RIO — Ali, primeiro foi construída uma via e, pouco a pouco, aquele imenso areal se transformou numa das avenidas mais caras e elegantes do Rio — a Delfim Moreira, no Leblon. Num momento em que a cidade vive mudanças urbanísticas profundas, como a derrubada da Perimetral, a construção de novas artérias como avenida Binário, a instalação de BRTs e a expansão do metrô, o lançamento do livro comemorativo dos 175 anos do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) traz à luz fotografias raríssimas. São imagens que lembram algumas das principais obras que transformaram a Zona Sul carioca e abriram caminho para que a cidade crescesse em direção à Barra da Tijuca.
Essas mudanças foram registradas pelo fotógrafo Augusto Malta e faziam parte do acervo do engenheiro Paulo de Frontin, que durante seis meses, entre fevereiro e julho de 1919, foi prefeito do Distrito Federal (Rio de Janeiro) e comandou a pavimentação da Avenida Niemeyer, a construção da Delfim Moreira e a duplicação da Avenida Atlântica, entre outras obras. Algumas dessa fotos, da coleção doada pela família de Frontin ao IHGB, estão entre as mais de 2.300 que ilustram o livro “Brasiliana IHGB”, organizado pelo editor Pedro Corrêa do Lago, um projeto de 720 páginas.
— O livro descreve uma coleção formada ao longo de quase dois séculos pelo instituto (a mais antiga instituição cultural do país, fundada por dom Pedro II), que tem peças como uma carta de Oswald de Andrade com um desenho inédito de Tarsila do Amaral, além de uma outra em que Napoleão tenta seduzir dom João para ficar do lado dele contra a Inglaterra. Há também milhares de imagens fundamentais para reconstituir a nossa história visual, muitas delas únicas e quase todas inéditas, como os registros fotográficos da construção da cidade. Toda essa diversidade está representada no livro — explicou Pedro Corrêa do Lago.
LIVRO EXIGIU DOIS ANOS DE PESQUISA
Segundo ele, foram dois anos de pesquisa para a escolha do material. As fotos selecionadas para a edição mostram um momento de grandes mudanças que marcaram a transformação da Zona Sul do Rio. Entre elas, há uma imagem de operários trabalhando na construção de uma ponte sobre o canal do Jardim de Alah.
— Essa foto é inédita e pode representar o princípio do desenvolvimento urbano do Leblon — disse o historiador Carlos Eduardo de Almeida Barata. — É possível ver o início da construção da ponte e atrás a pavimentação da Avenida Delfim Moreira.
Operários trabalham na construção de uma ponte sobre o canal do Jardim de Alah: flagrante dos primórdios do bairro do Leblon - Augusto Malta / Arquivo IHGB
Segundo ele, um outro registro histórico feito pelo fotógrafo Augusto Malta foi a visita do presidente Delfim Moreira e do engenheiro Paulo de Frontin às obras da Avenida Niemeyer.
— O curioso dessa fotografia é que, tempos depois, um outro prefeito, o sobrinho de Frontin, Henrique Dodsworth, ia inaugurar nos anos 40 a pavimentação do Jardim de Alah, concluindo a obra do tio — lembrou Barata.
BAIRROS FORAM PLANEJADOS
Para o historiador Nireu Cavalcanti, as obras realizadas naquela época representaram um dos momentos mais importantes da crescimento urbanístico do Rio:
— Eles não construiriam um bairro como a Barra sem se preocupar com infraestrutura e transporte de massa, como aconteceu depois nos anos 50.
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