parte do Estado isto ainda se perpetua nos tempos atuais, onde pessoas do mundo inteiro conhecem como ponto de liberdade social, confundindo muitas vezes as atrações paradisíacas e seu hábito naturalista, onde é comum na terceira e quarta praia, as pessoas andarem nuas e banharem-se ao sol e no mar, do jeito que foram concebidos, com a libertinagem e a promiscuidade de uma terra sem lei.
Vivemos em um país sob a égide do Estado democrático de Direito que regula a sociedade como um todo e não poderia ser diferente neste pedaço de paraíso no baixo sul da Bahia. Tais pessoas ou grupos turísticos, ao chegarem na ilha, se deparam com uma sociedade bem organizada e estruturada, cumpridora de suas obrigações e seguidora da lei e dos costumes e vêem que a visão equivocada passada pelo turismo Sexual e Toxicômano não se subsume a realidade geral do lugar Como todo ponto turístico do mundo a ilha enfrenta problemas de tráfico de drogas e outros, que são duramente reprimidos pelos agentes coercitivos do Estado como a policia Civil, Militar, Justiça, Ministério Publico e demais órgãos que compõe o arcabouço do Estado e da Sociedade para combater as ações criminosas.
E assim este pedaço do Paraíso que desde a colonização Brasileira fora usado como ponto de contrabando, tráfico negreiro e de tóxicos e entorpecentes na contemporaneidade luta com bravura para apagar e esquecer o estigma de uma terra sem lei que há séculos atrás corsários, piratas (franceses e holandeses) navegavam pelas suas mansas águas na certeza da impunidade.
A Região do Tráfico
O Morro de São Paulo localiza-se na região da Ilha de Tinharé (Tynharea), que em tupi significa "terra que avança para o mar". Protegia a chamada "barra falsa da Baía de Todos os Santos", entrada estratégica para o Canal de Itaparica. Situa-se bem neste município e pelo fato da proximidade com a capital, Salvador, e a grande distancia da capital dos Ilhéus, só nominalmente estavam sob jurisdição da capitania de Ilhéus, ficando sem atuação do governo naquela região, tornou-se então, o Morro de São Paulo,como afirma "Silva Campos", isento tanto da jurisdição do Governo Geral do Brasil como também da autoridade do donatário,ou melhor,uma espécie de "Zona Franca", freqüentada por aventureiros, traficantes, contrabandistas, piratas, todos seguros da imunidade pelos crimes que praticavam.
O pórtico chamado Portaló fez parte do forte do Morro de São Paulo, que foi construído para conter as invasões holandesas no século XVII
Pedaços de História
Hoje em dia o Morro de São Paulo é um dos exemplos mais utilizados para caracterizar a diversidade do país. O local, apesar de seu passado, possui praias bonitas e piscinas naturais com água transparentes. Os guias turísticos definem a ilha da seguinte maneira:
"É a ilha dos opostos, sejam eles o festeiro que mal vê a luz do dia ou o aventureiro que procura uma praia deserta cheia de coqueiros. Todos podem se maravilhar com Morro de São Paulo, não importa se vêm de mochila nas costas ou com um pacote cinco estrelas de um resort de luxo. Morro é a cara do Brasil, mesmo que o brasileiro seja apenas um dos visitantes.
A ilha já caiu no gosto do mundo, e hoje, caminhando pelas ruelas estreiras - e sem carros - pode-se ouvir os mais diferentes sotaques de espanhol, inglês, hebraico, alemão, finlandês, japonês, português, baianês, não importa. Todo mundo tem seu espaço". Há alguns lugares históricos que valem a pena ser citados. O predileto dos guias está logo ao sair do porto, quando o visitante se depara com um monumento de mais de trezentos anos, o Portaló. Esse pórtico faz parte do Forte de Morro de São Paulo, construído para conter as invasões holandesas no século XVII. A vila foi fundada em 1535 e já teve importância estratégica nos primeiros séculos da colonização. Foi também a ilha em que submarinos alemães torpedearam navios mercantes brasileiros, fato que provocou a entrada do Brasil na II Guerra Mundial.
FRANCISCO NETO é graduado em História pela UNEB, Pós-Graduado em Psicopedagogia pela FACE , Bacharelando em Direito pela Faculdade Independente do Nordeste, Graduando em Filosofia pela Faculdade Batista Brasileira; Mestrando em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia UNEB. É sócio Diretor do IESTE - Instituto de Educação Social e Tecnológico e atual Diretor de Pólo e Prof. Da FACE-Faculdade de Ciências Educacionais - Pólo Jaguaquara.
Para saber +
Freitas, Waldir Oliveira. A cidade Industrial de Valença - Um Surto de Industrialização na Bahia do sé́culo XIX. Universidade Federal da Bahia, Centro de Estudos Baianos, 1985.
Oliveira,Edgard Otacílio da Silva. Valença: dos Primórdios à Contemporaneidade. Secretaria da Cultura de Salvador, 2006.
A Fonte do Céu fica entre a Gamboa do Morro e o Morro de São Paulo e consiste em uma grande gruta(caverna habitada de morcegos) de onde brota uma queda d'agua muito bonita ,de águas cristalinas. A fonte Imperial é uma das únicas que foram construídas sob a égide do império brasileiro a possuir um Decantador (sistema de purificação da água). Além desta fonte, existe apenas uma outra em Petrópolis (RJ), onde foi a moradia da família Real

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