quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Te Contei, não ? - Manifestações: diálogo é a melhor arma

Renata Leite
Publicado:

Andrade é observado por um manifestante mascarado -
Foto: Marcelo Piu / Agência O Globo
Andrade é observado por um manifestante mascarado - Marcelo Piu / Agência O Globo


RIO - Nos dois últimos meses, a PM lançou mão de muitas armas na tentativa de controlar a multidão que tomou as ruas do Rio: bombas de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e caminhão de jato d’água. Até o caveirão, tão comum em operações nas favelas, foi parar em endereço nobre, o Leblon. Nada deu certo. Em contraponto, o diálogo surge como a solução para amenizar os ânimos de ambos os lados, PMs e manifestantes. Essa nova arma entrou em cena no último dia 25, com a tropa de 105 homens idealizada e comandada pelo tenente-coronel Mauro Andrade. Pelo menos até agora, a estratégia se mostrou um golpe de mestre.
Com apenas uma semana de atuação, houve queda no número de depredações e no uso das bombas de gás, que estavam sendo lançadas, como o próprio oficial reconhece, de modo indiscriminado. Chefe do Escritório de Gestão Estratégica da PM, Andrade voltou para as ruas desafiado por esse novo tipo de mobilização social. Já está sendo conhecido como policial “gente boa” e E 10. Ele, como todos do grupo, é identificado no colete e no boné com letras e números.
Os manifestantes, inclusive, se referem à turma do diálogo como os “alfanuméricos”. Já os militares do Batalhão de Choque foram apelidados de “Robocops”, por causa da armadura que vestem. Para Andrade, esse tipo de vestimenta, que cobre até o rosto, desumaniza o policial. Sua tropa usa farda comum, com colete à prova de balas. Só o comandante e o subcomandante carregam pistolas. Os demais contam com taser (equipamento que dá choque) e cassetete. Há ainda algumas armas, semelhantes às usadas em jogos de paintball, para marcar com tinta pessoas que realizarem depredações, saques ou roubos e furtos.
— Essa nova proposta de policiamento veio preencher uma lacuna na atuação da corporação frente a esse novo modelo de movimentação das massas, no qual jovens com boa educação se mobilizam rapidamente pelas redes. A polícia foi acusada de ser truculenta e mal preparada no mundo inteiro — afirmou Andrade, exemplificando com o movimento “Ocupe Wall Street”, nos Estados Unidos. — A polícia vinha formando a linha de que estava pronta para o confronto e não para o diálogo, para o entendimento. Assim, acabava se tornando referência para o confronto.
O tenente-coronel não se esquiva dos manifestantes mais exaltados, nem mesmo das perguntas feitas pelos jovens do coletivo Mídia Ninja — que transmite as manifestações ao vivo, pela internet. Comenta inclusive a proposta de desmilitarização da polícia:
— Essa geração é intoxicada por informação, mas muitas vezes superficial, principalmente em relação à polícia. Parece que o foco da desmilitarização se confunde com a qualidade do serviço. Perguntei a eles qual é o serviço civil de nível exemplar de qualidade? Não souberam me dizer. Então a questão não é ser militar ou não, mas sim a melhoria do serviço.
Professor, Andrade diz não educar jovens para serem acríticos. Já encontrou inclusive um aluno da ONG fundada pelo oficial numa manifestação:
— Mascarado e com dois metros de altura, ficou me seguindo um tempão. Revistei a mochila dele. De repente, me reconheceu e exclamou: “Professor!”
Para os manifestantes, no entanto, policiais estão sempre sob suspeita. Na última quinta-feira, veio à tona uma foto de Andrade à paisana e com pedras portuguesas nas mãos. Houve acusações de que ele estaria atuando como P2 e preparando provas para serem implantadas nos presos. Andrade explicou que as pedras haviam sido pegas com um jovem que as estaria atirando contra militares. A novidade é que outros manifestantes defenderam o policial nas redes sociais, feito inédito na corporação.


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