A polícia está extraindo confissões. A imprensa burguesa cartelizada, a direita e até a mesmo o governo do PT condenam em uníssono os Black Blocs como "assassinos". O que está por trás da unanimidade?
Faleceu na tarde desta segunda-feira (10) o cinegrafista da rede Bandeirantes de televisão, Santiago Andrade, atingido por uma bomba na manifestação contra o aumento das passagens no Rio na última quinta-feira (6).
Desde o início o episódio está coberto por uma polêmica. Em meio às bombas usadas pela polícia contra os manifestantes, a imprensa (o canal a Globo News) afirmou que o cinegrafista tinha sido atingido por uma delas. O estado grave em que o funcionário da Bandeirantes se encontrou em seguida ao episódio fez as emissoras de televisão retificarem sua apreciação inicial. Procuraram, a partir daí, estabelecer um culpado.
A campanha da imprensa, atuando em uníssono para atribuir a culpa aos Black Blocs, deu amparo à ação da polícia que selecionou um culpado, o jovem Fábio Raposo, que coagido pela pressão da campanha foi à delegacia dar seu depoimento e se apresentar como uma das pessoas que teria manipulado a bomba que atingiu o cinegrafista. Raposo foi preso e está recolhido à penitenciária Bandeira Stampa.
Nesta segunda-feira, o delegado Maurício Luciano, do 17º DP (São Cristóvão) anunciou que o depoimento do jovem detido já forneceu à polícia o nome da pessoa que teria acendido o pavio e atirado o explosivo e que o pedido de sua prisão teria sido feito à Justiça.
Depois do anúncio da morte de Santiago, os dois acusados foram indiciados por homicídio doloso (com a intenção de matar) qualificado "pelo uso de artefato explosivo e crime de explosão", com penas previstas de até 35 anos de reclusão.
À reportagem do portal UOL, o delegado apresentou a versão da polícia: "houve intenção de matar ou ferir. Foi um homicídio intencional. Ele [o que acendeu] queria atingir policiais", disse, descartando que o alvo teria sido o cinegrafista. "O que a gente vê pelas imagens é que não foi um atentado à liberdade de imprensa", disse.
Desde o início o episódio está coberto por uma polêmica. Em meio às bombas usadas pela polícia contra os manifestantes, a imprensa (o canal a Globo News) afirmou que o cinegrafista tinha sido atingido por uma delas. O estado grave em que o funcionário da Bandeirantes se encontrou em seguida ao episódio fez as emissoras de televisão retificarem sua apreciação inicial. Procuraram, a partir daí, estabelecer um culpado.
A campanha da imprensa, atuando em uníssono para atribuir a culpa aos Black Blocs, deu amparo à ação da polícia que selecionou um culpado, o jovem Fábio Raposo, que coagido pela pressão da campanha foi à delegacia dar seu depoimento e se apresentar como uma das pessoas que teria manipulado a bomba que atingiu o cinegrafista. Raposo foi preso e está recolhido à penitenciária Bandeira Stampa.
Nesta segunda-feira, o delegado Maurício Luciano, do 17º DP (São Cristóvão) anunciou que o depoimento do jovem detido já forneceu à polícia o nome da pessoa que teria acendido o pavio e atirado o explosivo e que o pedido de sua prisão teria sido feito à Justiça.
Depois do anúncio da morte de Santiago, os dois acusados foram indiciados por homicídio doloso (com a intenção de matar) qualificado "pelo uso de artefato explosivo e crime de explosão", com penas previstas de até 35 anos de reclusão.
À reportagem do portal UOL, o delegado apresentou a versão da polícia: "houve intenção de matar ou ferir. Foi um homicídio intencional. Ele [o que acendeu] queria atingir policiais", disse, descartando que o alvo teria sido o cinegrafista. "O que a gente vê pelas imagens é que não foi um atentado à liberdade de imprensa", disse.
Defesa
O advogado de Fábio Raposo declarou que pretende descaracterizar a acusação de homicídio doloso que agora pesa sobre seu cliente. "Para nós, houve uma lesão corporal gravíssima seguida de morte. Não há homicídio porque não existiu a vontade livre e consciente de acender isso [o rojão] para atingir o jornalista", disse Jonas Tadeu. Para ele, Fábio e os demais envolvidos deveriam responder por dolo eventual. "Passar um rojão é bem diferente de uma arma de fogo, que com certeza pode lesionar".
