sábado, 10 de agosto de 2013

Te Contei, não ? - O Regionalismo Nordestino em O Quiinze de Rachel de Queiroz

REGIONALISMO NORDESTINO EM O QUINZE DE RACHEL DE QUEIROZ
        


Joana da Paz Silva

 


 

RESUMO: Propõe-se neste ensaio científico abordar a segunda fase do Modernismo por meio da prosa regionalista nordestina do romance O Quinze, de Rachel de Queiroz, enfatizando a seca, e como consequência a migração, que retrata a grande seca de 1915 do Ceará. O Quinze fixa o drama, constrangimento e perda dos retirantes, em meio ao qual se esboça um idílio amoroso entre as personagens, que não chega a concretizar-se pelo infortúnio do flagelo e do ar de miséria que impregnava em função da seca.
Palavras-chave: Regionalismo. Seca. Migração.
 
RÉSUMÉ: Le but dans l’essai scientifique c’est aborder la deuxième phase du Modernisme par moyen de la prose régionaliste du Nord-est du roman  Le Quinze (O Quinze), de Rachel de Queiroz, soulignant la sécheresse, et par conséquent la migration, elle montre la grande sécheresse de 1915 dans l’État du Ceará. Le Quinze (O Quinze) fixe le drame, contrainte et la perte des émigrants, en moyen lequel s’esquisse un idyllique amoureux entre les personnages, que n’arrive pas se concrétiser par le malheur du supplice et d’air de la misère que s’imprégnait à cause de la sécheresse.  
Mots-clé: Régionalisme. Sécheresse. Migration.
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REGIONALISMO NORDESTINO EM O QUINZE DE RACHEL DE QUEIROZ


INTRODUÇÃO
            De acordo com os estudos de Ulisses Infante em sua obra Curso de Literatura de Língua Portuguesa (2001 p.497) pode-se observar no romance O Quinze denominado por alguns como sendo um documentário enxuto e realista do nordeste brasileiro e por outros como uma reportagem social e documento sociológico pertencente a segunda geração do Modernismo Brasileiro (1930-1945), onde são trocadas atitudes como rebeldia e transgressão por uma mentalidade mais adulta e consciente de sua própria identidade. A partir deste período surgiram muitos escritores, como Rachel de Queiroz que contribuíram para que esse momento se tornasse uma das épocas mais férteis de toda nossa literatura.
            Este romance possibilitou a Rachel de Queiroz renovar a ficção regionalista, apresentando e representando a cultura com seus traços característicos como, por exemplo, a procissão da chuva, tipos humanos e os dramas da sociedade sertaneja, tendo como local e ambiente o próprio Ceará, sua terra natal, e aponta os males da região através de uma observação narrativa. Iniciado em 1930, a obra de Rachel traz para o público leitor um movimento cultural que retrata situações das regiões brasileiras em particular a sociedade cearense e suas características ligadas a incidência periódica da seca, e o quadro social que se apresenta com o sofrimento de todos aqueles que se juntam à dureza da luta pela sobrevivência.
            A forma como a autora conduz o romance, demonstra seu próprio estilo de escrever: sóbrio, despojado, sem floreios e gorduras, sem sentimentalismos, tal qual a paisagem sertaneja. Utiliza uma linguagem simples e popular, tentando escrever como testemunho, como depoimento, sem sensacionalismos, sem exageros e traduzindo uma linguagem regionalista sem afetação, sem pretensão literária, sem vínculo obrigatório a um falar específico. Caracteriza suas obras evidenciando a força feminina, com relação ao romance em questão destaca-se a personagem Conceição que contribui para que a ação seja conduzida em dois planos aos quais ela pertence, e é através do que sente e de sua experiência que acontece a fusão desses dois planos: ricos e pobres. As mulheres da ficção de Rachel são ela mesma, ou são seus modelos de mulher. A autora expõe uma preocupação social da qual ela própria foi vitima, a seca de 1915.  Este romance põe o leitor a par de todas as mazelas e dificuldades que a “seca” traz para todos aqueles que não conseguem escapar dela. A única história de amor que poderia dar ao romance um lado bom e humano não acontece por questões relacionadas a falta de comunicação e desnível cultural, é novamente a seca proporcionando mais infortúnios para aqueles que tem consciência da miséria e a impossibilidade de ser feliz.
 
