FERGUSON — Os protestos pacíficos retornaram à cidadezinha de Ferguson na noite de quarta-feira e o governador Jay Nixon determinou nesta quinta-feira a retirada da Guarda Nacional, após dez dias de revolta pela morte do jovem negro Michael Brown pela polícia. Agora, moradores deste subúrbio de St. Louis, no Missouri, denominações religiosas e grupos de militância de direitos civis tentam fazer da tragédia um elemento aglutinador que produza um movimento nacional de apoio às comunidades negras que se sentem marginalizadas.
Nas ruas de Ferguson, nasceu formalmente na última terça-feira — um dos mais violentos dias de manifestações — o Clérigos Unidos, que reúne pastores, ministros e reverendos de mais de 20 correntes cristãs e ganhou filiais na vizinha St. Louis, em Omaha (Nebraska), Detroit e Chicago. O grupo quer organizar uma força-tarefa nos EUA de educação e conscientização dos afro-americanos e começa a articular-se com outras entidades em meio às atividades na Avenida West Florissant.
A união dos religiosos foi deflagrada pela necessidade urgente de contenção da violência nas ruas de Ferguson, diante do confronto entre policiais e manifestantes. As congregações têm grande autoridade moral sobre as comunidades negras e foram fundamentais para acalmar os ânimos nas últimas 48 horas. Mas a situação reforçou a avaliação de que é preciso preparar as comunidades para uma batalha permanente, que envolva fazer valer seus direitos, criar oportunidades para jovens e crianças e resgatar o senso de “propriedade” em relação aos bairros e às comunidades.
— Essa comunidade não se sente reconhecida pelo poder público, esta é uma situação séria, sempre estivemos próximos de uma revolta, mas nunca tínhamos ido tão longe. Temos que começar a nos organizar para aumentar o poder das comunidades. Esperamos que do caos consigamos estabelecer ordem — afirmou o pastor Michael Robinson, de St. Louis, um dos fundadores do Clérigos Unidos.
Cinco temas são considerados essenciais pelo grupo: educação formal, planejamento financeiro familiar, direitos legais, emprego e habitação. O objetivo é oferecer aulas, aconselhamento e técnicas de mobilização para forçar mudanças. Várias entidades já estão conversando com o Clérigos Unidos para dar corpo ao movimento, como a Associação Nacional dos Advogados (que está prestando assessoria gratuita aos presos nas manifestações) e a Rede Nacional PICO (de organização comunitária e de base).
Grupos de militância negra considerados radicais como o Novo Partido Pantera Negra também estão se aproximando. Seu diretor nacional, ministro Moe Maat, de Los Angeles, está em Ferguson e mantém conversas com clérigos.
— Se eles abrirem as portas dos templos, nós conseguimos levar essas crianças e esses jovens para dentro, para atividades educacionais. Tudo começa com consciência, autodeterminação — afirmou Moe Maat.
O pastor Robinson diz que toda colaboração é bem-vinda. Ele considera que, a partir dos anos 1970, houve muitas divisões no movimento de direitos civis, provocadas por crenças doutrinárias que isolaram amplamente os afro-americanos, que deixaram a luta organizada.
— Iniciativas como os programas de almoço grátis dos Panteras Negras foram altamente influentes junto à comunidade, mas depois se perderam. Esta é a hora em que podemos todos trabalhar juntos, aparar as arestas e sermos uma só voz, que certamente será mais fácil — disse Robinson.
A própria comunidade de Ferguson, epicentro do debate, mostra-se disposta a se organizar:
— Nós nos demos conta de que estamos trancados dentro da própria comunidade. Você ouve em tudo quanto é lugar, na sua família, nas calçadas, na hora do almoço, que precisamos nos unir e nos organizar. Foi plantada a semente do engajamento — afirmou Mike Kinmen, 35 anos, pai de dois adolescentes.
No curto prazo, os clérigos continuam preocupados com a tensão mascarada pelas cenas de calmaria desde quarta-feira nas ruas de Ferguson. A população continua revoltada com o fato de o policial que matou Michael, Darren Wilson, não ter sido preso e com o forte aparato da polícia nos protestos. Outro elemento perturbador é a morte, na terça-feira, do jovem Kajieme Powell, de 25 anos. Doente mental, ele ameaçou dois agentes com uma faca, após realizar um roubo num mercado de St. Louis, e foi baleado.
Cada policial disparou seis vezes e o vídeo divulgado pela Polícia de St. Louis deixa dúvidas sobre a real ameaça que Powell representava. Na quarta-feira, o caso era lembrando com revolta por manifestantes em Ferguson, sob acusações de que “os agentes executaram mais um cujo crime era ter a pele negra”.
Leia mais: http://extra.globo.com/noticias/mundo/caso-brown-incentiva-movimento-de-apoio-comunidades-negras-13690128.html#ixzz3BpNfQU7D
Achei essa reportagem muito interessante e também muito preocupante, pois, podemos observar o abuso de policiais, da discriminação contra negros e etc. Achei muito interessante a iniciativa desse grupo, pois eles combatem o racismo, dão alimentos, ensino e etc. Acho que não devemos esquecer esses protestos, pois só protestamos quando ocorre algo de muito ruim, ai parece que acordamos e resolvemos perceber o que realmente anda acontecendo. Devemos ter a consciência que racismo existe aqui no Brasil sim, isso não e coisa só de americano, acredito que o povo brasileiro deveria saber que o racismo existe aqui,até acredito que algumas pessoas não querem aceitar que aqui existe racismo.
ResponderExcluirJoão Pedro Albuquerque Alencar-7°-701