Eu gostaria de ser Deus não para consertar o mundo ou melhorar a humanidade,
mas, confesso, para um fim menos nobre: conseguir mulher.
Posso imaginar como seria ter ao meu dispor todos os recursos de Deus para
impressionar uma mulher. A começar pelo seu espanto ao saber da minha
identidade. (Ela: “Você quer dizer Deus, Deus mesmo?! O Cara?!” Eu: “É”. Ela: “O
Todo-Poderoso?!” Eu, para mostrar, além de tudo, simplicidade: “Sim, mas pode me
chamar de Todo”).
Eu não a convidaria para jantar, apenas. Mandaria um anjo fulgurante
convidá-la para jantar comigo, no meu apartamento celestial ou no restaurante da
sua predileção. Onde já começaria a mostrar os meus poderes, pedindo mineral sem
gás e transformando-a não apenas em vinho, mas num Chateau Petrus 82.
Conversaríamos sobre banalidades:
Ela: “Deve dar trabalho, ser Deus.”
Eu, modestamente: “No começo, foi difícil. Tive que fazer tudo sozinho, do
nada. Desde então, só dou retoques”.
Depois do jantar Eu a convidaria para ir ver o eclipse da Lua do meu terraço
à beira-mar.
— Mas hoje não tem eclipse da Lua!
— Quer apostar?
Quando ficássemos mais íntimos, e ela mais crítica, Eu faria tudo que ela
pedisse.
— Terremoto...Precisa ter?
— Está bem. Não vai mais ter terremoto.
— Dá para acabar com a má fase do São Paulo?
— Vamos ver o que se pode fazer.
Eu não lhe mandaria bilhetes amorosos, mandaria tábuas gravadas amorosas,
entregues por profetas barbudos, junto com flores — todos os dias.
Presentes de pedras preciosas? Por que ser sovina e não lhe dar, logo, uma
mina de diamantes?
E se, com tudo isso, Eu não a conquistasse, me restaria um último recurso:
refazer-me completamente, do barro. Seguindo as suas instruções.
— Sem barba. Outro nariz. Mais alto...
Luis Fernando Veríssimo é escritor.
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