quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Crônicas - Depois de Francisco, tudo igual

E as autoridades? Fizeram aquela cara que sempre fazem, abatidos, chocados. Tudo da boca pra fora, como sempre

O Dia
Rio - Foi bonita a festa. Toda gente de toda parte na rua. Um clima de esperança, de alegria e de paz espalhados por rostos de toda cor, de toda raça, de toda região do país e de todo o mundo. Foi no tempo certo também. Não poderia durar mais para não quebrar o encanto. Como toda gente, me encantei com Francisco. Todo mundo falou sobre a simplicidade dele. É verdade, gostei disto. Mas me encantei com tudo: com o sorriso, com a calma, com os gestos, com o jeito se ser e com as palavras. Como toda gente, fiquei chocada com a cena do engarrafamento na Presidente Vargas. Quem não ficou?
Quem poderia imaginar que até o Papa passaria pelo mesmo engarrafamento que eu e vocês, pobres mortais, passamos no nosso cotidiano? A gente quer sempre o melhor pra visita, ainda mais tão ilustre. Mas o carinho e a alegria da moçada podem até ter ajudado o Francisco a esquecer esta primeira má impressão. E, cá pra nós, a gente que vive aqui sabe que ele escapou de poucas e boas. Ainda bem que decretaram os feriados. Sei que os comerciantes ficaram furiosos com os prejuízos, mas a confusão seria muito maior do que foi. Imagine só, com toda a população da cidade vivendo normalmente seu dia a dia, com o papamóvel circulando, os peregrinos se espalhando e os sustos da cidade acontecendo... Seria um inferno! E se os bueiros tivessem explodido? Imagine se as retroescavadeiras dessem o seu “melhor”, furando as tubulações?
Se os canos e adutoras tivessem explodido naquela semana? Isto sem falar nas manifestações... nas centenas de obras... nos esgotos que insistem em se espalhar pelas calçadas, no lixo que se acumula nas ruas dos quatro cantos da cidade. Aliás, neste quesito, os peregrinos deram uma bela lição nos Sugismundos locais: a cidade ficou limpa apesar do número inacreditável de visitantes. E, por falar neles... estavam em toda parte e alguns milhares deles ficaram depois que Francisco partiu. Será que, em número menor, conseguiram lugar nos ônibus, no metrô e nos trens com alguma tranquilidade? Este capítulo também foi de matar de vergonha. Será que as concessionárias de transporte coletivo exibiram sua incompetência durante a Jornada para provar pra gente que não gostam de fazer diferença entre os locais e os que vêm de fora? E as autoridades?
Ficaram indignadas, como sempre ficam. Fizeram aquela cara que sempre fazem, abatidos, chocados. Tudo da boca pra fora, como sempre. Como se a solução não fosse problema deles. Ninguém foi culpado, nem demitido. A vida continua. Os problemas também. A propósito: cadê o Amarildo?
 
Leda Nagle / O Dia

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