sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Crônica do Dia - Perguntas black bloc - Roberto Pompeu de Toledo

Caio Silva de Souza é um coitadinho? Fábio Raposo Barbosa merece o apelido The Fox? Que sino toca a Sininho? O advogado Jonas Tadeu Nunes veio para esclarecer ou para confundir? (Fotos: Ale Silva / Futura Press :: Simone Marinho / Ag. O Globo :: Fernando Frazão / ABr :: Marcos Tristão / O Globo)
 
 
 
O advogado Jonas Tadeu Nunes veio para esclarecer ou para confundir? Ele disse que o jovem Caio Silva de Souza, um dos disparadores do rojão que matou o cinegrafista Santiago Andrade, recebeu 150 reais para participar da manifestação, no centro do Rio de Janeiro, e que a prática de pagar valentões para engrossar as arruaças black bloc é corriqueira.

Jonas Tadeu Nunes tem seu escritório numa pequena sala no 2º andar de um centro comercial no Recreio dos Bandeirantes. Ao lado fica um cabeleireiro. Os preciosos detalhes levantados pela reportagem de O Globo ajudam a compor o personagem.
Ele diz ter entre a clientela atrizes e jogadores de futebol, mas não declina seus nomes. Certo é que já defendeu o ex-deputado estadual Natalino Guimarães, condenado por chefiar uma das milícias que infestam os subúrbios cariocas.
Se o advogado diz a verdade, joga a questão black bloc para o alto. Se é apenas uma tática de defesa, pode um
advogado vir deliberadamente para confundir?
Caio Silva de Souza é um coitadinho? Olhos baixos, palavras sofridamente balbuciadas, rosto de menino, ele era o retrato do desamparo, ao aparecer na GloboNews, entrevistado pela repórter Bette Lucchese. “Você acendeu o rojão?” “Acendi, sim”, diz, baixinho. “Depois você colocou o rojão perto da árvore?” “Eu nem sei, senhora.” O reverente “senhora” dirigido à repórter é um momento alto.
O meninão se desfaz em humildade. Ou estaria desempenhando um papel, sob a direção do advogado? Cenas da manifestação mostram-no desenvolto no enfrentamento com a polícia. Tem 22 anos, é muito pobre, mora em Nilópolis e trabalha como auxiliar de serviços gerais num hospital (leia-se: na limpeza). Parece aparvalhado. Dá dó.
Fábio Raposo Barbosa merece o apelido The Fox? Pela primeira vez nomes, sobrenomes e até apelidos surgem por trás das máscaras do Black Bloc. Fábio foi o primeiro a ser identificado como suspeito. Alegou que apenas passou o rojão a Caio, mas a perícia afirma que os dois o dispararam.
Tem os mesmos 22 anos, e está alguns degraus acima na escala social. Mora num apartamento de propriedade do pai, no Méier, e antes de ser preso se refugiu na casa da mãe, no Recreio dos Bandeirantes. Chegou a começar um curso de ciências contábeis. Hoje é tatuador (ou talvez não seja nada, segundo outra versão).
A raposa (The Fox) é um bicho astuto. Não está claro se Fábio é astuto. É também um bicho rápido. Ele foi rápido em entregar o companheiro.
Que sino toca a Sininho? Continuamos a subir na escala social. Elisa Quadros, de 28 anos, magrinha, cabelo
curtinho e bonitinha, fez curso de cinema e já trabalhou em produtora de vídeo. De junho para cá tornou-se ”ativista”, e basta. Esteve em todas. Chegou a ser detida quando os black blocs deram uma mão aos professores em greve.
Exerce liderança entre os manifestantes. Segundo o advogado Jonas Tadeu Nunes, ela teria procurado o deputado Marcelo Freixo para ajudar na defesa de seu amigo The Fox. Ela e Freixo negam.
Num vídeo no YouTube, Sininho culpa a Bandeirantes, assim como as demais emissoras, por lançar seus jornalistas no fogo das manifestações. “E aí, como fica nossa luta?” Que luta, Sininho? Pelo amor de Deus,
que luta?
A namorada que largou o Caio largou também o Black Bloc? Caio ligou para a namorada, assustado, quando soube que tinha sido identificado. Segundo a polícia, ela teve papel, importante, ao fazê-lo desistir da planejada – fuga e entregar-se à polícia.
A namorada não quer identificar-se. Os amigos, segundo a Folha de S.Paulo, dizem que ela é patricinha e mora na Zona Sul. Conheceu Caio em manifestações e já trabalhou na página do Black Bloc no Facebook. Eis-nos, ao que parece, mais um degrau social acima.
A namorada agora  diz que é “ex”. Seu encolhimento sugere uma batida em retirada também do blackbloquismo. Filósofos aloprados classificaram o Black Bloc de “uma estética”. Na atual versão assassina, revela-se um novelo de almas perdidas, confusão mental, desamparo, covardia, deserção, e talvez venda de mão de obra para arruaças.

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