Como uma Olimpíada de Língua Portuguesa pode estimular a leitura e a escrita, e ajudar a reverter os péssimos indicadores de português do País
Somente metade da população brasileira tem o hábito de ler livros. Entre essas pessoas, a média de leitura é de duas obras inteiras por ano. Nossa taxa de analfabetismo entre jovens e adultos é de 8,7%, número que pula para 18,3% quando se trata de analfabetos funcionais. O País ainda amarga o 55º lugar no ranking de leitura do Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Alunos), estando à frente só de dez países. Num cenário como esse, em que fica evidente a falta de estímulo e valorização do ensino de Língua Portuguesa, esforços para a celebração do conhecimento devem ser vistos como um importante passo para promover uma nova realidade que permita a melhoria desses números. Se depender dos milhões de alunos que devem participar das Olimpíadas de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, há esperança. O concurso, realizado pela Fundação Itaú Social e pelo Ministério da Educação, lança sua quarta edição na segunda-feira 24 e se firma como um programa que estimula estudantes do ensino fundamental e médio de escolas públicas a se envolverem cada vez mais com a língua.
FOCO
Oficina de ensino em Belo Horizonte, parte do programa
das Olimpíadas de Língua Portuguesa
Oficina de ensino em Belo Horizonte, parte do programa
das Olimpíadas de Língua Portuguesa
Para Sineudo Pedro dos Santos, 24 anos, finalista regional na última edição das Olimpíadas, em 2012, a experiência abriu muitas portas. “Depois que participei, senti que é possível chegar mais longe”, diz. A afirmação ganha ainda mais peso por causa da sua trajetória. Santos saiu do Ceará e mudou-se para Tamboara, no Paraná, em 2010, para trabalhar em lavouras de cana. Como ainda faltava cursar o último ano do ensino médio, decidiu voltar para a escola dois anos depois. Para conseguir uma boa nota em Língua Portuguesa, escreveu um texto sobre sua própria realidade: a de um cortador de cana nordestino vivendo no interior paranaense. Foi selecionado pela escola e ficou entre os finalistas. “O reconhecimento foi grande. Até ganhei uma bolsa de estudos em uma universidade”, conta. A professora de Santos, Vanicléia de Oliveira Sousa Rebelo, reitera o impacto positivo do projeto. “Muda a vida do aluno. Ele se sente valorizado e passa a dar muito mais importância ao aprendizado”, afirma.
DEDICAÇÃO
A potiguar Taiana Cardoso Novais foi uma das vencedoras da edição de 2012."Meu sonho é ter uma biblioteca em casa"
A potiguar Taiana Cardoso Novais foi uma das vencedoras da edição de 2012."Meu sonho é ter uma biblioteca em casa"
Do Norte e do Nordeste vêm outros dois exemplos. Taiana Cardoso Novais, do Rio Grande do Norte, foi uma das vencedoras das Olimpíadas em 2012. “Sempre gostei muito de ler e de escrever e fiquei bastante empolgada com a possibilidade de participar do concurso”, afirma Taiana. Hoje com 18 anos, ela faz faculdade de engenharia de produção e, sempre que pode, usa seu tempo para escrever artigos e crônicas, seus gêneros favoritos. “Mas também sou apaixonada por livros. Meu sonho é montar uma biblioteca em casa.” Outra ganhadora da última edição, Ana Lina Souza de Oliveira, 18 anos, diz que viu no evento uma maneira de fazer com que outras pessoas conhecessem a hidropirataria, um dos dramas de Macapá, cidade onde vive. “É uma polêmica local. Navios cargueiros internacionais abastecem seus reservatórios com água do rio Amazonas, levando várias espécies aquáticas. Fiquei orgulhosa por levar esse assunto para conhecimento nacional”, afirma.
PREMIADA
Ana Lina Souza de Oliveira, de Macapá, foi a Brasília para
receber a medalha na categoria "artigo de opinião"
Ana Lina Souza de Oliveira, de Macapá, foi a Brasília para
receber a medalha na categoria "artigo de opinião"
Na opinião de Patrícia Mota Guedes, gerente de Educação da Fundação Itaú Social, um dos benefícios do projeto é justamente fazer com que o aluno se volte para sua própria realidade, conhecendo melhor o lugar onde vive. “As produções são muito ricas e têm um retorno positivo para a comunidade”, diz. Patrícia ainda destaca o programa de formação continuada dos professores que se inscrevem nas Olimpíadas. “São disponibilizados materiais para que sejam trabalhados os gêneros textuais em sala de aula de maneira dinâmica.” Priscila Cruz, diretora-executiva da Todos Pela Educação, acredita que um dos grandes funis de aprendizado em língua portuguesa se dá entre o final do ensino fundamental e o ensino médio. “Na primeira etapa da educação, voltada à alfabetização, há muito progresso. Mas depois os índices de aprendizado caem muito. Por isso, trazer novos estímulos, como é o caso das Olimpíadas, é uma maneira de melhorar o desempenho dos estudantes.”
Fotos: Eugenio Savio; Pablo Pinheiro; Bernardo Monteiro Rebello
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