Também via Twitter, o presidente do Peru condenou a atitude da torcida do Real Garcilaso
O som de macacos na arquibancada a cada toque na bola fez o futebol perder de goleada na noite em que o Cruzeiro tomou 2x1 do Real Garcilaso, anteontem, na cidade de Huancayo, no Peru. O alvo do racismo dos torcedores peruanos era Tinga, volante do Cruzeiro, que lamentou o ocorrido.
“Eu queria não ganhar todos os títulos da minha carreira e ganhar o título contra o preconceito. Trocaria por um mundo com igualdade entre todas as raças e classes”, declarou Tinga logo após o jogo. “Fico chateado com isso em pleno 2014, um país tão próximo da gente. Joguei alguns anos na Alemanha e nunca aconteceu isso e acontece aqui, em um país tão próximo, cheio de mistura”, lembrou ainda no Peru, país que tem como maior ídolo no futebol o negro Cubillas, da seleção de 1970, que tinha o brasileiro Didi, também negro, como técnico.
Foto: AFP
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Tinga, embora nunca tenha sido vítima de racismo na Europa, onde isso ainda é comum, já tinha sentido o preconceito na pele em 2005, quando jogava no Inter, e a torcida do Juventude fez o mesmo.
A discriminação surpreendeu e indignou o jogador, mas não apenas ele. Gerou revolta de cruzeirenses, posicionamento da presidente Dilma Rousseff, da diretoria da CBF, do presidente da Fifa Joseph Blatter e até do sempre irônico em relação ao time rival, o presidente do Atlético Mineiro, Alexandre Kalil. “Racismo na Libertadores? Me tiraram o prazer da derrota do Cruzeiro. Lamentável!”, escreveu o dirigente em seu perfil no Twitter.
Na mesma rede social, o assunto repercutiu tanto que, ontem, a hashtag “FechadoComOTinga” esteve como o tópico mais citado no Brasil.
Também via Twitter, o presidente do Peru condenou a atitude da torcida do Real Garcilaso. “Um país tão diverso como o nosso e que fortalece sua identidade com todas suas culturas não deve admitir reações racistas de nenhum tipo”, escreveu Ollanta Humala.
Goleiro do Real Garcilaso, Juan Pretel pediu perdão. “O racismo é repudiável em todo sentido. Espero que não volte a ocorrer em um estádio e muito menos no Peru. Perdoem, amigos brasileiros”.
A diretoria do Cruzeiro cobra punição ao time peruano. O regulamento da Libertadores prevê desde multa até eliminação da competição. A Conmebol afirmou que “analisará possíveis sanções. Pedimos tranquilidade aos torcedores do Cruzeiro. Sabemos que é repudiante”.
Outros atos racistas no futebol
DIEGO MAURÍCIO
Peru é reincidente. Em 2011, pelo Sul-Americano sub-20, o atacante Diego Maurício também ouviu sons de macaco.
ROBERTO CARLOS
Banana na Rússia. O lateral brasileiro atuava no Anzhi, em 2011, quando um torcedor jogou banana no campo. Roberto saiu do jogo.
ANTÔNIO CARLOS
De brasileiro pra brasileiro. Antônio Carlos Zago, pelo Juventude, esfregou o braço, em gesto racista para o negro Jeovânio, do Grêmio.
GRAFITE
Libertadores 2005. Acusado de chamar Grafite de macaco, o argentino Desábato saiu do Morumbi pra cadeia e ficou dois dias preso.
BALOTELLI
Jogo paralisado. Em 2013, o juiz pausou o jogo entre Roma e Milan por causa de insultos da torcida ao atacante rubro-negro.
Manifestações no Twitter
"Não foi só o Tinga que sofreu. Fomos todos nósl!! ‘Comparto’ com o Tinga quando ele disse que trocaria todos os seus títulos pelo fim disso." (Roberto Carlos, ex-lateral da Seleção).
"#Tamojuntotinga" (Neymar, atacante do Barcelona).
"No to racism! #FechadoComOTinga" (Dante, zagueiro do Bayern).
"Muito triste pelo que aconteceu com meu parceiro @PauloCesarTinga na Libertadores. Incrível como isso ainda existe no futebol" (Ronaldinho Gaúcho, meia do Atlético-MG).
"Todos nós somos iguais aos olhos de Deus! #FechadoComOTinga #SomosIguais #NoRacism (David Luiz, zagueiro do Chelsea).
"#FechadoComOTinga" (Ronaldo Fenômeno, eterno camisa 9 do Brasil).
"Racismo na Libertadores? Me tiraram o prazer da derrota do Cruzeiro. Lamentável!" (Alexandre Kalil, presidente do Atlético-MG).
"A Fifa é contra todo ato de discriminação". (Joseph Blatter, presidente da Fifa).
"Foi lamentável o episódio de racismo contra o jogador Tinga. O esporte não deve ser jamais palco para o preconceito." (Dilma Rousseff, presidente do Brasil).
"Um país tão diverso como o nosso não deve admitir reações racistas de nenhum tipo" (Ollanta Humala, presidente do Peru).
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