sábado, 2 de agosto de 2014

Te Contei, não ? - A tecnologia no ensino




É inegável que a comunicação presencial, no ato de ensinar e aprender, não pode ser excluída do processo didático; que o diálogo e o vínculo afetivo são insubstituíveis e que o ambiente virtual não substitui ou dispensa a interação, o diálogo, as relações humanas no ato de aprender, de ensinar e na produção de conhecimento



por Mary Rangel


É inegável que a comunicação presencial, no ato de ensinar e aprender, não pode ser excluída do processo didático; que o diálogo e o vínculo afetivo são insubstituíveis e que o ambiente virtual não substitui ou dispensa a interação, o diálogo, as relações humanas no ato de aprender, de ensinar e na produção de conhecimento. Mas não podemos fugir à realidade de que o ambiente escolar possa ser enriquecido com ferramentas tecnológicas que auxiliem e enriqueçam as práticas de ensino, a pesquisa e a interpretação e a análise crítica de textos digitalizados. Entre esses recursos podemos citar como exemplo a Webquest e os programas para download de Mapas Conceituais.
POR DENTRO
WEBQUEST

O conceito da Webquest foi criado em 1995 por Bernie Dodge, professor da Universidade Estadual da Califórnia (EUA), e tem como proposta metodológica o uso da internet de forma criativa, a fim de estimular a pesquisa e o pensamento crítico. É uma atividade investigativa na qual as informações que devem ser buscadas pelos alunos provêm, basicamente, da internet, mas podem vir de outras fontes, tais como livros, vídeos e mesmo pessoas que venham a ser entrevistadas. É uma ferramenta tão eficaz que há um link na seção Recursos da Internet para Educação no site do MEC, dedicado exclusivamente a ela. Basta acessar: e clicar na quarta aba, no lado esquerdo da página.
Bernie Dodge, o criador da Webquest
Os recursos do ambiente virtual são ferramentas dos tempos contemporâneos e o uso criativo da internet pode ser aproveitado na aprendizagem do conhecimento, assim como pode se constituir em objeto de estudo e problematização dos impasses do ambiente midiático. Além disso, a produção de mídias escolares pode também ser implementada por meio do uso criativo de blogs, podcasting - arquivos de áudio em formato digital - ou da postagem de textos audiovisuais no Youtube.
Reafirma-se, entretanto, a importância da moderação, para que o uso das ferramentas tecnológicas contribua à leitura, interpretação e produção de textos, com atenção e acuidade crítica, sem aligeiramento, superficialidade e excesso, mantendo o equilíbrio e o propósito de aprendizagem. A formação de atitudes torna-se, portanto, essencial à educação em rede.
twitter, o facebook, os chats podem ser meios de comunicação e diálogo entre os alunos e deles com os professores. As bibliotecas digitais podem ser meios de obter artigos e livros. As plataformas digitais podem ser meios de obter pesquisas, a exemplo de dissertações e teses.
Entretanto, a facilidade de acesso a trabalhos disponibilizados na internet merece especial cuidado no sentido de que o aproveitamento desses trabalhos seja feito sempre com informação da fonte e autores, ou seja, com a referência completa da origem.
A sociedade atual caracteriza-se pela informação, especialmente a que se veicula nas redes. As notícias chegam aos computadores, tablets, celulares com muita agilidade e o leitor as obtém mediante um simples toque numa tecla. Contudo, a velocidade não pode afetar a forma de ler, interpretar, analisar, deduzir, captar o conteúdo do texto com percepção crítica e contextualizada.
Ainda há que se cuidar para que a comunicação no ambiente digital não se torne mais um fator de desigualdade socioeconômica e de exclusão de camadas sociais que não tenham condições para não só adquirir equipamentos, mas também para aprender a usálos e, mais ainda, para dominar a linguagem específica da informática, seu vocabulário, seus códigos.
Os valores éticos que orientam as relações também são parte da educação para a vida e convivência no mundo virtual, de modo que o respeito, a qualificação das pessoas e a solidariedade presidam as comunicações em rede. Esses valores são essenciais para que o cenário computadorizado não subtraia o sentido, a proposta, o significado de preservação da humanidade e da relação interpessoal, sensível e solidária.