1. RACHEL DE QUEIROZ
 
            Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza, Ceará, em 17 de outubro de 1910. É descendente do escritor José de Alencar, pelo lado materno. Fugindo às conseqüências da terrível seca de 1915, sua família transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde permaneceu pouco
           Em 1919, Rachel retornou à cidade natal, e lá se formou no Curso Normal. Aos 17 anos, carreira jornalística como colaboradora do jornal O Ceará, e depois como sua redatora efetiva; aos 19, iniciou-se na Literatura. Paralelamente, Rachel envolveu-se na militância política, filiando-se ao Partido Comunista, em 1931, com o qual romperia dois anos depois. Em 1937, foi presa por suas convicções trotskista. Passou a residir no Rio de Janeiro, alternando temporadas nessa cidade e no sertão do Ceará, onde possuía uma fazenda
               A autora foi cronista em várias revistas e jornais, romancista, ensaísta, dramaturga, contista e tradutora, e tornou-se a primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras.                         
              Principais obras: O Quinze, (1930); João Miguel, (1932); Caminho de Pedras, (1937); As três Marias, (1939); O Galo de Ouro, (1950); Dora Doralina, (1975); Memorial de Maria Moura, (1992). (OLIVEIRA, 2007, p. 340-341).
 
2. REGIONALISMO
            O regionalismo na obra de Rachel de Queiroz destaca-se a partir do momento em que autores nordestinos assim como ela escreveram sobre os dramas e as questões de sua região. O romance O Quinze de cunho social apresenta a saga dos flagelados cearenses imersos na desastrosa seca de 1915. Estes personagens: Chico Bento e sua família, Conceição, Vicente, mãe Nácia, também respondem pela sociedade do Logradouro e do Quixadá, interior do Ceará com suas crenças, costumes e tradições. O regionalismos acontece devido a própria atitude da autora em estabelecer a linguagem com a terra nordestina, pode-se observar isto na escrita e nas personagens que apresentam raízes nordestinas. “Mas, menino, por que você não faz a criação pastar fora do pátio? Não sabe que lá só tem é sala? Esta bichinha desde de manhã deve estar assim, junto do riacho. (...)” (QUEIROZ: 2002, p.22).
            Há uma referência explícita a seca que atingiu o Ceará e consequentemente todas as suas implicações na vida daqueles que direta ou indiretamente dependem da terra. A partir deste romance é que acontece a repercussão da tragédia no sertão nordestino, informação que alcança mesmo quem se encontra fora do espaço dos vestígios da tragédia. Outro ponto de destaque presente em O Quinze e que faz parte do regionalismo daquela época é o papel da mulher, totalmente voltado para a maternidade e para o lar. A personagem Conceição vem juntamente se contrapor a tudo isso, não pretende casar-se e dedica-se aos estudos e trabalho como professora, além de morar sozinha na cidade. “Acostumada a pensar por si, a viver isolada, criara para seu uso ideias e preconceitos próprios, às vezes ousados, e que pecavam principalmente pela excessiva marca de casa.” (QUEIROZ: 2002, p. 10).
            O regionalismo apresentado por Rachel de Queiroz propõe uma associação entre as metáforas da terra e do seco às metáforas do feminino, da perda e da falta vivenciadas por suas personagens. (ALVES).
            O romance O Quinze, como já foi dito, é uma obra crítica, que renovou a literatura, engajada nas questões sociais dos problemas da seca nordestina, mais precisamente no Ceará. Este engajamento da autora deu-se por motivo da mesma ter vivido este drama. Daí a veracidade de sua narrativa, denunciando o descaso e tentando conscientizar os leitores e as autoridades.
            A Segunda fase Modernista no Brasil - A Prosa Romances caracterizado pela literatura engajada na denúncia social, verdadeiro documento da realidade brasileira, atingindo elevado grau de tensão nas relações do eu com o mundo. Uma das principais características do romance é o encontro do escritor com seu povo, por isso ganhou importância, com destaque às relações do personagem com o meio natural e social.
 