A interpretação da lei pelos "homens da lei"
A polícia conseguiu, ao cabo de três dias, estabelecer o crime, a arma e os culpados. Mas, quem efetivamente fez o trabalho que, em tese, caberia à polícia, o da apuração dos fatos, foi a própria imprensa burguesa.
A partir da exibição das imagens da explosão em meio à manifestação e dos comentários de âncoras dos noticiários em todos os horários, a imprensa cartelizada, em uníssono, realizou ela mesma a "perícia" das imagens.
Foi também a mesma imprensa quem produziu as testemunhas, antes mesmo que procurassem a polícia. Os mesmos veículos (Globo, SBT, Band etc.) apresentaram diferentes versões e entregaram à polícia um caso filtrado, no qual basta apenas cumprir as formalidades que lhe cabem, como a prisão e a abertura do processo contra os dois acusados.
Mas a trama e a acusação que cai sobre os dois jovens identificados como Black Blocs estão em contradição. Segundo a polícia, foi homicídio doloso, com intenção de matar, um assassinato. Mas a intenção de matar, segundo o próprio advogado, estava dirigida contra a polícia, e não contra o cinegrafista. Isso não será usado para abrandar penas, pois a condenação já existe de antemão.
A polícia conseguiu, ao cabo de três dias, estabelecer o crime, a arma e os culpados. Mas, quem efetivamente fez o trabalho que, em tese, caberia à polícia, o da apuração dos fatos, foi a própria imprensa burguesa.
A partir da exibição das imagens da explosão em meio à manifestação e dos comentários de âncoras dos noticiários em todos os horários, a imprensa cartelizada, em uníssono, realizou ela mesma a "perícia" das imagens.
Foi também a mesma imprensa quem produziu as testemunhas, antes mesmo que procurassem a polícia. Os mesmos veículos (Globo, SBT, Band etc.) apresentaram diferentes versões e entregaram à polícia um caso filtrado, no qual basta apenas cumprir as formalidades que lhe cabem, como a prisão e a abertura do processo contra os dois acusados.
Mas a trama e a acusação que cai sobre os dois jovens identificados como Black Blocs estão em contradição. Segundo a polícia, foi homicídio doloso, com intenção de matar, um assassinato. Mas a intenção de matar, segundo o próprio advogado, estava dirigida contra a polícia, e não contra o cinegrafista. Isso não será usado para abrandar penas, pois a condenação já existe de antemão.
O produto da campanha: a condenação prévia
A campanha da imprensa tem um só objetivo: abafar a responsabilidade da polícia e dar lugar à intensificação da repressão às manifestações e à população em geral.
Com o julgamento feito fora dos tribunais, os que tanto clamam em favor da lei e da ordem não hesitam um instante ao passar por cima das instituições que dizem estar defendendo.
É o que diz a nota da Band, que acusa o "assassinato" e aproveita a ocasião para elevar o tom da campanha direitista contra as manifestações de rua:
"A tragédia que envolve a morte do cinegrafista Santiago Andrade – e que nos deixa arrasados diante da perda de um companheiro querido – é mais uma evidência de que a desordem está imperando nas ruas de nossas cidades. O desvairado que soltou a bomba assassina é um exemplar conhecido de baderneiro, como tantos que vêm espalhando o terror, infiltrados entre manifestantes. A força de reação que encontram não tem sido suficiente para intimidá-los. Pelo contrário, estão cada vez mais ousados e seguros nas suas ações violentas. A Band vai acompanhar e exigir, passo a passo, as investigações, o processo e a condenação desse assassino e de seu grupo. E, ao fazer isso, estará solidária não só com a família de Santiago Andrade. Mas com toda a família brasileira, que já não suporta viver cercada de tantas e variadas ameaças, sentindo-se numa terra de ninguém".
Mas não é só a imprensa burguesa, tradicionalmente conduzida pela direita, que adotou esse tom. Ela levou a reboque o governo do PT.
O secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, também já sabe a sentença: assassinato. "Quero aproveitar para manifestar a nossa profunda tristeza e solidariedade à família desse nosso companheiro que foi assassinado, vítima no Rio de Janeiro", disse de passagem pelo 6º Congresso Nacional do MST, realizado em Brasília.
