Rio - O bloco socialista se desintegrou antes de completar um século. A União
Soviética se esfacelou, e os países que a compunham adotaram o capitalismo como
sistema econômico e sinônimo de democracia.
Tudo aquilo que o socialismo pretendia e que, em certa medida, alcançara —
redução da desigualdade social, garantia do pleno emprego, Saúde e Educação
gratuitos e de qualidade, controle da inflação, etc. — desapareceu para dar
lugar a todas as características desumanas do neoliberalismo capitalista: a
pessoa encarada não como cidadã, e sim como consumista; a exploração da força de
trabalho e a apropriação privada da mais-valia; a especulação financeira; a
degradação da condição humana através da prostituição, da criminalidade e do
consumo de álcool e drogas.
É dever de todos que se consideram de esquerda se perguntar quais as causas
do desaparecimento do socialismo na Europa. Foram várias, entre as quais destaco
uma de caráter subjetivo, ideológico: o papel do educador na formação de seus
alunos.
Nascemos todos autocentrados. “O amor é um produto cultural”, teria dito
Lênin. Resulta do desdobramento de nosso ego, o que se obtém através de práticas
que infundam valores altruístas, gestos solidários, ideais coletivos pelos quais
a vida ganha sentido, e a morte deixa de ser encarada como fracasso ou derrota.
Este o papel do educador: não apenas transmitir conhecimentos, facilitar
pedagogicamente o acesso ao patrimônio cultural da nação e da humanidade, mas
também suscitar no educando o espírito crítico, a atitude ética, a busca do
homem e da mulher novos em um mundo verdadeiramente humanizado.
Isso jamais será possível se não se propicia ao magistério um processo de
formação permanente. Estamos todos sujeitos às influências nocivas que
satisfazem o nosso ego e tendem a nos imobilizar quando se trata de correr
riscos e abrir mão de prestígio, poder e dinheiro. Jamais haverá um sistema
social no qual a ética se destaque como virtude inerente a todos que nele vivem
e trabalham.
O mais importante é o trabalho pedagógico, tarefa na qual os professores
desempenham papel preponderante por lidar com a formação da consciência das
novas gerações. O papel número um do educador não é formar mão de obra
especializada ou qualificada para o mercado de trabalho. É formar seres humanos
felizes, dignos, dotados de consciência crítica, participantes ativos no desafio
permanente de aprimorar a sociedade e o mundo em que vivemos.
Frei Betto é autor de ‘Alfabetto: Autobiografia Escolar’ (Ática)
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