As décadas de 20 e 30 do século XX encontraram os escritores preocupados com a reocupação de seu papel no terreno da crítica social e política, o que viabilizou uma saída para os homens de letras: o engajamento. Reconheceu-se, a partir de então, o tipo de produtor literário conhecido como "autor engajado", cujo modelo maior se encontra em Jean-Paul Sartre. (MANTOLVANI, 2005).
 

 

3. ANÁLISE DA OBRA

            Para situar o leitor, a que movimento e região pertence, e isso a autora fez magnificamente. O Modernismo não fugiu à regra, prosseguindo na incorporação do material local, que é o próprio país. A corrente regionalista trabalha o material como na obra em pesquisa, que é a seca cearense e somente esta é tão vil e voraz, capaz de tragar e esterilizar o homem tal quanto a terra, onde os fenômenos metereológicos regem os personagens tornando-os impotentes. (...). Mas o silêncio fino do ar era o mesmo. E a morna correnteza que levantava, passava silenciosa como um sopro de morte; na terra desolada não havia sequer uma folha seca; e as árvores negras e agressivas eram como arestas de pedra enristadas contra o céu. (QUEIROZ: 2002, p. 64-65)
            Neo-realista pela abordagem superficial dos fatos e da descrição do espaço vinculada com a religiosidade mítica. No caso das passagens concedidas pelo governo, para que os retirantes deixem o Ceará e saiam em busca de oportunidades em outras regiões.
            Nesse trecho, um leitor despercebido não enxergaria o motivo que empurrava aquela gente a penitenciar ou sentenciar-se do Logradouro e do Quixadá até a capital Fortaleza, em busca de socorros; a indústria da seca fecundou com o embrião da seca e prospera até hoje. É fato constante de escândalos envolvendo os programas destinados à amenização das conseqüências da seca que têm os recursos constantemente desviados.
 
 
- Desgraçado: quando acaba, andam espalhando que o governo ajuda os pobres... Não ajuda nem a morrer!
O Zacarias segredou:
- Ajudar, o governo ajuda. O propósito é que é um ratuino... Anda vendendo as passagens a quem der mais... (QUEIROZ: 2002, p. 30).
             
            A autora implicitamente representa o preconceito da sociedade urbana em relação à cultura do homem rural, por meio do julgamento etnocêntrico de Conceição em condenar a sua felicidade porque o nível cultural dela é “superior” ao do matuto, bom, rico, viril, comprometido com os seus, contudo “inferior” não economicamente, mas a um outro tipo de posse que começava a massacrar gritantemente a população brasileira da época e seguiria até a contemporaneidade, que é a mais preciosa: a do conhecimento teórico, intelectual e cultural. Esta Vicente não possuía, o que para a normalista neutralizava todas as demais virtudes do fazendeiro. Ressaltando que Conceição idealizava o relacionamento deles, ambos vivem o romance no plano da sensibilidade e do imaginário. A história passa sem que eles tenham um contato concreto, como: um beijo. Nesse plano, o romance deles inicia e finaliza por uma impressão, na verdade o que Conceição não quer é a condição submissa da mulher, o que mais uma vez Rachel de Queiroz chama a atenção para qual seria o papel da mulher diante dessa nova sociedade brasileira. Ela, propositalmente, coloca Conceição e Vicente em igual condição, Vicente não abre mão da terra; Conceição privilegia a sua liberdade; deduz-se, então, que ela foi criada pela autora com o propósito de quebrar paradigmas até então possíveis só ao homem. Órfã, criada pela avó vai para a capital estudar, trabalhar, adota filho de retirante, dispensa companhia para andar pela cidade, enfrenta as mazelas do campo de concentração em nome da solidariedade, e, ao invés de sofrer preconceito como outras personagens femininas – Lucíola –, ela é que julga e descarta o Vicente por não ser compatível com o seu nível intelectual, havendo uma inversão de papéis, mesmo sendo de maneira sutil.
 