E a própria presidente Dilma Rousseff não escapou às conclusões da imprensa que atua sistematicamente contra seu próprio governo. Apoiou a farsa determinando que a Polícia Federal auxilie nas investigações da Polícia Civil do Rio. Declarou ainda em seu "pronunciamento oficial", pelo microblog Twitter:
"A morte cerebral do cinegrafista Santiago Andrade, anunciada hoje, revolta e entristece. Não é admissível que os protestos democráticos sejam desvirtuados por quem não tem respeito por vidas humanas. A liberdade de manifestação é um princípio fundamental da democracia e jamais pode ser usada para matar, ferir, agredir e ameaçar vidas humanas, nem depredar patrimônio público ou privado. Determinei à PF que apoie, no que for necessário, as investigações para a aplicação da punição cabível".
Com o julgamento feito fora dos tribunais, os que tanto clamam em favor da lei e da ordem não hesitam um instante ao passar por cima das instituições que dizem estar defendendo.
É o que diz a nota da Band, que acusa o "assassinato" e aproveita a ocasião para elevar o tom da campanha direitista contra as manifestações de rua:
"A tragédia que envolve a morte do cinegrafista Santiago Andrade – e que nos deixa arrasados diante da perda de um companheiro querido – é mais uma evidência de que a desordem está imperando nas ruas de nossas cidades. O desvairado que soltou a bomba assassina é um exemplar conhecido de baderneiro, como tantos que vêm espalhando o terror, infiltrados entre manifestantes. A força de reação que encontram não tem sido suficiente para intimidá-los. Pelo contrário, estão cada vez mais ousados e seguros nas suas ações violentas. A Band vai acompanhar e exigir, passo a passo, as investigações, o processo e a condenação desse assassino e de seu grupo. E, ao fazer isso, estará solidária não só com a família de Santiago Andrade. Mas com toda a família brasileira, que já não suporta viver cercada de tantas e variadas ameaças, sentindo-se numa terra de ninguém".
Mas não é só a imprensa burguesa, tradicionalmente conduzida pela direita, que adotou esse tom. Ela levou a reboque o governo do PT.
O secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, também já sabe a sentença: assassinato. "Quero aproveitar para manifestar a nossa profunda tristeza e solidariedade à família desse nosso companheiro que foi assassinado, vítima no Rio de Janeiro", disse de passagem pelo 6º Congresso Nacional do MST, realizado em Brasília.
E a própria presidente Dilma Rousseff não escapou às conclusões da imprensa que atua sistematicamente contra seu próprio governo. Apoiou a farsa determinando que a Polícia Federal auxilie nas investigações da Polícia Civil do Rio. Declarou ainda em seu "pronunciamento oficial", pelo microblog Twitter:
"A morte cerebral do cinegrafista Santiago Andrade, anunciada hoje, revolta e entristece. Não é admissível que os protestos democráticos sejam desvirtuados por quem não tem respeito por vidas humanas. A liberdade de manifestação é um princípio fundamental da democracia e jamais pode ser usada para matar, ferir, agredir e ameaçar vidas humanas, nem depredar patrimônio público ou privado. Determinei à PF que apoie, no que for necessário, as investigações para a aplicação da punição cabível".
A provocação da direita
A campanha grotesca, que clama a cabeça dos Black Blocs pelo acontecido na manifestação, é uma provocação da direita e da imprensa capitalista para ocultar a responsabilidade da polícia.
Querem obscurecer os fatos jogando tudo o que têm (incluído e principalmente o monopólio das concessões estatais) contra dois cidadãos que participavam do protesto.
Ocultam toda a repressão policial, as dezenas de bombas atiradas contra manifestantes desarmados, e o número já costumeiro de feridos pela sua ação, para abrir o caminho para uma intensificação dessas ações repressivas.
http://pco.org.br/nacional/a-imprensa-capitalista-pede-a-cabeca-dos-black-blocs/aezy,b.htmlQuerem obscurecer os fatos jogando tudo o que têm (incluído e principalmente o monopólio das concessões estatais) contra dois cidadãos que participavam do protesto.
Ocultam toda a repressão policial, as dezenas de bombas atiradas contra manifestantes desarmados, e o número já costumeiro de feridos pela sua ação, para abrir o caminho para uma intensificação dessas ações repressivas.
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