quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Te Contei, não ? - Modernismo - A Prosa Regionalista

       

As transformações vividas pelo país com a revolução de 1930 e o consequente questionamento das tradicionais oligarquias, os efeitos da crise econômica mundial, os choques ideológicos levando a posições mais definidas e engajadas formam um campo propício ao desenvolvimento de um romance caracterizado pela denúncia social, verdadeiro documento da realidade brasileira, que exprime um elevado grau de tensão nas relações de eu com o mundo.
 Em uma interessante busca do homem brasileiro, o regionalismo ganha uma importância até então não alcançada na literatura brasileira, levando ao extremo as relações do personagem com o meio natural e social.  Destaque importante merecem os escritores nordestinos, que vivenciam a passagem de um Nordeste medieval pra uma  nova realidade capitalista e imperialista.
 
Abordagens literárias
  • Na região cacaueira da Bahia (Terras do sem-fim e São Jorge dos Ilhéus de Jorge Amado): o drama consistiu na conquista da terra pelos coronéis feudais.
  • Na região da cana os banguês e os engenhos sendo devorados pelas modernas usinas, temas abordados por José Lins do Rego, que trabalha ao poder político nas mãos de interventores; e as constantes secas acirrando as desigualdades sociais, gerando mão-de-obra baratíssima; um intenso movimento migratório, a miséria e a fome.
  • IMPORTANTE! O primeiro romance representativo do regionalismo nordestino foi A bagaceira, de José Américo de Almeida, publicado em 1928. Verdadeiro marco na história literária do Brasil, sua importância deve-se mais a temática (a seca, os retirantes, o engenho) e ao caráter social do romance que aos valores estéticos.
A prosa de 1930 é chamada de Neo-Realismo pela retomada de alguns aspectos do Realismo- Naturalismo, contudo, com características particulares preservadas. A literatura estava voltada para a realidade brasileira e os romancistas observam com olhos críticos a realidade brasileira, as relações entre o homem e a sociedade. Pelo fato dos romancistas deste período adotar como componente o lado emocional das personagens, faz com que esta fase se diferencie do Naturalismo, onde este item foi descartado.


A produção literária desta fase pode ser dividida em três tipos de prosa:

• Regionalista: tendência originada no Romantismo e adotada pelos naturalistas e pré-modernistas, na qual o tema é o regionalismo do nordeste, a miséria, a seca, o descaso dos políticos com esse estado. Esta propensão tem início com o romance A bagaceira, de José Américo de Almeida, em 1928.
Os principais autores regionalistas são: José Lins do Rego, Jorge Amado, Rachel de Queiroz e Graciliano Ramos.

• Urbana: tendência na qual a temática é a vida das grandes cidades, o homem da cidade e os problemas sociais, o homem e a sociedade, o homem e o meio em que vive. O principal autor é Érico Veríssimo no início de sua carreira.

• Intimista: tendência influenciada pela teoria psicanalítica de Freud e de outras correntes da psicologia e tem como tema o mundo interior. É também chamada de prosa “de sondagem psicológica”. Os principais autores são: Lúcio Cardoso, Clarice Lispector, Cornélio Pena, Otávio de Faria e Dionélio Machado.
1. Rachel de Queiroz: Cearense de Fortaleza. Sua infância foi vivida uma parte na capital e outra no interior, com rápidas passagens por Belém do Pará e Rio de Janeiro. Essas mudanças foram decorridas da seca de 1915 que atingiu sua família. Todas essas experiências e mudanças influenciaram boa parte de seus escritos. Inicia na prosa em 1930 publicando o romance “O Quinze”. ( romance regionalista de temática social. Mas com uma visão que foge ao clichê tradicional. Não há, na história, a divisão batida de "pessoas boas e pobres" e de "pessoas más e ricas". A autora registrou no papel a sua emoção, sem condicionar o romance a uma tese ou à preocupação de procurar inocentes e culpado pela desgraça de cada um ou mesmo do grupo envolvido na história. A trama se dá em dois planos, um enfocando o vaqueiro Chico Bento e sua família, o outro a relação afetiva de Vicente, rude proprietário e criador de gado, e Conceição, sua prima culta e professora). Chegou a desolação da primeira fome. Vinha seca e trágica, surgindo no fundo sujo dos sacos vazios, na descarnada nudez das latas raspadas...”
  • A obra de Rachel de Queiroz é marcada pelo forte caráter regionalista dos romances modernistas. O Ceará, sua gente, sua terra e as secas são notas constantes em seus romances, escritos em uma linguagem fluente e diálogos fáceis, o que resulta numa narrativa dinâmica.
  •  Nos primeiros romances _ O Quinze e João Miguel _ coexistem o social e o psicológico, sendo, entretanto o primeiro superior ao segundo. Em Caminho de Pedras atinge o ponto máximo da literatura engajada (Literatura engajada é aquela que tem compromisso ideológico (ou político). Nestes casos, o autor não está preocupado somente com a literatura como arte (técnicas, estilos, símbolos, etc.). Na realidade, está preocupado em defender uma ideologia político-social, em detrimento de outra) e esquerdizante. É o seu romance mais social, mais político.
  • A partir de então, em decorrência da situação adversa, a romancista vai abandonando o aspecto social de sua obra, ao mesmo tempo passa a valorizar a análise psicológica, aspecto bem perceptível no romance “As três Marias”.
 