É inegável que a comunicação presencial, no ato de ensinar e aprender, não pode ser excluída do processo didático; que o diálogo e o vínculo afetivo são insubstituíveis e que o ambiente virtual não substitui ou dispensa a interação, o diálogo, as relações humanas no ato de aprender, de ensinar e na produção de conhecimento


por Mary Rangel
SAIBA +
O que é plataforma digital?
Trata-se de portais - criados, de modo geral, por instituições e organizações - que funcionam como redes sociais. Com essa ferramenta virtual, é possível que milhares de pessoas participem de debates e discussões sobre temas-chave.
Confira o lançamento da plataforma Escola Digital em:
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Acesse notícias relacionadas à educação, divulgadas em diferentes plataformas digitais em:
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Diante de novos modelos e possibilidades de comunicação através de meios e ferramentas variadas de edição e produção de textos, é importante reafirmar que não se pode perder de vista as formas como são absorvidas e aplicadas as informações.
Crianças e jovens têm facilidade de uso dos multimeios, tanto no entretenimento dos jogos e das redes sociais quanto na veiculação de suas produções em blog, fotolog ouYoutube. Entretanto, observa-se o acúmulo crescente do consumo das mídias digitais e a possível dispersão do foco das leituras, o que convoca a atenção dos educadores.
Se no trabalho pedagógico com as mídias tradicionais já se apresentava questões diversas, a cultura digital encaminha aos educadores uma dimensão maior de interrogações, como as que se exemplificam a seguir. Essas interrogações suscitam estudos que possam respondêlas de modo fundamentado.
É possível e preciso indagar sobre quando acontecem as apropriações das mídias por parte de uma comunidade escolar e quando as mídias se tornam apenas distrações ou moda. Vale também observar quando as tecnologias contribuem à formação de leitores e quando os textos passam pelos olhos de quem os lê sem construir sentidos, ou, ainda, quando as leituras são aproveitadas, por educadores e educandos, como estímulo para a autoria, ou quando são apenas para a transmissão e a reprodução de textos, em sucessivos downloads.
Não há lugar para um processo de ensino-aprendizagem estático, repetitivo, para um educando habituado ao movimento do mundo digital. O aluno é um ouvinteespectador- leitor em um novo contexto interativo. Nesse contexto, a cultura construída em rede, ou seja, a cibercultura, torna-se alvo de uma apropriação pedagógica que estimule questionamentos. Essa análise se traduz em práticas educativas que propiciam a formação de leitores-ouvintesespectadores críticos, mas também - e principalmente - de construtores produtivos e criativos de textos.
Os alunos podem usar, de modo espontâneo, os dispositivos de comunicação, pois isso acontece de maneira empírica. O que necessitam é de orientação no sentido de não perderem a percepção crítica e preservarem a moderação dos usos, de modo a não serem envolvidos pela velocidade intensa do fluxo das informações.
Submersos em um cotidiano tão veloz quanto permeado de multimídias e multitarefas, os alunos podem perder condições de concentração na leitura de um texto, a ponto de não interpretarem adequadamente suas ideias e mensagens, o que dificulta a elaboração de conceitos e o exercício do pensamento reflexivo. Recomenda-se, então, prudência para "navegar" nas redes da internet com segurança, sem submergir na onda digital. É necessário priorizar o compromisso educativo, para que se ensine essa prudência àqueles por cuja formação a escola e a família são responsáveis.
"Meus filhos terão computadores, mas antes disso terão livros. Sem livros, sem leitura, nossos filhos serão incapazes de escrever, inclusive a própria história."
Bill Gates
CONCEITO
AXIOLÓGICO

