Desaparecimento das vítimas é herança do regime militar para as polícias
Rio - Um pedreiro, pai de seis filhos, foi retirado pela polícia de sua casa,
na Rocinha, e levado para o Centro de Controle e Monitoramento da UPP. Não mais
foi visto. O desaparecimento de pessoas é padrão da polícia fluminense quando
não pode forjar autos de resistência. Casos emblemáticos são os da engenheira
Patrícia e do menino Juan, cujo corpo foi encontrado, mas que uma legista
oficial quase sepultou o aparecimento e a possibilidade de responsabilização,
declarando que se tratava do corpo de uma menina.
O desaparecimento das vítimas é herança do regime militar para as polícias. O
corpo do deputado Rubens Paiva, retirado de sua casa tal como o Amarildo, jamais
apareceu. A versão do Exército é a de que, apesar dos seus mais de 100 quilos,
fugiu pelo vidro de trás de um fusca. O Exército até hoje não deu conta das
ossadas dos assassinados no Araguaia.
A legitimação das farsas contidas nos relatórios oficiais perpetua tais
ocorrências. Dela têm participado os governantes, as autoridades de segurança, o
MP e até mesmo o Judiciário. Nas comunidades ocupadas, as casas são invadidas,
reviradas e pilhadas. Os discursos oficiais se limitam a dizer que tudo será
apurado, ainda que nem os roubos comprovadamente praticados na ocupação militar
do Alemão o tenham sido.
Carlos Luz não assumiu a Presidência da República em 1955 porque, fugindo do
marechal Lott, se refugiou num navio da Marinha, o que lhe fez faltar chão aos
pés. Preocupado em governar para os ricos, o governador Sérgio Cabral não tem os
pés no chão, pois vive nas nuvens, a bordo de helicópteros, e com a cabeça em
Paris, deixando a relação do Estado com a sociedade ao sabor dos interesses e da
truculência da polícia. Sem controle sobre o que ordena o secretário Beltrame,
não assume o fracasso da política de segurança do Estado. O major que comanda a
UPP da Rocinha já disse que certo tipo de criminalidade aumentou por lá. Falta
dizer sobre a responsabilidade de seus comandados e onde está o Amarildo.
Doutor em Ciência Política pela UFF e juiz de Direito. Membro da
Associação Juízes para a Democracia
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