domingo, 17 de agosto de 2014

Te Contei, não ? - Outros olhares sobre Capitães da areia

Na obra
Capitães da Areia, Jorge Amado revela a cultura e os problemas do povo brasileiro, mesclando crença religiosa, ideologia, ceticismo e ativismo político. Sua literatura age contra toda e qualquer opressão e preconceitos que possam estar evidentes dentro do nosso povo, tirando do esquecimento traços significativos da nossa colonização, como, por exemplo, o candomblé e o falar popular. Jorge Amado trata de questões importantes em situações dialogais do cotidiano do povo brasileiro.



As “Cartas à Redação”, uma sequência de pseudo-reportagens e depoimentos que ficam no prólogo do livro e durante a narrativa também, além de propiciarem um enfoque realista ao romance, oferecem um tom de veracidade, censuram as atitudes dos poderosos e revelam, desse modo, uma sociedade desigual. Essa temática é aprofundada desde o início do livro até sua última página.
É muito presente no livro o desprezo que as autoridades têm com a pobreza. Até mesmo a imprensa, que deveria ser um órgão imparcial e que apenas transmite as informações, posiciona-se mais para acusar e julgar os meninos, do que para defendê-los ou para fazer uma observação sobre o que os levou a marginalidade. Os comentários mais frequentes da imprensa eram “A cidade infestada por crianças que vivem do furto” e “Esse bando que vive de rapina”.
Outra questão relevante apontada pelo autor na obra é em relação ao lado humano dos Capitães da Areia. Sempre haviam brigas, revoltas, roubos, estupros etc. Mas, apesar de tudo, eles eram crianças, e tinham seus momentos de brincadeira e ingenuidade, principalmente Volta Seca e Sem Pernas, personagens altamente amargos e revoltados com as condições precárias que a vida os impôs, como se pode perceber no capítulo “As Luzes do Carrossel”, em trechos como: “O rosto sombrio de Volta Seca se abria num sorriso” e “Sem Pernas ia girando num cavalo como todos aqueles meninos que têm pai e mãe, e uma casa e quem os beije e quem os ame”.
Mais um aspecto também importante na obra é a figura da mulher na vida dos Capitães da Areia. Desde simples miseráveis que eram utilizadas apenas para servi-los sexualmente, ou da Dalva, a prostituta pela qual Gato apaixona-se, temos a figura de Dora, a menina mulher que aparece na vida dos capitães e passa a representar a mãe, irmã, amiga e, por fim, esposa de Pedro Bala.
É por essas questões aqui apresentadas, que Capitães da Areia talvez seja um dos romances de Jorge Amado mais apreciados pelos leitores. É um romance que trata de uma temática real e está dentro de temas diversos, como a vida dos excluídos e suas lutas, o papel da Igreja, das autoridades e da imprensa. Enfim, a sociedade em geral é mostrada e analisada na obra, diante da problemática da delinquência juvenil.
Muitos dos problemas denunciados pelo escritor, infelizmente, ainda persistem na atualidade. O método utilizado para a recuperação de menores marginalizados precisa ser revisto urgentemente, por profissionais capacitados e sob uma administração eficaz. O nosso país vem sofrendo, há vários séculos, com um sistema social perverso. Acontece uma transferência de responsabilidade envolvendo autoridades que nada fazem para mudar essa situação. O país precisa tomar providências imediatamente, pois problemas histórico-sociais ainda persistem, tanto por falta de vontade política, quanto por falta de solidariedade ao próximo.

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