quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Personalidade - Bruno Ferreira Teles - De super - herói de mentirinha a perigoso incendiário

Elenilce Bottari 
Publicado:  
 
 

Bruno, de 25 anos, fala sobre seu maior medo: “Na cadeia não tem wi-fi” -
Foto: Domingos Peixoto
Bruno, de 25 anos, fala sobre seu maior medo: “Na cadeia não tem wi-fi” - Domingos Peixoto


RIO - Na história do filme “Os 12 macacos”, estrelado no cinema por Bruce Willis, o herói é enviado do futuro (2035) para o ano de 1997 para tentar desvendar o mistério de uma trama que teria culminado com a devastação da humanidade por um vírus. Mas, depois de duas horas de muita ação, descobre-se que o principal suspeito do atentado contra o planeta era, na verdade, um maluco beleza interpretado pelo ator Brad Pitt que liberou no ambiente não um vírus mortal, mas todos os animais do Jardim Zoológico local. Guardando as devidas proporções entre a ficção e a realidade, o estudante Bruno Ferreira Teles, de 25 anos, teve também o seu dia de inimigo número 1. Bruno foi preso em 22 de julho passado, depois de ser perseguido por uma tropa militar e acusado por um PM de lançar um artefato incendiário contra policiais, durante uma manifestação em frente ao Palácio Guanabara, onde o governador Sérgio Cabral acabara de receber a visita do Papa Francisco. Ao ser capturado, o estudante foi imobilizado com um choque de Taser (arma não letal) e algemado. Antes mesmo de ser levado para a delegacia — onde foi formalmente acusado de tentativa de homicídio e encarcerado em Bangu —, o mesmo policial que o prendeu exibiu ao público a incontestável prova de sua má-fé: dois braceletes e um colete de alumínio que o rapaz carregava no corpo.

— São partes de uma roupa de Homem de Ferro que eu estava fazendo há dois meses para uma festa à fantasia. Eu gosto de super-heróis, mas o meu preferido é o Homem de Ferro. Naquele dia, achei que poderia usá-la para me proteger — esclarece Bruno, que teve seu perfil de terrorista desconstruído num inquérito já arquivado pelo Ministério Público estadual.
Refeito do susto, Bruno diz, durante entrevista ao GLOBO, qual era seu plano no fatídico dia em que virou um perigoso terrorista, ao protestar em frente ao gradil instado para proteger o Palácio Guanabara da ação de vândalos:
— Eu ia abraçar um PM para mostrar que a gente não é contra eles, que eles são a segurança do povo — conta, lembrando que a ideia inicial era protestar por melhorias na saúde e educação. — Eu acho que essas polêmicas de aborto, religião, tudo mais... vão melhorar com mais saúde e educação.
Segundo ele, ao ver as grades que separavam os manifestantes da segurança palaciana, decidiu mudar o foco.
— Eu pensei: como o policial vai sair dali para ajudar o manifestante? Aí, comecei a protestar contra as ordens e gritava: “Estas ordens estão erradas, não é desse jeito que funciona. Assim parece que está um contra o outro, quando vocês têm o papel de defender”. De repente, não tinha mais nenhum manifestante ali. E veio aquela multidão (de policiais) para cima.
Bruno correu do posto de gasolina próximo ao palácio até o viaduto de acesso ao Túnel Santa Bárbara, quando sucumbiu a uma combinação de fatores: do barulho da explosão de bomba de efeito moral, o choque do Taser e pânico. Ele desmaiou.
— Eu acho que apaguei, mas, quando voltei, um policial começou a me acusar de ter lançado um coquetel molotov. Quando cheguei na delegacia e me disseram que eu era acusado de tentativa de homicídio, pensei que fosse pegadinha e ri. Até perceber que ninguém mais ria. Então pensei: “Ferrou” — lembra o rapaz, acrescentando que acalentava a certeza de que alguém, em meio àquela confusão, havia gravado a prova de sua inocência.
— Eu vi muita solidariedade. As pessoas foram para a delegacia me dar apoio. Eu só fiquei assustado quando descobri que na cadeia não tem wi-fi. Nunca me senti tão isolado na vida.
Nascido e criado em Duque de Caxias, Bruno trancou “por problemas financeiros” a faculdade de Engenharia e é voluntário na Uerj, onde também acompanha, como observador, as aulas de cinema.
— Eu ajudo a baixar arquivos, editar vídeos e, em troca, assisto a algumas aulas. Naquele dia (da prisão), eu iria fazer um documentário sobre a manifestação e saí de casa cedo, de trem, e fui gravando um monte de coisas pelo caminho. Gringos na Central do Brasil (peregrinos que chegavam para a Jornada Mundial da Juventude), o protesto no Largo do Machado. Quando vi que podia ter tumulto, guardei a câmara para não perder meu equipamento — recorda-se.
Para ele, a internet tem sido um importante canal de comunicação para os jovens.
— Se não fosse a rede, eu estaria encrencado.
As imagens que redimiram Bruno acabaram levantando suspeitas sobre um outro manifestante que, depois de arremessar o coquetel molotov contra policiais, mudou de camisa e de lado na grade. Mas, diferentemente do que aconteceu no filme, as investigações ainda não esclareceram quem foi o responsável pelo ato criminoso.


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/rio/bruno-teles-de-super-heroi-de-mentirinha-perigoso-incendiario-9389619#ixzz2bJYJnTGn

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