Ele era bom de ouvir e de olhar, como uma bela paisagem, de quem só se exigisse beleza e cor. (...).
Pensou no esquisito casal que seria o deles, quando a noite, nos serões da fazenda, ela sublinhasse num livro querido um pensamento feliz e quisesse repartir com alguém a impressão recebida. Talvez Vicente levantasse a vista e lhe murmurasse um “é” distraído por detrás do jornal... Mas naturalmente a que distância e com quanta indiferença. (QUEIROZ: 2002, p. 79-80).
 
            Uma personagem merecedora de atenção talvez mais que todas citadas nesse introdutório é a seca, a verdadeira protagonista, responsável pela peripécia do romance.
            Chico Bento, compadecido com a situação dos companheiros, divide os alimentos que ainda lhe restam, salvando-os dessa humilhação. Essa atitude tipicamente do sertanejo não dá para dizer se são movidos pela fé, pela bondade ou ingenuidade, porque ele mesmo diante do flagelo acode o próximo sem resignação, é um gesto celestial.
 
 
- De que morreu essa novilha, se não é da minha conta?
Um dos homens levantou-se com a faca escorrendo sangue, as mãos tintas de vermelho, um fartum sangrento envolvendo-o todo:
- De mal-dos-chifres. Nós já achamos ela doente. E vamos aproveitar,  mode não dar para os urubus. (QUEIROZ: 2002, p. 39).
 
 
            Esta é a primeira cena que ela apresenta os retirantes em igual condição animalesca, disputando a carniça com os abutres para saciar a mais feroz de todas as misérias provocadas por ela, que é a fome:
 
- Chico, que é que se come amanhã?
A generosidade matuta que vem na massa do sangue, e Florência no altruísmo singelo do vaqueiro se perturbou:
- Sei lá! Deus ajuda! Eu é que não haveria de deixar esses desgraçados roerem osso podre... (QUEIROZ: 2002, p. 40)
 
 
             Quando Chico Bento e sua família saem do Logradouro em direção à capital, talvez jamais imaginou que fossem tragados pela seca ao ponto de perder sua conduta moral, aqui ele ouvindo estas palavras do dono da cabrita por ele abatida, percebe-se um pobre diabo vencido pelo espaço, sem forças para ir avante, diferente do Chico, (conferir no capítulo 7). A Cordulina gorda de antes, agora diante dos seus olhos definhada, tísica, sem forças.


Chico Bento perto olhava-a, com as mãos trêmulas, a garganta áspera, os olhos ofogueados.
- Cachorro! Ladrão! Matar minha cabrinha! Desgraçado! (...)
- Meu senhor, pelo amor de Deus! Me deixe um pedaço de carne, um taquinho ao menos que dê um caldo para a mulher mais os meninos! Foi pra eles que eu matei! Já caíram com fome!
- Tome! Só se for isto! A um diabo que faz uma desgraça como você fez, dar-se tripas é até demais!... (QUEIROZ: 2002, p. 65-66-67).
 
