Paulo Guedes, O Globo
“Jovens nas ruas”, anunciava O GLOBO em sua primeira página do caderno de
Economia da última quinta-feira. Era uma clara alusão ao protagonismo da
juventude nas recentes manifestações. Mas era implacável o título completo:
“Jovens nas ruas. No olho da rua”. Pois a verdadeira notícia foi “o aumento do
desemprego entre os jovens de 16 a 24 anos, de 14,6% para 15,3%, mais do que o
dobro dos 6% registrados para a média de todas as idades.”
O desemprego entre os jovens é muito alto e não para de subir. Sem legislação
trabalhista, sem encargos sociais e previdenciários sobre a mão de obra, 3,5
bilhões de eurasianos mergulharam nos mercados de trabalho globais, condenando
ao desemprego em massa os países com mercados de trabalho inflexíveis. Uma
verdadeira guerra mundial por empregos.
O problema é mais agudo em economias prisioneiras da armadilha
social-democrata do baixo crescimento. Regimes previdenciários irrealistas,
legislações trabalhistas inadequadas e organizações sindicais anacrônicas
derrubaram o crescimento, aumentaram o desemprego e marginalizaram toda uma
geração ao impedir o acesso de jovens pouco experientes aos mercados de
trabalho.
Na Europa, ficou conhecido como “euroesclerose” o fenômeno do baixo
crescimento e da incapacidade crônica de geração de empregos nas décadas
anteriores à criação do euro. Sim, pasme o leitor, pois os males atuais são
todos atribuídos à nova moeda.
Na Grécia, em Portugal e na Espanha, as taxas de desemprego entre os jovens
estão em torno dos 50% — metade dos jovens não tem futuro. No Brasil, com
encargos sociais e trabalhistas de quase 100% dos salários, um emprego é
destruído para cada emprego criado.
Os jovens sem futuro são vítimas de instituições inadequadas. Justamente
indignados, devem perguntar a seus pais por que as “garantias” trabalhistas e
previdenciárias outorgadas a si próprios pelos membros das gerações mais velhas
destruíram a capacidade de geração de empregos para os mais jovens. Afinal,
herdam de seus pais não apenas valores morais e bens materiais, mas também seus
países e suas instituições.
O conflito entre as gerações aumenta quando a juventude é ameaçada pelo
despreparo, pelo egoísmo, pela irresponsabilidade e pela desatenção dos mais
velhos e pelo seu legado institucional.
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