Axiológico é tudo aquilo que se refere a um conceito de valor ou que constitui uma axiologia, isto é, os valores predominantes em uma determinada sociedade. O aspecto axiológico ou a dimensão axiológica de determinado assunto implica a noção de escolha do ser humano por valores morais, éticos, estéticos e espirituais. Fonte: .
A comparação entre as mídias impressas (consideradas "tradicionais") e as "novas" mídias digitais também necessita de prudência e moderação. Os livros, os artigos, os jornais têm contribuições significativas e necessárias à formação de leitores e autores. Ler na tela não exclui as possibilidades e contribuições da leitura de textos impressos.
Pode-se, então, reconhecer que as tecnologias de informação e comunicação, por serem partes indissociáveis da vida social, devem ser consideradas pela comunidade escolar e aproveitadas em seu potencial como recursos ao processo de ensino-aprendizagem. Todavia, a presença e usos dessas tecnologias no ambiente da escola devem também ser acompanhados por processos e práticas socioeducacionais que aproveitem suas funções e evitem suas disfunções, que incidem sobre a redução da criticidade, da produção original de textos, da inovação.
Necessariamente, quando se propõe praticar e processar o ato educativo, fundamentado em princípios e aportes pedagógicos, é preciso reconhecer e reafirmar a sua recorrência a valores. Desse modo, o ato educativo e, portanto, pedagógico, de ensinar e aprender, assim como ensinar a aprender, é essencialmente axiológico .
Essas considerações também fundamentam a compreensão das tecnologias nos processos e práticas educacionais como recursos cuja aplicação é vinculada e recorrente à formação de valores. Portanto, a inserção de recursos tecnológicos no campo da educação assume o seu propósito formativo e os valores que o orientam.
Assim, mais do que conceber as tecnologias na educação, é preciso concebê-las como tecnologias da educação, ou seja, como sendo elementos e instrumentos a serviço da educação. Nesse sentido, as tecnologias agregam, incorporam os valores da educação: (relacionar a valores) aqueles que a movem, que lhe dão sentido, que constituem sua substância, que a definem (RANGEL; FREIRE, 2012).
SAIBA +
BIBLIOGRAFIA RANGEL, Mary; FREIRE, Wendel. Educação com tecnologia: texto, hipertexto e leitura. Rio de Janeiro: Editora WAK, 2012. ______. Ética e moral: valores essenciais da conduta e da formação humana. In: AMORIN NETO; ROSITO, Margaréte May Berkenbrock. Ética e moral na educação. Rio de Janeiro: Editora WAK, 2009, p. 7-12.
Com os valores educacionais, as tecnologias da educação assumem também os seus fundamentos pedagógicos. A pedagogia e seu propósito de formação humana incorporam, entre outros, fundamentos filosóficos, sociológicos, culturais, epistemológicos e históricos (RANGEL; FREIRE, 2009).
Desse modo, na perspectiva dos fundamentos filosóficos, considera-se as tecnologias como recursos ao exercício do pensamento, o que implica em que sua leitura sejauma leitura reflexiva, crítica e contextualizada.
Conclui-se, então, realçando a importância da reflexão, dos fundamentos teóricos das práticas e do estudo crítico dos usos e potenciais tecnológicos, no interesse do diálogo e da avaliação de princípios e critérios necessários à formação educativa de leitores, capazes de usar as tecnologias como meios, e não modas, e como recursos, e não fins da comunicação social.
*Mary Rangel é Coordenadora Pedagógica dos Cursos de Graduação do Centro Universitário La Salle, Ouvidora do Colégio La Salle Abel, de Niterói, RJ, Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com Pós-Doutorado na área de Psicologia Social, pela PUC/SP, além de Professora titular de Didática da Universidade Federal Fluminense e Titular da Área de Ensino- Aprendizagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. E-mail de contato: mary.rangel@lasalle.org.br

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