Hildegard Angel, filha da estilista, fala da sua força criativa
Rio - A entrevista com a jornalista Hildegard Angel sobre a mostra ‘Ocupação Zuzu’, aberta ontem, para o público, no Paço Imperial, é entremeada de palavras e lágrimas. Não é para menos. Nas salas centenárias do Paço, a trajetória de sua mãe coragem, Zuzu Angel, é exemplarmente contada. A exposição, idealizada e produzida pelo Itaú Cultural, tem como curadores o próprio instituto, Hilde, filha caçula da estilista, e Valdy Lopes. Impossível não se emocionar.
Hilde fez da preservação a sua meta. Coube a ela a missão de manter vivas as memórias do irmão, Stuart Angel, militante do MR8, preso e assassinado em 1971 pela ditadura militar, e de sua mãe, a estilista Zuzu Angel, morta num acidente de carro, em 1976. Mais tarde, ficou comprovado que Zuzu também foi assassinada pelo regime militar. “Guardei roupas e manuscritos dela todos esses anos. Guardei para manter a chama de Stuart e da mamãe acesas. Essas chamas são a memória do Brasil”, diz a jornalista.
A mostra ‘Ocupação Zuzu’ revela em 400 itens — divididos em roupas, cartas, fotos, croquis, material gráfico, documentos e detalhes de estampas — a vida e a obra de Zuzu. Mineira de Curvelo, ela nasceu em 1921 e entrou para a história da moda brasileira de duas maneiras singulares. Na década de 60, Zuzu injetou brasilidade em suas roupas, numa época em que isso não era nada comum. Ela adicionou sem medo fitas, rendas nacionais e chitas às suas criações e passeou por temas regionais, como Lampião, Maria Bonita e festas de São João. “O Brasil não foi instrumento de uma estação. Mamãe se inspirava no Brasil assiduamente. Ela era o Brasil. Desafiou os paradigmas vigentes nas décadas de 60 e 70,
em que todos obedeciam o que vinha de fora. Zuzu ousou transgredir. E só começou a ser aceita no Brasil a partir do aplauso externo”, avalia Hildegard.
A estilista também transformou a moda em militância nos anos de chumbo. Na sua incansável busca pelo filho, Stuart, fez de suas coleções um grito, que ecoou no Brasil e no exterior. “Um dos vestidos do desfile-protesto em Nova York (em 1971, Zuzu apresentou coleção em que denunciava a truculência da ditadura militar, na casa do cônsul brasileiro) tem soldados bordados, ironizando a ditadura. Mas, ao mesmo tempo, é também um olhar terno para esses mesmos soldados”, analisa Hilde, que destaca a força criativa da mãe depois do desaparecimento de Stuart. “Ela era divertida mesmo no drama”.
Performace aos sábados e aos domingos
A Mostra ‘Ocupação Zuzu’ é dividida em quatro salas: a primeira é dedicada à família de Zuzu e às suas fontes de inspiração; a segunda mostra a força do Brasil nas criações da estilista; e a terceira e a quarta salas são focadas no famoso desfile-protesto em Nova York e no luto da estilista, que passou a se vestir de preto. “A história dela como empreendedora e criadora é também parte da história do Brasil”, ressalta Claudiney Ferreira, um dos curadores pelo Itaú Cultural.
No período da exposição, todo fim de semana, atrizes dirigidas pela estilista e consultora Karlla Girotto farão performances entre o público, lendo trechos de cartas de Zuzu. A mostra também conta com imagens em vídeo do desfile-protesto e entrevistas com a designer. O Paço Imperial fica na Praça 15, no Centro. A mostra está aberta de terça-feira a domingo, de meio-dia às 18h, até o dia 2 de novembro. De graça.
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