2. José Lins do Rego: natural de engenho Corredor, Paraíba, onde passou sua infância. O autor apela constantemente para as recordações de sua infância e adolescência, para compor seu ciclo da cana-de-açúcar, série de romances memorialista que retratam a Zona da Mata nordestina num período crítico de transição: a decadência dos engenhos, esmagados pelas poderosas usinas. Em todo o ciclo, o cenário é o engenho Santa Rosa (ao descrever a grandiosidade do engenho e o papel social, do velho coronel “Zé Paulino”, avô de Carlos de Melo (o narrador do “Menino de engenho- o próprio José Lins do Rego). Esses títulos “ciclo da cana-de-açúcar” foram lançados entre 1932 e 1936. Entretanto, em 1943, José Lins do Rego publicaria um romance que é considerado a síntese de todo o ciclo: Fogo morto, ponto máximo de sua obra.
       Além do ciclo da cana, José Lins abordou outros aspectos típicos da vida nordestina: o misticismo, o cangaço na obra Pedra Bonita e Cangaceiros. A provável fonte temática, bem como a oralidade narrativa, nesses casos teria sido a literatura de cordel.
     Água-mãe e Eurídice são os únicos romances de José Lins ambientados fora do Nordeste em suas próprias palavras “desligados dos ciclos da cana-de-açúcar e do cangaço, misticismo e seca.”
 
3. Graciliano Ramos: Quebrângulo, Alagoas.  Sua estréia e com o romance “Caetés”.  Nessa época mantinha conhecimento com Rachel de Queiroz, José Lins do Rego e Jorge Amado. Em março de 1936 é preso por atividades consideradas subversivas. Após sofrer humilhações e percorrer presídios e libertado em janeiro do de 1937, essa experiência resultou na obra “Memórias do cárcere”.
 
  • Graciliano Ramos: considerado por grande parte da crítica o nosso melhor romancista moderno. Foi o único autor a levar ao limite o clima de tensão presente nas relações homem-meio natural / homem-meio social, tensão essa geradora de um relacionamento violento, capaz de moldar personalidades e de transfigurar o que os homens têm de bom.  Nesse contexto violento, a morte é uma constante: é o final trágico e irreversível, decorrente de um relacionamento impraticável. Percebemos essa (a morte) nos suicídios de Caetés e São Bernardo; assassinato em Angústia e as mortes do papagaio e da cadela Baleia em Vidas Secas.
  • A luta pela sobrevivência, portanto, parece ser o grande ponto de contato entre todos os personagens; a lei maior é a da selva. Em consequencia, uma palavra se repete em toda a obra do escritor: BICHO, ou, como no início de Vidas Secas, VIVENTES, ou seja, aqueles que só têm uma coisa a defender- a vida.
 
  • A obra de Graciliano Ramos pode ser dividida em três fases:
1)       Romances narrados em 1ª pessoa: (Caetés e São Bernardo e Angústia), nos quais se evidencia a pesquisa progressiva da alma humana, ao lado do retrato e da análise social.
2)      Romance narrado em 3ª pessoa: (Vidas Secas), no qual se enfocam os modos de ser e as condições de existência, segundo uma distância da realidade.
3)      Autobiografias: (Infância e Memórias do cárcere), em que o autor se coloca como problema e como caso humano: nela transparece uma irresistível necessidade de depor.
 
Do ponto de vista formal, Graciliano Ramos, talvez seja o escritor brasileiro de linguagem mais sintética, ou seja, não há uma palavra a mais ou menos, textos enxutos, conciso. Trabalha a narração com a mesma maestria, tanto em primeira como em terceira pessoa.
 
 
4. Jorge Amado: Itabuna, Bahia. Representa o regionalismo baiano das zonas rurais do cacau e da zona urbana de Salvador. Sua grande preocupação foi fixar os tipos marginalizados para, através deles, analisar toda uma sociedade.  Seus romances, vazados numa linguagem que retrata a fala do povo, são marcados pelo lirismo e pela postura ideológica.
 
  •  Nas obras Seara vermelha e Dona Flor e seus dois maridos, há uma distância clara e evidente. O primeiro é mais político, revolucionário, ao passo que o segundo é mais lírico, caracterizado por certo humorismo extraído do cotidiano.
A obra de Jorge Amado também pode ser dividida em três fases:
1)       Romances proletários: retratam ávida urbana em Salvador, com forte coloração social, como é o caso de Suor, O país do carnaval e Capitães de areia.
2)        Ciclo do cacau: seus temas são as fazendas de cacau e de Ilhéus e Itabuna, a exploração rural e os exportadores.  Cacau, Terras do sem-fim e São Jorge dos Ilhéus pertencem a esse ciclo.
3)       Depoimentos líricos e crônicas de costumes: essa fase iniciada com Jubiabá e Mar morto se consolidaria, entretanto, com Gabriela, cravo e canela.
 
 Se há uma palavra para perpassara a obra de Jorge Amado, essa é liberdade, tanto no plano individual, como no plano social.
 
5. Érico Veríssimo: Cruz Alta, Rio de Janeiro.  É o representante gaucho do regionalismo modernista.  Os seus romances Clarissa, Saga, Música ao longe, Caminhos cruzados e Olhai os lírios do campo, retratam a vida urbana da província de Porto Alegre, a crise da sociedade moderna, em que a nota marcante é a  solidariedade, o cotidiano caótico. Esses romances foram responsáveis pela popularidade alcançada pelo autor.
       A classificação de sua obra por temas compreende ainda a trilogia épica de O tempo e o vento, voltada para a formação do Rio Grande do Sul, remontando ao passado histórico desde o século XVIII.
 
IMPORTANTE!  O tempo e o vento aparece dividido em O continente, que cobre o período histórico do século XVIII até 1895, com as suas lutas do início da República;  O retrato, que enfoca as primeiras,  décadas do século XX;  O arquipélago,  a narrativa mais contemporânea, chegando até o governo Vargas. Nas obras O senhor embaixador, O prisioneiro e Incidente em Antares, nesses romances, a vida política brasileira da era Vargas e as intrigas internacionais dão o tom contemporâneo.



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