            Essa emigração tem o lado positivo e negativo. O primeiro, é que para muitos é a possibilidade de uma vida digna; o segundo, é desastroso tanto para o migrante quanto para o Estado que os recebe: o confronto da realidade da cidade grande que em vez de oportunidade, obriga-lhe ao sub-mundo, onde as consequências são piores do que as já vivenciadas na região da seca; para o Estado, o crescimento de todas as mazelas, como crescimento demográfico desordenado – favelas, periferias, aumento da criminalidade, atendimento precário na área de saúde, educação e cultura.
           Chico Bento demonstra aceitar a morte e a perda dos filhos, mas não a miséria que o cerca naquele campo de concentração. Para ele, o sensato a fazer é ir embora para o Amazonas, onde floresce o seringal como veículo de lucro certo, ignorando até mesmos os riscos de contrair febre amarela e outras pestes. Tudo que viesse seria melhor do que aquele ambiente decadente em que a seca o transformara.
              O Quinze aborda esse tema de forma indiscutível no desejo do vaqueiro:
 
- Minha comadre, quando eu saí do meu canto era determinado a me embarcar para o norte. Com a morte do Josias e a fugida do outro, a mulher desanimou e pegou numa choradeira todo dia, com medo de perder o resto... Eu queria primeiro que a senhora desse uns conselhos a ela; e ao depois que me arranjasse umas passagenzinhas pro vapor. Esse negócio de morrer menino é besteira... Morre quando chega o dia, ou quando Deus Nosso Senhor é servido de tirar... (QUEIROZ: 2002, p. 105-106).
 
 
            Conceição analisando no calor da discussão encontra a solução viável: ir para São Paulo. Devido ao enfraquecimento físico da família, sabia ela que não resistiriam a uma viagem até o norte: “Por que vocês não vão para São Paulo? Diz que lá é muito bom... Trabalho por toda parte, clima sadio... Podem até enriquecer”. (QUEIROZ: 2002, p. 107).
            Decisão acertada, cabe a ela providenciar as passagens – mais uma vez a autora dá autonomia à professora para percorrer os corredores do palácio, papel até então concedido aos homens, principalmente neste caso, onde precisaria de uma boa rede de contatos,  argumentação e influência:
            Enfim estavam na sua mão os papelinhos azuis:
 
 
 
COMPANHIA NACIONAL LÓIDE BRASILEIRO
3a CLASSE
UMA PASSAGEM
(QUEIROZ: 2002, p. 109).
 
 
            A leitura das passagens papéis que significavam muito mais que simples comprovantes para um embarque, era para ele o passaporte para uma vida melhor que sonhara dar para sua família. E diante dessa felicidade em conseguir, o que sem a ajuda da comadre seria impossível, o protagonista demonstra tristeza, não por estar indo embora, mas por não poder levar todos consigo. A fraternidade é uma constância na alma desse personagem, que nem mesmo a rudez da seca a arrancou da sua alma. Analisando do ponto de vista intimista o que mantém a energia do sertanejo é a religiosidade, é essa fé incondicional ou onde a condição é a vinda da chuva, uma esperança que protege e preserva sua identidade.
 
Setembro já se acabara, com seu rude calor e sua aflita miséria; e outubro chegou, com São Francisco e sua procissão sem fim, composta quase toda de retirantes que arrastariam as pernas descarnadas, os ventos imensos, os farrapos imundos atrás do pálido rico bispo, e da longa teoria de frades a entoarem em belas vozes a canção em louvor do santo: Cheio de amor, cheio de amor; as chagas trazes do redentor! (QUEIROZ, 2002, p. 122).
 
 
            Os sertanejos têm uma devoção transcendental nos santos, principalmente em São José – 19 de março comemora-se o seu dia – o padroeiro da chuva. É neles que essa gente se apega com todas as suas forças para suportar os longos períodos de estiagem. Nesse trecho, observa-se uma sutil ironia da autora em relação à igreja, bem ao estilo neo-realista de visionar os fatos para que o leitor tire suas conclusões, proposta também do grupo da semana de 22, como também é proposta desses movimentos, o veio folclórico brasileiro na ficção.
 
