Pablo Ortellado
Por duas vezes Demétrio Magnoli se referiu a mim no GLOBO. Uma vez, acusando-me de ter “responsabilidade política e moral” pelas ações do Black Bloc; na outra, de ser uma das “fontes de inspiração do assassinato” do cinegrafista Santiago Andrade (“Nas franjas do Black Bloc”, 15/08/2013, e “Causa mortis”, 13/02/2014). Nas duas ocasiões o argumento foi o mesmo: eu teria responsabilidade sobre as ações do Black Bloc porque, ao esclarecer, em declarações e artigos na imprensa, a origem, o sentido e a motivação, eu estaria colaborando com eles e incentivando-os.
O que tenho a dizer sobre esse assunto é de natureza basicamente histórica e descritiva: o Black Bloc é uma tática que nasceu no movimento social alemão nos anos 1980 para proteger manifestações de rua da infiltração de agentes provocadores e da ação repressiva da polícia. Nos anos 1990, nos EUA, se reconfigurou como tática de destruição de propriedade privada com o intuito de capturar a atenção da imprensa e comunicar insatisfação com as empresas transnacionais que promoviam os acordos de livre-comércio.
O Black Bloc passou a destruir propriedade privada porque a tática então predominante nos EUA de desobediência civil não violenta já não funcionava mais. A desobediência não violenta consistia em descumprir pacificamente uma lei injusta e, quando o Estado reprimisse esse descumprimento, não resistir e assim chocar a opinião pública com as imagens da violência da polícia contra manifestantes. Foi assim que o movimento pelos direitos civis conquistou o fim da segregação racial nos anos 1960.
Nos anos 1990, o Black Bloc entendeu que essa tática já não funcionava mais porque a imprensa deixou de cobrir a violência policial e sem a exposição dessa agressão não havia impacto na opinião pública. Assim, o grupo propôs a destruição de propriedade privada de grandes empresas para resgatar a atenção dos meios de comunicação e comunicar sua oposição ao neoliberalismo. Tudo isso foi pensado dentro da tradição da não violência, já que implicava destruir coisas, mas nunca machucar seres humanos ou animais.
Explicar a gênese e o propósito do Black Bloc não é apologia, é ajudar a compreender o fenômeno. Mas apresentar seu sentido dificulta tratar esses manifestantes como jovens irracionais, como terroristas ou como bandidos. Entendê-los significa reconhecê-los como atores políticos e reconhecer também que a tática black bloc está muito relacionada com a violência da polícia e com o padrão de cobertura das manifestações pela imprensa.
Atacar quem quer jogar luz sobre esse fenômeno é querer continuar nas sombras. Afinal, apenas nas sombras é possível discutir o assunto no contexto da morte do cinegrafista quando as duas pessoas que dispararam o rojão já declararam que não fazem parte do Black Bloc. Apenas nas sombras é possível confundir a destruição de vidraças com o ataque a pessoas e considerar as duas ações violências equivalentes.
O que tenho a dizer sobre esse assunto é de natureza basicamente histórica e descritiva: o Black Bloc é uma tática que nasceu no movimento social alemão nos anos 1980 para proteger manifestações de rua da infiltração de agentes provocadores e da ação repressiva da polícia. Nos anos 1990, nos EUA, se reconfigurou como tática de destruição de propriedade privada com o intuito de capturar a atenção da imprensa e comunicar insatisfação com as empresas transnacionais que promoviam os acordos de livre-comércio.
O Black Bloc passou a destruir propriedade privada porque a tática então predominante nos EUA de desobediência civil não violenta já não funcionava mais. A desobediência não violenta consistia em descumprir pacificamente uma lei injusta e, quando o Estado reprimisse esse descumprimento, não resistir e assim chocar a opinião pública com as imagens da violência da polícia contra manifestantes. Foi assim que o movimento pelos direitos civis conquistou o fim da segregação racial nos anos 1960.
Nos anos 1990, o Black Bloc entendeu que essa tática já não funcionava mais porque a imprensa deixou de cobrir a violência policial e sem a exposição dessa agressão não havia impacto na opinião pública. Assim, o grupo propôs a destruição de propriedade privada de grandes empresas para resgatar a atenção dos meios de comunicação e comunicar sua oposição ao neoliberalismo. Tudo isso foi pensado dentro da tradição da não violência, já que implicava destruir coisas, mas nunca machucar seres humanos ou animais.
Explicar a gênese e o propósito do Black Bloc não é apologia, é ajudar a compreender o fenômeno. Mas apresentar seu sentido dificulta tratar esses manifestantes como jovens irracionais, como terroristas ou como bandidos. Entendê-los significa reconhecê-los como atores políticos e reconhecer também que a tática black bloc está muito relacionada com a violência da polícia e com o padrão de cobertura das manifestações pela imprensa.
Atacar quem quer jogar luz sobre esse fenômeno é querer continuar nas sombras. Afinal, apenas nas sombras é possível discutir o assunto no contexto da morte do cinegrafista quando as duas pessoas que dispararam o rojão já declararam que não fazem parte do Black Bloc. Apenas nas sombras é possível confundir a destruição de vidraças com o ataque a pessoas e considerar as duas ações violências equivalentes.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/black-bloc-na-sombra-11657043#ixzz2tua1JdHV
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