quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Editorial - Enfim, questão de saúde

O Estado é laico, mas grupos religiosos exercem enorme influência em questões práticas que nada têm a ver com credos

O Dia
Rio - O Estado é laico, mas grupos religiosos exercem enorme influência em questões práticas que nada têm a ver com credos. Este poder, que reiteradas vezes se transfigura em forte lobby, empaca debates vitais. Um deles diz respeito a vítimas de estupro. Ontem a presidenta Dilma Rousseff sancionou, na íntegra, lei que garante atendimento a quem sofreu violência sexual. Conservadores enxergam na medida, contra a qual lutaram arduamente, um atalho para a liberação a torto e a direito do aborto no Brasil.
Na prática, o texto tão-somente reafirma direitos já previstos, por lei, na rede de saúde e no meio jurídico — mas que eram muitas vezes ignorados pelos profissionais. A sanção, portanto, garante pronto atendimento à mulher que acabou de ser agredida e lhe fornece acolhida multidisciplinar para apoio legal e psicológico. Merece destaque nesse pacote o acesso imediato à pílula do dia seguinte, recurso previsto no Código Penal a todas as vítimas de estupro.
Não parece ser intenção do governo, com esta lei, escancarar o aborto, questão delicada que envolve religião e preceitos morais — e que depende de amplo debate. Mas, se depender do discurso dogmático, estupradas continuariam relegadas à mera condição de azaradas e amaldiçoadas. Isso, num país onde o aborto, na clandestinidade, acaba virando grave caso de saúde pública.
É importante frisar que a laicidade de um Estado absolutamente não significa banir religiões e obrigar a sociedade a um agnosticismo. Elas são o farol moral da sociedade e cultivam valores, mas estes não podem se imiscuir nos rumos da nação.
 
Jornal O Dia - 02/08/13

Nenhum comentário:

Postar um comentário