O Quinze como romance social, em que se denuncia uma fatalidade geopolítica, segundo um pensamento dialético que, contudo, não a exteriorizar-se. Obstante, a coerência e sutileza com que essa fundamentação ideológica é manuseada, basta para explicar que a obra se tivesse tornado uma espécie de arauto da ficção nordestina dos anos 30, especialmente daquela atraída pela problemática das secas e suas implicações socioeconômicas. (MOISÉS, 2005).
 
            O romance O Quinze, como já foi dito, é uma prosa crítica, que renovou a literatura, engajada nas questões sociais dos problemas da seca nordestina, mais precisamente no Ceará. Este engajamento da autora deu-se por motivo da mesma ter vivido este drama. Daí a veracidade de sua narrativa, denunciando o descaso e tentando conscientizar os leitores e as autoridades a quem de direito.
 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
    Os fatores externos e internos contribuíram de modo significante para as grandes transformações culturais do país. E todos os fatos são bem apresentados por meio dos escritores modernistas, que perceberam o que estava acontecendo na sociedade e, já indignados com a estagnação estética, romperam com todas as regras academicistas e “recriaram” a linguagem, os temas passaram a ser mais voltados para a realidade cotidiana e a crítica à sociedade aconteceu (e acontece atualmente) de forma personalizada.
            Neste romance a narrativa é feita de forma simples, sem rodeios vocabulares, sem tentativas de valorar ou julgar a seca ou os personagens, descrevendo suas ações sem sentimentalismos, mas antes pela exposição dos fatos, metaforizando-os. Entretanto, não sem permanecer a emoção que as cenas por si mesmas expõem e representam. Desse modo, como o que tematiza, O Quinze é sagaz. A história é contada a seco, e acaba junto à seca, restando apenas suas heranças. E nada se diz a respeito do futuro de Conceição e Vicente, e de Chico Bento e sua família. O que deixa a sensação de que a história não tem fim, fica insaciada, acabando mais abruptamente do que quando começa; perde a temporalidade. Então, só a seca permanece.
      Apesar da predominância da ideologia na obra de Rachel de Queiroz, os fatores levam a uma aproximação o que é fundamental, até mesmo para que se possa compreender melhor o que a autora esta mostrando; os acontecimentos que permearam as décadas de 20 e 30 no país e que de alguma forma refletem na sociedade atual.
 
REFERÊNCIAS
 
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Eletrônico versão 5.12
FRANCISCHETTO, Karina Ribeiro, MARIANO, Luciana, JESUS, Luciana Silva, BRITO, Maria da Conceição S. Clemente, PIVA, Rodrígo Frigerio. O QUINZE EM ANÁLISE. Faculdade Capixaba de Nova Vinécia- UNIVEN. Disposto em:
<http://www.univen.edu.br/revista/n009/O%20QUINZE%20EM%20AN%C1LISE.pdf> Acesso em: 26 / 08 / 2010.
INFANTE, Ulisses. Curso de literatura de língua portuguesa: volume único: ensino médio. São Paulo: Scipione, 2001.
MANTOLVANI, Rosangela Manhas. A literatura engajada de pepetela. (2005). Disposto em: <http://mantolvani-manhas.blogspot.com> Acesso em: 24 / 08 / 2010.
MOISÉS, Massaud. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo, Cultrix. 29a ed., 2005.
OLIVEIRA, Clenir Bellezir. Literatura sem segredos. Volume 11. São Paulo: Escala Educacional. 1a edição, 2007.
QUEIROZ, Rachel de. O quinze. Rio de Janeiro: José Olympio Editora Arx. 72a ed. 2002.
ALVES, Roberta Hernandes. As metáforas do seco – Regionalismo e gênero na obra de Rachel de Queiroz. Disposto em: http://www.apropucsp.org.br/ revista-cultura-critica/ 41-edição-n008/558-as-metaforas-do-seco-regionalismo-e-genero-na-obra-de-rachel-de-queiroz Acesso em: 27 / 08 / 2010. 

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