Estamos num reinado de insatisfação e descrédito em que só
alguns dançam a ciranda da riqueza
Rio - Todos os acontecimentos que estamos vivendo nos últimos dias detonam
nosso cotidiano emocional. É fato incontestável. Somos as pessoas do
contemporâneo, atingidas por situações que fogem ao nosso controle, que produzem
inquietude, tristeza, indignação, revolta... e que não podem ser aplacadas. Os
episódios se repetem e apontam para a crise de autoridade, de gestão, de
corrupção, de ética, de doença mental pública. A sociopatia reina!
A queda da passarela na Linha Amarela, por conta do caminhão que trafegava em
horário e condições inadequadas, numa via monitorada por câmeras, é
inadmissível. A presidenta Dilma, em viagem com comitiva, gastando nosso
dinheiro a rodo, idem! É triste ver suas fotos em jornais com a fisionomia
alegre. O trem que descarrilhou na SuperVia mostra o descaso com a população,
com a vida do trabalhador que faz este estado acontecer. Essa turma que pega no
pesado precisa ser bem tratada!
O caos não para: o trânsito da cidade, por conta da decisão de desmontar a
Perimetral — feita para ser a resolução do tráfego da cidade do Rio em décadas
passadas — parece atender mais às necessidades de faturamento do poder público
do que à vida do carioca. Deveriam ter feito plebiscito para apurar se isso era
um desejo da população. Mas não!
Voltemos ao mal-estar. Atento para o clima reinante na cidade em consequência
desses últimos ocorridos, o que fica em cada um de nós? Como nos sentimos? Os
pensamentos e esperanças? Somos todos os sujeitos da desilusão, do descaso.
Reféns de uma polícia corrompida, de uma Justiça lenta, uma indústria de multas
covarde que nos surpreende pelo correio com a chegada delas. E nós, pobres de
nós, sem recurso.
Quem já foi chamado de Brasileiro Profissão Esperança, num show décadas
atrás, creio que já mudou de profissão. Quando o homem perde a esperança e a
capacidade de sonhar, a situação se mostra perigosa, como refletem esses dias em
que vivemos. Somos os desesperançados do século 21, nessa terra sitiada por
corruptos, às vésperas de uma Copa do Mundo que nem sabemos como será possível
acontecer.
Há uma tristeza no ar, uma angústia, melancolia no cidadão que acorda a cada
dia para ganhar sua vida. Estamos num reinado de insatisfação e descrédito em
que só alguns dançam a ciranda da riqueza, do morar bem e da vida fácil, mas às
custas do povo, da arrecadação perversa não revertida em serviços aos que pagam
e que, por direito, merecem receber! Isso é antigo, não há nada de novo, velha
estratégia. E nós? Nos tornamos os garimpeiros das ilusões perdidas nesses
tristes dias da Cidade Maravilhosa...
Fernando Scarpa é psicanalista
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